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[ 11 de maio, segunda-feira ]





  — Foi aprovada? Isso é demais, Ari! — Lysandre exclama e morde seu sanduíche. Estamos sentados na arquibancada do campo de futebol, lanchando. — Fico muito feliz por você.

  — Obrigada — sorrio. — Íamos fazer uma festinha no sábado para comemorar, mas acabou não rolando. A Crowstorm teve uma reunião com o senhor Yang. E você, já recebeu uma resposta da universidade?

  — Sim, mas me sinto perdido. Me candidatei para cinco faculdades e fui aceito em três.

  — Incrível, porém nada surpreendente. Eles seriam malucos se não te aceitassem.

  — Obrigado. O problema é que não sei para qual eu deveria ir — suspira. — Seria bom ficar na cidade porque meu irmão e a Ana estão aqui, mas uma das universidades que me aprovou foi Stanford e soube que lá é incrível.

  — Stanford? — quase me engasgo com o achocolatado. — Lys, isso é fantástico! Stanford está no ranking de melhores faculdades do país, eles são super seletivos.

  — Eu sei e me sinto super honrado, principalmente porque não pratico nenhum esporte na escola. A questão é que...

  — Fica na Califórnia.

  — É. São treze horas de viagem — ele desvia o olhar, brincando com o canudo da caixinha de suco. — Não sei, Ari... Quer dizer, é uma oportunidade maravilhosa, mas é tão longe! Vou ficar ainda mais distante dos meus pais, vou ficar longe do Leigh, da Ana, de você. Me sinto solitário só de pensar. Mal faz um ano que vim morar nessa cidade, não estou certo se quero ou se deveria ir embora.

  — É uma decisão difícil. Não consigo me imaginar vivendo sozinha em outra cidade, principalmente em uma tão distante, mas você precisa pensar muito bem, Lys. Seria só por quatro anos. Nós poderíamos te visitar e você poderia vir nos ver também.

  — Acho que sim, mas as visitas seriam poucas e muito breves. Eu teria que arranjar um emprego. Leigh até se ofereceu para ajudar financeiramente, mas não posso depender dele para sempre.

  — É bom ter seu próprio dinheiro — concordo. — Onde fica a outra faculdade que te aceitou?

  — Connecticut.

  — Não me diga que foi aprovado em Yale também!

  — Não — ele ri. — Seria sorte demais. Não sou tão bom aluno assim.

  — Por que se candidatou para faculdades tão distantes se está com receio de partir?

  — Porque são instituições muito prestigiadas e, não sei, não pensei que fossem me aceitar.

  — Não conhece sua própria capacidade — sorrio, empurrando seu joelho com o meu. — Bom, seja como for, você vai se dar bem em qualquer faculdade que escolher. A gente pode até se ver bastante se optar pela Northwest.

  — Seria legal começar essa nova fase com uma amiga.

  — Concordo totalmente. Poderíamos fazer algumas matérias do currículo básico juntos. Já sabe no que quer se graduar?

  — Ainda não. Por sorte só precisamos nos decidir de verdade depois de dois anos. Quero aproveitar a oportunidade para tentar várias matérias diferentes.

  — É uma boa ideia. É bacana experimentar coisas novas.

  — Ah, aí está você — viramos a cabeça para encontrar o Castiel descendo as escadas em nossa direção. — Estava procurando um coelho e encontrei dois. Por que estão tão escondidos?

  — Escondidos? Estamos literalmente em campo aberto — Lysandre replica.

  — Desculpa, eu dei a impressão de que estava falando contigo?

  — Agradável como sempre.

  Castiel passa por Lysandre e se senta ao meu lado, meio que me envolvendo com suas pernas. Lhe dou um beijinho e ofereço um cookie, que ele aceita.

  — Como foi a reunião? Pensei que não fosse vir para a escola hoje.

  — É melhor não dar motivos para me reprovarem — ele toma um pouco do meu achocolatado e olha pro Lysandre. — Eu cheguei, viu? Essa é sua deixa pra se mandar.

  — Desculpe, minha presença te incomoda?

  — Sempre.

  — Que pena — Lysandre dá de ombros e come uma das batatas fritas que acompanhamento seu lanche. — Eu cheguei primeiro, então os incomodados que se mudem.

  — Eu posso te tirar daqui a força.

  — Sinta-se à vontade para tentar. Vai ter que me pegar no colo se quiser fazer isso, e esse será o ponto alto do meu dia.

  Castiel emite um aff e Lysandre esboça um sorrisinho satisfeito.

  — Enfim, o que queriam discutir com você? — pergunto.

  — Querem que eu mude a cor do meu cabelo.

  — O que? Por que? Você usa essa cor há uns quatro anos, fica lindo.

  — Eles acham que vai me ajudar a criar uma identidade, ou sei lá, porque o Mark já é ruivo.

  — O cabelo do Mark é laranja, o seu é vermelho. Não tem nada a ver.

  — E o Mark é pequeno e fofo, enquanto você parece um delinquente juvenil — Lysandre constata. — Tenho certeza que sua identidade visual está a salvo.

  — A questão é que a Crowstorm ainda não é uma banda super famosa e influente, então temos que acatar todas as " recomendações " que nos fazem. Vão me deixar escolher a cor da tinta, mas tenho que mudar o cabelo de qualquer forma.

  — Ao menos não querem que você corte — tento consolá-lo, acariciando as madeixas cor de sangue. — Talvez você até goste da mudança. Pode ser bom. Qual cor escolheu?

  — Nenhuma ainda. Vão me mostrar algumas opções na quinta.

  — Escolhe cinza, assim pareceremos o gêmeo bom e o gêmeo mau.

  — Eu prefiro morrer — Castiel rosna.

  Lysandre se levanta, segurando suas embalagens vazias, e sorri.

  — Cuidado com o que deseja, Castielzinho. Te vejo na aula, Ari.

  Apenas observamos enquanto ele sobe as escadas e vai embora com seu andar tranquilo.

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