|Cap. 3|

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E é estando mais que satisfeita com a enorme quantidade de comida que Mikhail insistia em sempre colocar no meu prato, as refrescantes e doces taças de vinho e tendo amado um maravilhoso pedaço de bolo de chocolate, que me junto as damas na sala de visitas para papear confortável e descaradamente sobre a vida, as curiosidades e os homens da casa que, inocentemente, seguem para o espaço do escritório do Visconde em busca de charutos, conhaque e alguma conversa sobre cavalos, Londres e caçadas.

–– Venham, minhas pupilas! –– Ingrid inicia num tom brincalhão. –– Sentem-se confortavelmente e sirvam-se de brandy enquanto fofocamos durante alguns minutos–– termina. –– Menos você, querida Bianca. Nada de álcool para você! –– acrescenta com um sorriso doce ao fitar a jovem Bianca em seu rostinho inconformado.

–– Alexia, saiba que este é um dos problemas quando estamos grávidas. Por Deus, tenho que controlar tudo o que como ou bebo. Já não bastando o tanto que engordei logo nesse início de gravidez, ainda não posso me divertir em nada. –– Bianca injeta numa careta de falsa irritação.

–– Por Deus, Bianca, não escute suas próprias palavras! Ainda quero muitos e muitos netinhos correndo por esta casa, pequenos seus e de Alexia enchendo todo o espaço. –– Ingrid afirma em seu belo sorriso.

–– Não posso nem imaginar viver constantemente grávida! Nada de muitas crianças, umas duas ou três no máximo! –– Bianca ri em seu argumento.

–– Não precisam ficar constantemente grávidas, meninas. Mas, sinceramente, se eu tivesse em minha cama durante todas as longas noites um homem como o de vocês, meu Senhor, não ousaria sair de lá por nada nessa vida. Aceitaria a árdua tarefa de praticar a concepção! –– Helena diz rapidamente antes de correr em uma gargalhada estonteante e, mesmo com a vermelhidão que toma o rosto de Bianca e o meu, acompanhamos numa sinfonia de risos.

–– Helena, não diga algo assim! –– Bianca diz colocando suas delicadas mãozinhas em volta de bochechas mais que rosadas.

–– Vocês não esperam que uma mulher solteira de trinta anos e bem resolvida financeiramente iria ficar esperando sentada e virgem enquanto o mundo passa com suas delícias da carne, não é?! –– ela reage nos encarando em um quase riso. –– Meu Deus, a vida é muito curta para se pensar em ideias tão antiquadas! –– termina triunfante em seu estrondoso riso.

–– Então acredito que essa sua viagem de navio com um tal Sr. Mandão-cheio-de-músculos, não tenha sido lá tão ruim como você vive chorando. –– escuto a Viscondessa cutucar em uma feição desavergonhada de quem espera os mais escondidos segredos.

–– Que os anjos me livrem daquele homem. A viagem foi um castigo, isso sim! Um Sr. Mandão é o título perfeito para aquele gigante que adorou me implicar durante toda exaustiva viagem.

–– Você não precisava ter vindo com ele, poderia... –– tento acrescentar.

–– Sim, cunhada, poderia ter comprado um bilhete e vindo por minha conta, mas prometi a Mikhail que ajudaria nos cuidados iniciais de etiqueta da irmã de Bjørnar. Me parece, pois ainda não sei muitos detalhes, que ela passou sua vida dentro de um convento se preparando para ser freira e que ao final desistiu da ideia. –– Helena sussurra, aflorando nossa curiosidade com suas palavras bem colocadas.

–– Não sabia que ele tinha uma irmã. Na verdade, não sei muito sobre sua vida pessoal. Ele é um homem muito calado, mesmo tendo uma boca que consegue ser genuinamente suja quando quer. –– digo tranquila, e a conclusão das minhas ideias fazem atiçar ainda mais o tendão da necessidade de conhecimento da Viscondessa e sua nora.

–– Essa história me parece, você contando agora, algo muito estranho e, se não fosse pelos pedidos do seu querido irmão e a fiel amizade que vejo do Sr. Bjørnar e toda família Korscwovski, não permitiria que partisse assim com ele. Mas, como este não é o caso, espero que sempre escreva cartas e nos conte sobre a resolução futura do mistério que se esconde nesta história. –– Ingrid afirma em decisão, fazendo com que todas nós concordemos com uma bem dada afirmativa de cabeça aos desejos internos de resolver o mistério do Sr. Mandão, tudo isso enquanto tomamos nossas bebidas alegremente. –– Então, já que concluímos tudo isso, vamos deixar para o dia de amanhã qualquer outra surpresa ou novidade, pois já vejo os cansados olhos de uma Alexia entre nós e, sinceramente, não pretendo ser repreendida por nenhum marido zeloso. –– Ingrid ri ao me fitar com carinho, seus olhos tão espertos e tão doces me recordam sempre mais da enorme saudade que senti de toda essa vida e de todos esses amigos.

