|Cap. 16|

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Só acordo para o presente quando sinto a carruagem se locomover. Mikhail está ao meu lado e seus braços fortes apertam meus ombros de maneira abertamente possessiva, uma sensação aconchegante que aquece meu corpo no início desta noite moscovita. Minha cabeça está apoiada em seu ombro e minha musculatura relaxa por sentir seu maravilhoso perfume, algo tão único e tão seu.

–– Alexia, chegamos! Está pronta para descer? –– pergunta muitos minutos depois, ao segurar delicadamente meu queixo para fitá-lo.

–– Me sinto um coelho assustado! –– digo o fazendo rir. Um riso bonito, honesto, de dentes brancos e perfeitos.

Saímos da carruagem e adentramos no espaço principal do teatro cheio de damas e cavalheiros nos seus mais elegantes e suntuosos trajes e nas suas mais exóticas joias. Não há nada de simples nesta cena, e posso ver agora o real motivo de um presente tão exagerado e opulento. Posso ver agora o significado do título de Mikhail e seu lugar ocupado na alta sociedade russa.

–– Alexia,...Mikhail!... –– Helena nos chama eufórica em seu vestido azul escuro com pedrarias que adere perfeitamente ao corpo, sem luvas e com seus braços e colo tão luxuosamente cobertos por diamantes. Vejo que se encaminha até nós acompanhada de Natasha. Os olhos da Baronesa parecem duas adagas em minha direção, mesmo que em seus lábios exista um sorriso doce.

–– Príncipe Mikhail! Princesa... –– diz Natasha com uma leve inclinação em cumprimento.

–– Olá, Baronesa! –– repito o cumprimento.

–– Vocês já se conhecem? –– pergunta Helena desconfiada.

–– Natasha fez a gentileza de ir em casa para confirmar nossa presença. –– Mikhail responde secamente, dando por fim o assunto e a curiosidade de Helena.

–– Fico muito feliz que tenha vindo, Alexia! –– Helena sorri. Seus olhos são curiosos, tão curiosos que me fazem lembrar de uma tal Viscondessa esperta.

–– Alexia! –– escuto a sonora voz de André atrás de mim e, ao me virar em seu encontro, recebo um efusivo abraço e um quente beijo no topo da cabeça. Seu sorriso é radiante e, mesmo com todo embaraço que sinto, acho impossível deixar de retribuir seu gentil cumprimento.

–– Irmão, não faça uma coisa dessas! O que as pessoas a nossa volta vão pensar?!... –– Helena recrimina.

–– Vão pensar que Mikhail é um homem muito sortudo por ter uma bela esposa e seu irmão mais novo é um invejoso que tenta roubá-la!

–– Você não tem jeito, André. É um conquistador! –– diz Natasha em um sorriso. –– Mas Mikhail não parece ser ciumento! –– afirma sem espaço para mais discussões, pois somos chamados a ocupar nossos respectivos lugares. Ficamos, os cinco, no enorme e confortável camarim principal da família Korcwovski, o que me faz agradecer a divina providência para não ter que demonstrar todo meu embaraço diante das palavras venenosas da experiente Baronesa viúva.

O primeiro ato é magnífico, principalmente para alguém como eu que o vê pela primeira vez. O único que me incomoda durante toda apresentação são os exageros melodramáticos da Baronesa que em cada possível cena coloca suas pequeninas mãos enluvadas sobre a coxa de Mikhail, uma atitude que vai me enchendo lentamente da mais pura e distinta cólera. O primeiro ato termina, as cortinas se fecham e as portas dos camarins são amplamente abertas.

–– Preciso ir ao banheiro! –– digo a Mikhail enquanto nos encaminhamos, junto ao grupo, para fora dos aposentos.

–– Um minuto e vou pedir para que alguma das damas te acompanhe. –– diz sem focar sua atenção em mim, estando mais interessado em alguma coisa que o jovem André arduamente lhe conta.

–– Alexia! Você parece tão perdida parada aqui sem a devida atenção do Príncipe... –– Natasha diz enquanto se posiciona ao meu lado.

–– Estou tentando descobrir onde fica o banheiro das damas. –– digo torcendo para que ela simplesmente ache todo meu eu aborrecido o suficiente para deixa-lo em paz.

–– Vamos, eu te acompanho até lá! –– ela me sorri cativante, talvez tentando forçar alguma amizade entre nós ou, simplesmente, se passar por boa moça entre os cavalheiros.

–– Muito bem! –– aceito prontamente e seguimos andando por um longo corredor ainda no segundo piso até chegar no ambiente principal. O lugar está cheio de damas, mas logo sou encaminhada, com a ajuda de Natasha, para uma das saletas reservadas que está vazia.

Agradeço aos céus pela sorte de um lugar vazio para tentar acalmar as fortes dores de cabeça e as confusões que tomam meus pensamentos e meu atormentado coração. Preciso imensamente de alguns instantes sozinha, longe de toda barulheira lá fora, mas não consigo alcançar meu tão desejado espaço, pois logo que tranco a porta e posso respirar aliviada, sou despertada pela imensa dor que sinto atrás da cabeça e, no momento seguinte, ver meu corpo cair no chão frio e minha visão lentamente escurecer. O restante da minha consciência se desespera na fração de segundos em que vejo um ágil vulto escapando pela janela, e a sensação angustiante de, novamente, me ver impotente, fraca e lenta se abate dilacerante sobre meu corpo machucado. Estou morrendo? Logo aqui?! Logo agora?!


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