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[ 23 de março, terça-feira ]







    — Obrigada por me acompanhar — digo quando minha irmã entra no carro. — Eu morreria de vergonha de fazer isso sozinha, mas com você lá eu posso fingir que as coisas são suas.

    — Ari, você vai comprar lingerie. Ninguém vai te condenar por querer parecer sexy.

    — Podem não condenar, mas vão julgar fortemente por eu ser adolescente. O senhorzinho da farmácia me olha torto sempre que compro preservativos, como se eu fosse uma meretriz ou sei lá. Tenho vontade de enfiar a cabeça num buraco.

    — Meretriz — ela dá uma risadinha. — O Lys também usa essa palavra. Não ligue pra essa gente, maninha, nenhum deles paga as suas contas. Eu fiquei surpresa por pedir minha ajuda, você é sempre tão reservada quando se trata de sexo.

    — Não vamos falar sobre sexo — determino. — Só quero que me ajude a escolher um conjunto bacana; você é bem melhor nisso do que eu. Depois de um mês sem chegar, de fato, aos finalmentes, quero fazer uma coisa diferente. Também porque ontem foi nosso aniversário de namoro, e hoje os garotos foram gravar a demo.

    — Isso merece uma comemoração em grande estilo.

    — Eu quero algo sensual com classe, nada daquelas calcinhas com frases ridículas.

    — Já considerou usar uma fantasia? Tipo coelhinha ou enfermeira. Castiel é um músico, então poderíamos fazer algo punk rock sexy, como o estilo da Avril Lavigne em Girlfriend. Ou uma coisa mais princesinha pop, tipo a Olívia Rodrigo ou a Britney Spears nos anos 2000.

    — Eu duvido que o Castiel saiba quem é Olívia Rodrigo — digo, parando em um sinal vermelho. — E acho que me sentiria meio idiota com uma fantasia. Me ver com uma calcinha sem desenhos estampados já o deixará surpreso o suficiente.

    — Tudo bem, nada de fantasias. Mas você pediu minha ajuda, então terá que confiar em mim e me deixar escolher a lingerie.

    — Tá, mas temos que ser rápidas. Não sei a que horas a gravação termina.

    Encontro uma vaga no estacionamento com bastante facilidade, visto que é terça-feira e poucas pessoas estão no shopping. Deixo que Ariana me conduza até uma loja no primeiro andar; sei que há, pelo menos, outras três ou quatro lojas de lingerie espalhadas pelo edifício — talvez mais. Uma vendedora sorridente com tranças compridas se oferece para nos ajudar, e minha irmã explica a situação para ela. Sinto meu rosto arder.

    Somos levadas mais para o fundo do estabelecimento, e noto alguns acessórios durante o caminho, como algemas felpudas, correntes, chicotes e coleiras. Minha nossa, não sei se vão me vender alguma coisa ou me amarrar e torturar. Quando alcançamos nosso destino, a vendedora diz que podemos chamá-la a qualquer momento e vai embora. Dou uma olhada nas peças expostas, e fico envergonhada só de me imaginar usando qualquer uma delas. Ariana pega um dos cabides e me mostra.

    — Nem em um milhão de anos — recuso, antes que ela fale alguma coisa. — Essa coisa nem pode ser chamada de calcinha, a parte de trás é literalmente só um fio. Quem pagaria por isso? É mais fácil ficar pelada de uma vez.

    — Fios-dentais são sensuais.

    — Eu não vou pagar trinta dólares por uma tira de pano. Não. Gosto de usar meu dinheiro em coisas que levem um pouco mais de tecido.

    Ariana revira os olhos enquanto devolve o cabide para o suporte de metal.

    — Se depender de você, vamos acabar comprando ceroulas e um camisetão.

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