Após ser educadamente deixada próxima a uma mesa com enorme variedade de comida, me concentro em montar meu belo prato. É um prato bem consistente, formado por doces, bolos, pequenos e deliciosos pastéis assados e, colocaria ainda a linda fatia de torta de amora que tentei, mas sem sucesso, encaixar ao montante. E é desistindo desse meu intuito que resolvo deixar o último pedaço de torta de amora para a sorte na segunda rodada.
Algumas mesinhas com três cadeias cada estão dispostas próximas da mesa maior, mas de forma que não atrapalhe o fluxo de pessoas. Percebo ao sentar em uma dessas mesas vazias que sou a única jovem a me acomodar com um prato naquelas cadeiras e, como sempre, ter todos à volta com assustados e reprovadores olhos ao meu substancioso prato. Aqui vejo como a nossa sociedade força os corpos femininos a viver sempre com fome e sempre culpados por essa necessidade. Somos seres criados para alimentar e cuidar, mas não podemos, aos olhos dos outros, nos dispor ao próprio cuidado, saciar nossa própria fome. É uma realidade triste que toma olhos tão reprovadores e ao mesmo tempo também famintos. Mas finjo não notar a observação em massa e me ponho a comer tranquilamente os deliciosos pastéis, fecho meus olhos e saboreio alegremente a comida.
— Vejo que gosta da comida servida, senhorita.— escuto a conhecida voz e me engasgo com o susto, mas prontamente o homem da voz em questão me oferece sua taça de vinho da qual bebo um grande gole antes de devolvê-la e agradecer.
— A comida está uma delícia e estou com fome. Obrigada pelo refresco! — justifico secamente e sem ousar levantar meus olhos de encontro ao perturbador azul que certamente me fita.
— Muita fome! — ele rebate um tanto malicioso e posso sentir minhas bochechas em chamas.
— Tenho uma vida muito ativa no campo, então como mais que a maioria das mulheres. —limito a dizer já irritada pela insinuação.
— As mulheres de Londres comem igual ou mais que você, elas apenas não mostram em público. Mas não se sinta ofendida, gosto de ver que se alimenta bem e sem frescuras.
— Foi o elogio mais estranho que ganhei em toda minha vida, senhor. — retruco séria ao fitá-lo, mas logo me pego o acompanhando na leve risada. Seus olhos continuam na cor de um céu no verão e, aproveitando dessa escassa oportunidade, vagueio por seu corpo e novamente me deslumbro com sua beleza. Absorvo maravilhada todos os detalhes de seu físico que sua cara roupa pode oferecer, admiro com coragem suas fortes e amplas mãos que estão sobre a mesa e... e que seguram a minha torta de amora! Sei que ele percebe meu interesse pela torta, pois não consigo tirar meus olhos dela. As amoras não estão em estação, então qualquer coisa que as leve é considerada, ao menos para mim, valiosíssimas.
— Pensei em te acompanhar. — ele diz apontando para os pratos. Tento fingir indiferença e continuo comendo calmamente, mas meu íntimo sofre a mais dura de todas as perdas, o mais triste sentimento quando vejo suas intenções claras sobre a minha sobremesa preferida.
— Bom apetite! — resmungo.
— Obrigado! Esta torta parece deliciosa. — observo com o canto do olho quando ele pega o primeiro pedaço com seus talheres.
— O que foi? — pergunta ao ver que o fito em uma mistura de indignação e deboche.
— Como? — tento soar inocente sobre qualquer possível acusação.
— Está fazendo careta para meu prato!
— Não é algo importante.
— Diga e avaliarei.
— Muito bem! — digo, e inspiro profundamente antes de continuar. —Você está comendo de forma errada. =-- aponto enfática e corajosa.
— Não entendo o que quer dizer, pois tenho certeza que minha preceptora fez um excelente trabalho me ensinando a usar corretamente os talheres. — ele burla com sorriso indulgente.
— Exatamente! — suspiro.
— Ainda não entendo, Alexia.
— Talher. Ninguém conscientemente comeria uma torta de maravilhosas e suculentas amoras com talheres. — respondo, ao passo que ele ri abertamente.
— Então como devo comê-la? — pergunta sério.
— Posso te ensinar se prometer me dar a metade. — entrego ousada, e sinto seus olhos em mim ponderando sobre alguma coisa proibida.
— Muito bem, acordo aceito! Quando podemos começar?
— Agora! Mas este não é o melhor lugar... — sussurro.
— Onde então? — segue sussurrando em cumplicidade.
— Me encontre no pequeno bosque onde estávamos mais cedo. — e com essas palavras sinto como todo meu corpo se aquece pelas vivas lembranças.
— Te espero em quinze minutos ou comerei a torta sozinho. E de talher! — ameaça se retirando da mesa e levando consigo a tão desejada torta. Não havia percebido que ele se sentou comigo, pois todos os nossos encontros me parecem extremamente intensos. Mas prefiro esquecer essas coisas e me concentrar nos pastéis dispostos em meu prato, fingindo tranquilidade, mesmo que por dentro conte os segundos para segui-lo. Ao final do que penso ser 5 minutos me levanto da mesa, pego meu prato ainda cheio e saio rumo ao lugar combinado.
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Sedução do Príncipe
RomantikNos contos de fada o amor surge dos momentos mais incomuns, mas para a realidade daqueles que nunca podem escolher, o amor surgiu do memento mais trágico. Alexia é uma jovem ativa e que aproveita de toda sua liberdade rodeada por campos verdes...