|Cap. 7|

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Dormir nunca foi tão prazeroso em toda minha vida, e acordar nunca tão empolgante. O sol já nasceu, mas receio ainda ser muito cedo para a casa já estar de pé, principalmente com a reunião da noite anterior. Pensar nisso me dá muito mais gosto, pois poderei vistoriar todos os recantos desse quarto sem muitos incômodos.

Me levanto animadamente da cama e com alguns passos vou em direção ao meu primeiro objeto de curiosidade: a escrivaninha. A mesa é de mogno negro e envelhecido, pesada e simples, sem nenhum entalhe ou decoração, mas ainda consegue me fascinar pelo brilho e força que demonstra. Vistoriando cuidadosamente para não correr o perigo de ser descoberta pelo dono, me ponho a observar metodicamente os livros sobre ela. A maioria são cadernos de contabilidade, os mesmos usados por meu avô e no qual muitas vezes ajudei com as chatas contas da propriedade principal. Há alguns documentos soltos, umas cartas abertas, que sem querer ser intrometida, principalmente por achar cartas um bem muito íntimo e que não gostaria que fossem violadas, acabo dando uma pequena passada de olho.

A letra das cartas é de alguma mulher, pois é visível o extremo capricho, cuidado e beleza em cada escolha e forma de palavras, mostrando todo o refinamento da suposta escritora. O tema é algo de saudade e amor, um pedido de perdão e alguma coisa mais que reconheço ser muito íntima até mesmo para meus olhos malditamente bisbilhoteiros. Há, também, dezenas de livros empilhados no chão, alguns títulos são de política e outros de filosofia, mas, nitidamente, o que mais me choca são os livros de romance que fazem parte de um dos amontoados.

Depois dessas longas olhadelas de curiosidade, creio ser hora de visitar o roupeiro e conseguir mais informações sobre este Sr. Misterioso. Dou alguns passos em direção à outra porta, o que me faz pensar ser o lugar que ele guarda seus objetos pessoais. Ao puxar a pesada madeira me deparo com uma imensidão de casacos, roupa de montaria, sapatos e botas, todos na mesma cor negra, exceto pelas camisas de seda ou algodão que são do mais límpido branco. A disposição, cuidado e simetria em todas essas peças conseguem provocar algo de ligeiramente aterrorizante que posso sentir diretamente em meu estômago.

Estar olhando um guarda-roupa tão extenso me faz cogitar a ideia de lhe furtar alguma de suas camisas malditamente brancas, me sentar numa das caras poltronas, pedir um chá com biscoitos e ler algum dos romances empilhados. A ideia não me parece tão má, mesmo que os meus sentidos apitem sobre todo aquele ambiente metódico e rígido. E antes que minha consciência mais profunda comece a fazer conta de minhas ações, me vejo vestindo uma das brancas e imaculadas camisas que me chegam até próximo ao joelho, me fazendo descobrir que o Sr. Sombrio, seu mais novo apelido secreto, é de 15 a 20 cm maior do que eu, o deixando em seus 1,85 e 1,90 m de altura. O cheiro desprendido da roupa é o mesmo cheiro dos lençóis, cheiro que promete perigosa excitação e desconcertada proteção. Um cheiro que uma mulher facilmente poderia se acostumar.

Apartando todos esses loucos devaneios, me coloco em direção à sineta ao lado da cama para poder chamar algum dos empregados que possa trazer algo que afugente a fome que nervosamente e sem me dar conta de seu início se estende sobre meu corpo. Mas antes de tudo isso, me escondo dos pés à cabeça com um lençol para que não vejam minha semi-nudez ou meu pequeno furto. E é após alguns minutos depois de meus ousados movimentos que escuto suaves batidas na porta.

— Entre! — digo já esperando um dos empregados.

— Srta. Alexia. — escuto a delicada voz de Liliana.

— Bom dia, Liliana!

— Bom dia, senhorita! Em que posso ser útil?

— Não quero incomodar muito, mas poderia me trazer uma boa xícara de chá com alguns biscoitos?... Melhor, conseguiria me trazer uma bela e gigante xícara de café? — pergunto amigável em uma voz afogada pelo tecido que me cobre.

Sedução do PríncipeOnde histórias criam vida. Descubra agora