|Cap. 37|

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— Entre, por favor, Alexia. — ele diz depois do pequeno momento de silêncio durante nossa caminhada. E quando entro e me acomodo perto da lareira, o vejo fechando as enormes portas. — Não se preocupe, só estão escoradas. Gostaria de um pouco de privacidade contigo, e aqui é menos aterrorizador que uma biblioteca ou meu quarto. — diz ao perceber a incerteza e desconfiança que marcam meu rosto.

— Qual a necessidade de privacidade, Alteza? — digo tentando recuperar minha sanidade nas palavras ao ver que ser corpo grande se aproxima cada vez mais e me faz coçar por sentir a suavidade de seu belo cabelo ou a dureza de seus músculos sob a pele pálida.

— Alexia, não brinque assim comigo...

— Não entendo, senhor. — apresento em falsa inocência.

— Estes seus olhos curiosos percorrem todo meu corpo e esta sua boca esperta usa muito bem das palavras para atiçar pensamentos indelicados em minha mente.

— Oh!... Por favor! quantas vezes preciso repetir sobre sua sinceridade, senhor?

— Milhares, senhorita! Milhares! — diz se aproximando até sua respiração estar rente a minha. — Se usar essa sua boquinha esperta novamente, senhorita Alexia, creio não ter outra saída a não ser beijá-la. — diz descarado, e sinto meu coração na boca quando suas palavras correm lentamente em minha cabeça e seu significado me atormenta.

— Nunca fui beijada antes. — sussurro sem consciência, e quando me dou conta do impróprio, já não tenho coragem de olhá-lo e muito menos respirar. Apenas sonho em afundar minha cabeça no centro da Terra enquanto a vergonha que cobre minhas bochechas não se afasta. — Por favor, eu não... — tento consertar após o minuto constrangedor.

— Gostaria que a beijasse, Alexia? — sua voz é rouca e a respiração irregular e pesada.

— Sim! — respiro fundo e respondo, não ousando negar os meus mais íntimos desejos. E de um segundo para o outro sinto seus lábios encostando de maneira delicada aos meus. O sabor de seus lábios me lembra a uísque e canela, calor e necessidade.

Estou um pouco confusa, seus beijos são suaves, mas sua língua força entrada em minha boca. Não penso negar, é diferente do imaginado e estou inebriada por tudo o que me é oferecido. Sua língua se move de encontro a minha, sinto como ele se apodera lentamente da minha boca e da minha vontade. Mas não pretendo ser a única cativa, procuro aprender seus movimentos e o acompanho em seu rítmico quente. Também busco me apoderar de tudo ao meu alcance com minhas mãos desinibidas que percorrem seus braços fortes e seu peitoral largo, não conseguindo deixar de descobrir aquele corpo com a ponta dos meus dedos. Posso sentir como seus músculos ondulam ao meu toque. Estou mais próxima que antes, meu corpo quase colado ao seu, uma de suas mãos entrelaça em meus cabelos e a outra me firma pela cintura. Quero mais, quero muito mais de Mikhail... Tento aprofundar ainda mais o beijo, pois meu corpo vibra de ansiedade e minha mente não existe. Nada mais existe além de nós dois.

— Alexia, por favor... — ele sussurra pesadamente e se afasta. — Não podemos... não assim! — diz com dificuldade. Meu corpo está tremulo, tenho frio e não quero que ele se afaste. Sei que tem razão, não é adequado, mas meu âmago não parece querer dar ouvidos.

— Eu sei... me desculpe! — tento ser racional diante das sensações ardentes que ainda me embalam

— Eu também quis, Alexia. Ainda quero, mas não podemos. Você merece mais respeito! — diz duro. — Vamos, vou te acompanhar ao quarto.

— Não quero voltar. — sussurro.

— Como?!

— Gostaria de passar alguns minutos aqui, se não for incomodo. Acho que estou um pouco cansada de tantas provas de roupa. — arrisco um pequeno sorriso.

