|Cap. 49|

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–– Srta. Bandle? Mas que grande prazer encontra-la aqui! –– reconheço a voz de Pedro Moskeihev pouco depois que saio da casa.

–– Sr. Moskeihev! –– exclamo friamente ao fita-lo. Estamos a meio caminho dos estábulos, mas não há ninguém muito próximo. Sinto um frio subir por minha coluna ao fitar seus olhos. –– Também é amigo dos Bingley? –– pergunto tentando soar inocente, principalmente por ele ser a última pessoa que esperava encontrar aqui já que fui uma das responsáveis por ajudar na elaboração de todos os convites.

–– Na verdade, Srta. Bandle, vim apenas para resolver um pequeno assunto... –– diz dando um passo à frente, o que deixa meus instintos ligados.

–– Espero sinceramente que os resolva, senhor. Agora, com sua licença, mas estão esperando por mim. –– minto apressada para me livrar do frio que parece correr com mais força pela minha espinha, adentrar em meu estômago e me provocar forte enjoo.

–– Não vá, senhorita! –– ele diz.

–– Sinto muito! –– digo apressada ao me virar para seguir o caminho, mas logo sinto suas mãos que agarram duramente minha cintura. Meu corpo gela e me preparo, puxando ar pelos pulmões, para soltar um forte grito de socorro. Mas parecendo descobrir meus planos, em uma resposta rápida e violenta, ele me beija e sufoca com isso o som desesperado que tentava liberar de meus pulmões. É um beijo bruto e que me machuca.

Meus braços tentam em toda sua imobilidade empurra-lo, mas sua força excede a minha e meu vestido não me permite o movimento necessário para chutar suas partes íntimas. Como última alternativa, mordo ao ponto de sangue seus lábios, e enquanto ele se afasta uns centímetros pelo susto e pela dor, estufo novamente meu peito e grito o mais forte que posso. Sinto quando meu corpo é arremessado contra uma árvore, minhas costas arderem sem fim e o ar sair de mim em desespero sufocante.

–– Você será minha, sua vagabunda, não dele! –– escuto sua voz animalesca enquanto suas mãos vagueiam por meu corpo e sua boca novamente se impõe sobre a minha. Tenho nojo, repulsa pelo que acontece. Meu corpo está atordoado e meu ser apavorado. Tento me preparar para morder seus repulsivos lábios mais uma vez, mas não é necessário, pois, de repente, não sinto mais seu toque em meu corpo e posso experimentar respirar aliviada novamente. Tudo acontece tão rápido, que as sensações e emoções parecem ainda não moldar meu corpo. Sinto o vazio, a sujeira, o medo, a sensação de não sentir nada, o embaraço do momento e o turvo das cores que cobrem meus olhos. Sinto tudo e sinto pouco, a confusão do que acontece dentro de mim é inexplicável.

Vejo um corpo a frente, mas tudo está muito embaçado devido ao estado perturbado de minhas emoções. O único que sei é que este corpo não é de Pedro. Ouço alguém me chamar, é a mesma pessoa em minha frente, mas tudo me parece tão desconexo. Nem mesmo sei como estou ainda acordada, mas aqui estou com meu peso escorado na enorme árvore. Fecho os olhos, quero chorar, mas não de tristeza, e sim de nojo e impotência. Me sinto lixo. Me sinto nada. Me sinto presa em cores ainda borradas e desespero.

–– Ei, Alexia, volta! Vamos, estou aqui. Você está segura! –– a voz parece me chamar novamente. E desta vez forço em fixar a imagem. Quem vejo é Mikhail que me encara preocupado. Olho em volta e vejo outros cavalheiros, todos com o mesmo olhar triste, duro e vingativo.

–– Eu não sei porque isso aconteceu, eu não... –– tento formular algo racional, mas minha garganta parece seca e minha mente nublada. A culpa recai sobre meu corpo abatido.

–– Tudo bem, Alexia, ninguém está te culpando. — o escuto falar, e agora confirmo que a mesma voz antes tão desconhecida, pertence a Mikhail que me ampara.