–– Eu a acompanharei ao quarto, Alexia! –– Helena oferece.

–– Não há necessidade de terminar sua noite por mim, Helena. Por favor, fique e desfrute! –– tento soar altiva, mesmo com todo meu corpo lutando ferozmente para se deitar em qualquer canto macio e apagar em busca das estrelas.

–– Creio que Helena gostaria de uma rápida conversa privada contigo, Alexia. Por favor, deixe que ela te acompanhe ao quarto enquanto vou com esta pequena Sra. Grávida aqui em busca de seu amado marido. –– Ingrid dispõe sincera e, com movimentos ágeis, se levanta e nos auxilia. Seus olhos não parecem saber sobre o que procura a jovem Srta. russa, mas o rosto de Helena, mesmo em seu silêncio, não esconde o crucial: saber aquilo que não ouso contar.

–– Vamos, Alexia! –– Helena me puxa gentilmente para as escadas, não escondendo seus anseios por todo o trajeto até o antigo quarto de Mikhail.

As enormes portas negras e o cheiro de madeira e limpeza, assim como a organização metódica e espartana ainda estão mais que presentes no aposento. Meus olhos percorrem todos os objetos do quarto, me fazendo regressar momentaneamente para o primeiro dia, para o nosso primeiro encontro. Minha mente desenha no ar os momentos delicados que passei aqui dentro, procura, curiosa, o guarda-roupa assustadoramente monocromático do Sr. Sombrio. Meus sentidos capturam do passado o cheiro do café derramado, dos biscoitos de amêndoa, do perfume do homem que me tomaria em sua vida, da sensação tão delicada e potente dos lençóis sedosos que correram por meu corpo nu, me trazendo um calafrio delicioso pela espinha e uma vergonha rosada nas bochechas.

–– Alexia?! –– Helena chama.

–– Oh!... Perdão! Me distrai por alguns instantes. –– tento gerir minha voz para um timbre tranquilo e casual, e poder esconder nas sombras do aposento toda cor que se acomoda ainda mais ardente em meu rosto.

–– Por favor, Alexia, peço que me conte o que realmente acontece. –– ela diz suplicante e séria.

–– Não entendo... –– procuro soar verdadeiramente ignorante de suas necessidades, tentando dar algum tipo de fuga aos meus pensamentos para que com minha boca não traia a consciência.

–– Mikhail me prometeu toda a verdade quando me deixou sozinha em Moscou, me prometeu o fim do sofrimento e a compreensão de tudo. Mas agora, quando o vi aqui, o único que sei é que seus lábios se fecham em túmulo e seus olhos, mesmo que mais descansados do fardo que carregou por tantos anos, parecem ter se abalado com outros novos conhecimentos. –– ela diz triste. –– Por favor, Alexia, me conte de fato o que aconteceu e acontece com André, e por que ele não veio com vocês? E Pedro, aquele maldito foi realmente para o inferno?... Por favor, me tire da escuridão assim como uma vez o fiz por você. Estou ansiosa, nervosa sem saber de nada e entender nada.

–– Queria poder te contar tudo, dividir com você o peso do saber, mas o único que posso lhe prometer, Helena, é contar os segredos que, de certa forma, também me pertencem. De resto, peço que apenas deixe ir e, se um dia puderem ser finalmente revelados, eles não o serão pelos meus lábios. –– respondo seu pedido dilacerante, tentando encontrar palavras que revelem apenas o que sei, mas que deixem o passado onde ele ainda deva permanecer. –– Conseguimos capturar Pedro, é o que posso inicialmente dizer. Aquele senhor maldito, aquele homem cruel que ousou colocar suas garras na vida de tantas inocentes pessoas aguarda seu destino junto com outros que o apoiaram. André e Guez estão indo para o Mediterrâneo, uma viagem final para aqueles que se tornaram escravos nas mãos de um infeliz sem escrúpulos. Agora que confirmei objetivamente o que se passou, espere até amanhã e converse os detalhes com Mikhail, abandone a curiosidade sobre um resto tão sujo e se deixe embarcar tranquilamente nesta nova fase da sua vida. Se deixe, Helena, tecer um novo destino. –– termino para logo me despedir e finalmente me infiltrar inteiramente no quarto, deixar meu corpo se abastecer de recordações positivas e esperar os braços fortes do homem que amo me apertarem em proteção, fundir nossas almas e poder, finalmente, descansar.


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