— Será um prazer te acompanhar por mais alguns instantes, Alexia. Mas, então, deixe-me abrir a porta. — diz caminhando para a entrada. Sinto seus olhos sobre mim quando retorna da tarefa, mas finjo não notar. Me encaminho para o enorme sofá próximo a lareira, me sento e pego, numa pose falsamente despreocupada diante do que acabou de se passar, o livro disposto sobre a pequena mesa lateral.

— As 1001 noites. — leio. É um belo livro de capa dura com desenhos bordados em ouro. — Meu avô já me contou algo desse livro, mas nunca tive a oportunidade de ler.

— É um excelente livro. Um belo romance oriental escrito há centenas de anos. — ele diz calmamente enquanto vem em minha direção e se coloca confortável ao meu lado. — O livro conta a história de um Sultão que após se sentir traído por uma mulher, coloca em prática um plano de vingança: se casar com todas as belas solteiras de seus domínios e no final da primeira noite as matar.

— Meu Deus! — sussurro assustada e, ao mesmo tempo, curiosa pois sua voz é maravilhosa ao entonar cada palavra do breve resumo.

— Mas a história não termina aí, pelo contrário. — ele continua. — Uma bela e esperta dama,  disposta a colocar fim em toda aquela matança sem sentido, se dispõe a desposa-lo.

— Ela morre? — pergunto sem conter a curiosidade, pois mesmo sabendo o final, tudo contando de seus lábios me é como algo novo.

— Não. — responde. — Ela é uma jovem muito ardilosa e esperta, e já na primeira noite pergunta ao Sultão se pode lhe contar uma história, o que ele prontamente aceita como algum entretenimento antes do fatídico fim. Mas o que o Sultão não sabe, é que essa dama é uma  excelente contadora de histórias, e acaba por conseguir prender a atenção de seu marido e o deixar muito curioso para o final que nunca chega, mesmo com todas as suplicas dele. "Na próxima noite", ela sempre dizia. E assim se passaram 1001 noites, quando o Sultão se viu perdidamente apaixonado por sua contadora de histórias e desistiu de seus planos de vingança. — termina, e o vejo dispor seus braços envolta dos meus ombros em um aconchegante abraço.

— Uma história muito interessante — digo

— Gostaria que a lesse?

— Não vamos conseguir terminar em tempo. — digo com um casto sorriso.

— Podemos ter 1001 noites, Alexia. A escolha é sua.

— Não sou boa em contar histórias, Alteza. Não duraria uma noite. — brinco e me acomodo um pouco mais em seus braços. Me sinto tão bem ao seu lado, me parece natural seus braços apertarem meus ombros e me aquecerem, ou quando apoio minha cabeça em seu peito e sinto uma deliciosa sensação de bem-estar.

— Acredito que tenha outros talentos, principalmente sendo neta de quem é.

— Meu avô não é tão ruim assim... — retruco com ar brincalhão.

— Peculiar caberia mais apropriadamente. — escuto sua voz acompanhada de um riso, um som que me derrete a alma e me faz sonhar com mais momentos assim. — Mas já está muito tarde, gostaria de ir se deitar? — ele pergunta, quebrando a magia que se estende por todo o recinto.

— Por mim dormiria aqui. — digo para logo o escutar rir novamente, e me sinto como uma dessas crianças que não querem largar o doce. — Me desculpe! Não sei o que anda acontecendo comigo, é que me sinto tão confortável... — acrescento envergonhada e honesta.

— Também me sinto confortável, Alexia. Me sinto relaxado ao seu lado como nunca em minha vida.

— Então posso ficar mais um pouco? — pergunto já sonolenta por toda bebida e acontecimentos do dia. — Por favor, só um pouquinho! — suplico inocente.

— Como posso negar um pedido assim? — ele ri.

— Não negue!

— Alexia, Alexia! Você e sua boca esperta... vou deixar que permaneça assim por mais um tempo, mas logo Ingrid vai estar a sua procura.

— Tudo bem! Só me deixe fechar os olhos por num momento, senhor Conversador... — afirmo em brincadeira enquanto meus olhos vão se tornando pesados e sinto-me afundando nos braços de Morfeu com seus cabelos negros e grandes olhos azuis. 


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