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[ 24 de janeiro, segunda-feira ]






  — Oi, casal — Ariana cumprimenta, entrando na cozinha com um sorriso alegre. 

  Castiel e eu resolvemos dar uma passada em casa para que eu trocasse de roupa e para comermos alguma coisa, antes de irmos ao parque — nenhum de nós está a fim de gastar com comida. Felizmente, a mamãe preparou uma torta de frango deliciosa. Olho para a minha irmã com desconfiança enquanto me sirvo de um pedaço. 

  — Greene — Castiel cumprimenta de volta de onde está, sentado à mesa, com a boca cheia. 

  — Você parece feliz — comento. 

  — E estou. 

  — Por que? 

  Termino de me servir e me viro de frente para ela, que está se servindo de um copo de suco. Ana dá de ombros. 

  — Por que eu não estaria? Tenho uma boa família, amigos legais, vou bem na escola… 

  — Transou com alguém no fim de semana? 

  — Não. Eu e o Lys fomos ao cinema, depois viemos para cá e fizemos skincare e hidratação no cabelo. 

  — Nossa senhora — Castiel murmura. — Não é à toa que aquele idiota está na friendzone.

  Pego uma azeitona no meu prato e atiro nele. O ruivo exibe um sorriso nada arrependido enquanto morde o pequeno fruto verde. Minha irmã franze as sobrancelhas, então me apresso em mudar de assunto. 

  — Tem certeza de que essa alegria toda não tem nada a ver com o fato de a Rosalya ter ido embora? 

  — Desculpe, quem? 

  — Você sabe quem. A amiga do Leigh, da qual Lysandre falou muito bem e te deixou mordida de ciúmes. 

  — Eu não tenho ciúme do Lys. 

  — Ah, qual é? Você sempre diz que me conhece porque dividimos o útero e não sei o que mais. Pois bem, eu também te conheço — constato. — E notei seu jeito enquanto ele a elogiava. 

  — Tudo bem, talvez eu tenha ficado um pouco incomodada. E daí? Muita gente sente ciúme dos amigos. 

  Dito isso, ela pega o copo de suco e sai da cozinha. Balanço a cabeça; é inacreditável. 

  — Esses dois são as pessoas mais tapadas que já vi — Castiel declara.

  Torço os lábios, pego um garfo no escorredor de louça e vou me sentar ao lado dele. 

  — Deixa isso pra lá. Que história é essa de chamar minha irmã de Greene? 

  — Qual o problema? É o sobrenome dela. 

  — Eu pensei que essa fosse uma forma carinhosa de me chamar. 

  — Já a chamei assim antes e você não se importou. 

  — Antes eu não gostava de você. 

  Castiel me olha de esguelha, engole o pedaço de torta que estava mastigando e se vira com um sorrisinho provocador. 

  — Não me diga que está com ciúmes. 

  — Não, só estava pensando — dou de ombros, cutucando minha fatia de torta com o garfo. — Nós somos idênticas mesmo, por que deveríamos ter apelidos diferentes? 

  — Tá bom, primeiro: Greene nem é um apelido, é o nome de vocês. Segundo: vocês não são idênticas para mim. Eu poderia facilmente diferenciá-las de olhos fechados, pela voz ou pelo toque. 

  — Como? 

  — Pela forma como meu corpo reage a você. 

  — Está inventando — desvio o olhar, ruborizando levemente. 

  — Não estou, não. Você pode não notar, mas só te ouvir dizer meu nome me faz estremecer. Também tem toda a questão da linguagem corporal de vocês, mas isso não vem ao caso agora. Além disso — ele se debruça sobre a mesa para chamar minha atenção. —, Greene nunca foi meu apelido carinhoso pra você. Garotinha é. 

  Sorrio. 

  — Talvez eu deva te dar um apelidinho também, tipo “ docinho ” ou “ bebê ”. 

  — Isso acabaria com a minha reputação. E mais, se me chamar de bebê vai ter que me dar de mamar. 

  Alguém limpa a garganta e nós olhamos sobressaltados, encontrando meu pai na porta. Ele nos lança um olhar descontente e silenciosamente se serve de um pedaço de torta. Em nenhum momento o papai ou nós dizemos alguma coisa, deixando que o único som na cozinha seja o de pratos e talheres. Quando ele se retira Castiel enterra o rosto nas mãos. Solto uma gargalhada. 

  — Está fazendo um bom trabalho em fazer meu pai gostar de você. 

  — É melhor irmos logo pro parque, antes que seu pai resolva me perseguir com uma tesoura. 

                                        °

  São oito e meia quando nos encontramos com os rapazes no parque, e quase onze quando terminamos tudo. Os fotografo na frente de vários brinquedos e sentados em bancos. Tiro fotos de todos juntos e de cada um, individualmente. Temos quase cem imagens no final, o que pode ser um exagero, mas os resultados foram bons e podemos usá-las nas redes sociais também. Os garotos foram ótimos modelos, apesar do leve constrangimento por estarmos em público, e os figurinos que escolheram se encaixaram muito bem. 

  Embora esteja tarde e todos tenhamos que acordar cedo amanhã para estudar, trabalhar ou por qualquer outro motivo, nós procuramos uma sorveteria que ainda esteja aberta e comemos casquinhas enquanto os garotos vêem as fotos.
 
  — Eu tenho que dizer, você manda bem mesmo — Jake elogia. — Até conseguiu fazer o Mark ficar bonito. 

  — Qual é? — o ruivo reclama. 

  — Todos saímos bem nas fotos — Keith diz. — Mas eu sou obviamente o visual dessa banda. Homens ou mulheres, todos serão atraídos até nós pelo meu rostinho angelical. Arrasou como sempre, Arianinha. 

  Ele ergue a mão para um high five, que eu retribuo orgulhosamente. 

  — Espero que o pessoal da revista também goste — falo. 

  — Vão gostar, tenho certeza. Se não gostarem, nós fazemos nossa própria revista e saímos distribuindo por aí. 

  — Aí… a ideia não é ruim. 

  Todos olhamos para Keith em dúvida. 

  — Não vamos fazer uma revista — Jake declara.
 
  — Não, não, eu quero dizer que deveríamos panfletar. Podemos organizar um show num local aberto e cobrar umas dez pratas por entrada. A gente pega umas fotos, faz panfletos e entrega por aí, como faziam antigamente. 

  Nós trocamos olhares pensativos. Eu acho a ideia muito boa e digo isso. A Crowstorm já é um pouco conhecida por conta dos posts no Instagram e dos shows em festas universitárias, mas uma apresentação num lugar público traria ainda mais visibilidade. Mesmo quem não pagasse pela entrada poderia ouvi-los. 

  — Precisaríamos de permissão do prefeito pra fazer um show a céu aberto — Castiel diz. — Mas podemos tentar naquela casa de shows no centro. A gente vê quanto fica e tenta recuperar a grana com o dinheiro das entradas. 

  — Boa ideia! Mas e se poucas pessoas aparecerem? 

  — Temos que ser positivos. Precisamos nos arriscar se quisermos chegar a algum lugar. 

  — Tá… Tudo bem. Vamos nessa — Mark concorda, sorrindo com determinação. — Vamos fazer isso quando a edição da i-D sair. Talvez consigamos nos apresentar de graça se nos virem numa revista famosa. 

  — Vai dar certo! — Keith grita empolgadamente, fazendo com que os outros comemorem também.
 
  Meu olhar se encontra com o de Castiel e ele sorri e desfere um beijo estalado na minha bochecha, me fazendo sorrir também. É tão bom vê-los animados assim que pago mais uma rodada de sorvete para todo mundo. 

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