–– Alexia, minha pequena, você está bem? –– escuto meu avô, que vem ao meu encontro.

–– Vovô! –– exclamo num soluço e o abraço forte tentando me esconder e me proteger em seu aperto caloroso

–– Alexia, minha menininha... Sinto muito que tenha passado por isso! –– ele sussurra.

–– Ele conseguiu fugir, Alexia, mas alguns dos cavalheiros irão em sua busca. Por favor, não pense mais sobre isso. –– diz Mikhail ao perceber o que tanto procuro com meus olhos corajosos por ter a proteção do corpo de meu amado avô.

–– Ela não está mais segura aqui, Ricardo! ––reconheço a voz do Visconde.

–– Eu sei, Albert! Eu malditamente o sei! –– concorda tristemente.

–– Ela estará mais segura se voltar comigo para Moscou. –– a voz em aço firme e frio de Mikhail se estende no espaço.

–– Co-mo? –– engasgo sem entender as loucas formulações que se passam na cabeça daqueles homens.

–– Alexia... é para o seu bem –– escuto meu avô, após seu leve inclinar de cabeça em concordância com a fala de Mikhail, e consigo interpretar os sinais daquela conversa confusa.

–– Como pode ser para o meu bem ir para outro país, e ainda acompanhada por um estranho? –– questiono irritada, tendo a névoa do ocorrido se dissipado e me sobrando apenas raiva contida.

–– Pedro Moskeihev não é uma boa pessoa, pelo contrário, ele fará de tudo para me ferir ou a seu avô, o que a torna seu principal alvo. –– diz Mikhail.

–– Não entendo... Qual a participação do meu avô nisso?

–– É uma longa história, Alexia, e não é o melhor momento para se contar. Agora, mocinha, pela sua segurança, quero que vá com Mikhail para Rússia. –– diz meu avô.

–– Mas... eu mal o conheço, ele é um estranho! Tudo isso é estranho, esquisito e ilógico para mim. –– firmo minha cansada voz sobre todos.

–– Não sou um qualquer achado na rua a quem você deve confiar, Alexia. Além do mais, pretendo ser seu marido! –– suas palavras que me parecem tão sem sentido banham meu interior como ácido.

–– Não irá usar o público para me extrair um sim. –– afirmo incrédula na certeza do que ouvi e nos olhos compatíveis de todos os presentes.

–– É a melhor solução, Alexia. Não permitirei que permaneça em perigo por minha causa.

–– Você não tem que permitir nada, senhor. Sou maior de idade e dona do meu próprio nariz, então não ouse querer me dar ordens. –– esbravejo

–– Alexia, já disse para tomar cuidado com essa sua boca esperta... –– diz se aproximando. –– Você volta para Moscou comigo, e isso independe de suas vontades.

–– Minha criança, não discuta, é para o seu bem. –– diz meu avô chateado.

–– Claro, com toda certeza é para o meu bem! –– digo irônica. –– E depois que tudo isso acabar, como eu fico?! Casada com um homem que não me suporta, vivendo num país frio e sozinha?! É esse o futuro que deseja para mim, vovô? É esse o "bem" que tanto dizem? –– questiono colérica. Os olhos do velho Conde estão marejados, mas as palavras não podem voltar, e nem desejo.

–– Alexia, eu sinto muito, minha menina... –– diz o velho Conde.

–– Eu sei, vovô, mas não estou preparada para aceitar ou te desculpar agora. –– digo –– Posso até ser forçada a ir para Moscou, mas não me casarei com sua Alteza –– olho obstinada.

–– Muito bem, Alexia, se deseja tanto manchar sua reputação ou o nome de sua família acompanhando um homem sem estar devidamente casada... –– Mikhail soa irônico e, ainda mais, irritado por minha recusa.

–– Não vou por escolha própria, no final posso bem dizer que fui forçada e o nome que terminará sujo será o seu. –– enfrento.

–– Uma mulher nunca sai imaculada, Alexia, por mais que inocente.


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