|Cap. 12|

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A tarde passa extremamente rápida e divertida conforme vamos, Mikhail e eu, visitando as melhores butiques de Moscou. Ele parece despreocupado e brincalhão, um Mikhail totalmente diferente do habitual. O clima está bem quente, o que descobri ser uma das pequenas loucuras dessa terra que se prepara para um inverno, como sempre, rigoroso. O que conheci hoje em Moscou é praticamente novo, as construções, seu comercio, ruas, cultura e política, já que a cidade ainda se ergue esplendorosamente das cinzas depois da Guerra de 1812 contra a França e seu Napoleão. E tudo isso é contado por Mikhail entre as chávenas de chá e os melhores biscoitos amanteigados que alguma vez comi durante nossos intervalos de compras.

–– Mas não vamos falar sobre coisas tão delicadas. Que tal uma última loja antes de voltarmos para casa? –– pergunta sorridente.

–– Por favor, que seja verdadeiramente a última loja. É sempre difícil imaginar que fazer compras possa ser tão cansativo! –– digo deixando meu corpo amolecer em uma posição nada condizente à uma dama para ressaltar meu cansaço, o que faz Mikhail gargalhar gostosamente, deixando as pessoas em volta espantadas, principalmente aquelas que conhecem o semblante frio e mortal do homem ao meu lado. –– O que foi? –– pergunto inocente, o que o faz me olhar atrevidamente e sorrir mais.

–– Você não tem jeito, Alexia! –– diz, no que lanço um bom sorriso em retribuição.

Depois de tantos doces, tantos presentes, tantas conversas e tantos risos, entramos em outra luxuosa loja de vestidos opulenta e tão rica em detalhes. Todo esse luxo faz meus olhos se voltarem à beleza sombria e espartana de Mikhail, que ao contrário das vestimentas extravagantes que encontro ao meu redor dos homens moscovitas, ele é simples em seus trajes escuros. A beleza de Mikhail é algo que me forço a anexar internamente, e isso me atinge em cheio, principalmente quando admiro a nossa imagem em um dos enormes espelhos espalhados pela loja. Somos ambos altos, ele uns bons centímetros maior, seu corpo é forte e sua aparência naturalmente elegante, sua pele é muito clara em contraste com o negro dos cabelos e tudo é tão diferente de mim, minha robustez nada elegante, minha pele levemente bronzeada pelo sol do campo e meu baços firmes pelo trabalho em vez de delicados e roliços.

–– Em nada delicadamente feminina, em nada delicadamente bela! –– sussurro enfeitiçada com o contraste da imagem refletida, um estranho peso que cai sobre meus ombros e me faz pensar em coisas que antes eram motivo de orgulho. Meu corpo definido pelo trabalho e dourado pelo ardente sol, minha agilidade com um cavalo e a destreza no uso de uma arma de fogo me trazem esta estranha vergonha. Uma vergonha que me causa ainda mais vergonha por principiar em tê-la.

–– O que diz, Alexia? –– seus olhos encontram os meus na imagem refletida pelo espelho e parecem irritados por terem presenciado a rápida e decadente cena íntima. Seus olhos contem ondas raivosas e violentas de um mar sombrio e sua boca rosada e de lábios perfeitos parecem querer dizer algo mais quando é interrompido por uma mulher de cabelo castanho preso num elaborado trançado e estando em um vestido vermelho que adere com grande perfeição a forma ampla de seu belo busto, nos apresentando uma imagem elaborada para ser provocativa e sensual, tudo sem perder a compostura de uma dama.

–– Mikhail! –– ela diz em um gritinho afetado, sem esconder sua felicidade. A bela mulher parece querer travar uma conversa com Mikhail, claramente sendo indiferente quanto a minha presença ao seu lado, e isso podia ser mais engraçado se não fosse humilhante e comprovasse minhas teorias.

–– Há quanto tempo está em Moscou, Príncipe Korcwovski? E porque não foi visitar minha família?! Mesmo não sendo muito adepto das festas, sentimos muito a sua falta! –– diz forçando um biquinho, o que não mais me permite conter o pequeno riso. –– E você, garota, porque ri? Não se enxerga?! –– diz irritada ao perceber minha presença e meu riso sobre um de seus comentários. Sinto como o corpo de Mikhail se endurece pela ofensa, já que ofender a mim é ofender a ele por tabela. É ofender seu nome, seu título e seu sangue.

–– Srta. Ana Mikailovna, gostaria de apresentar minha esposa Alexia korcwovski, neta do Conde de Shrewsbury, Inglaterra. –– ele me apresenta orgulhoso, e os olhos da senhorita Mikailovna saem de uma superioridade divina para arregalados de susto. É palpável a mescla de raiva e indignação ao se curvar para mim em um pedido de desculpas, principalmente quando percebe que todos da sala resolvem prestar atenção em nossa conversa.

–– Princesa Korcwovski, peço desculpas... não tive a intensão de lhe ofender!

–– Creio que sim, a teve, mas antes não se ocupava do meu título. –– digo tentando soar indiferente, tendo em minha mente apenas a vontade de sair de perto dessas dezenas de olhos bisbilhoteiros, invejosos ou debochados que vagueiam pela loja. Mikhail parece perceber e entender o quão emocional e fisicamente cansada estou, já que me puxa para seu lado em um abraço sem se preocupar com os olhares de reprovação ou curiosidade.

–– Senhorita Ana, foi u prazer encontrá-la. Mas agora, se me dá licença, direi adeus! –– afirma sem esperar qualquer resposta, e logo mais já estamos fora da loja, no meio da calçada e com seu braço ainda firmemente atrelado à minha cintura.


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