Acordo e estou sozinha, tendo apenas o corpo dolorido por ter permanecido durante horas numa mesma posição. O dia já está claro e a cama começa a me incomodar por ficar deitada tanto tempo. Então levanto, faço minhas higienes matinais, visto algo confortável e saio do quarto descendo a escada rumo a sala de desjejum. A entrada principal está convulsionada de empregados que limpam o que parece ser a bagunça provocada por Mikhail na madrugada. Os empregados presentes naquele ambiente têm seus olhos curiosos sobre mim. Finjo não me incomodar com olhos tão devoradores ou seus semblantes de pena e sigo meu caminho. Porém, antes de entrar na sala, escuto uma volumosa risada de mulher seguida de uma voz doce e enjoativa que choraminga em seus pedidos.
–– Você tem que ir, Mikhail. Por favor! –– diz a voz feminina. –– Faz tanto tempo que foi para Inglaterra e não me deu uma só notícia...
–– Não acho apropriado... –– diz ele antes de ser interrompido.
–– Vamos, por favor! Depois podemos ir para minha casa ou voltar para esta e fazer algumas brincadeirinhas no quarto... –– ri afetadamente de um jeito coquete.
–– Não quero que volte a insinuar essas coisas para mim, Natasha. Não haverá mais nada além de amizade entre nós! –– diz Mikhail em seu tom duro.
–– Mas porquê? O que mudou? –– choraminga a mulher.
–– O que mudou é que agora estou aqui! –– digo entrando abruptamente no aposento. Choque e surpresa se misturam no rosto da madura mulher dona da chorosa voz, ela me observa em todos os possíveis detalhes e logo mais para Mikhail, como quem espera uma resposta. Aproveito o momento e me encaminho até ele que me olha ainda mais curioso, e o inesperado acontece: lhe dou um pequeno beijo nos lábios. –– Bom dia, meu amor! –– digo numa tentativa de soar carinhosa e honesta. Ele parece surpreso, e em seus olhos vejo a cor profunda e tão tumultuada de um azul, um azul que me promete sérias consequências se continuar com este jogo. Mas não consigo resistir, a necessidade me carrega e aceito as consequências ao me virar para uma Natasha que me olha como se fosse eu alguma criatura vulgar e descarada.
–– Natasha, como estava prestes a lhe dizer, essa é minha adorável esposa, Alexia. –– ele apresenta simples, e posso observar uma mulher que parece estar ainda mais chocada ao ligar a palavra esposa a minha pessoa. A raiva parece correr latente em suas veias por não ser ela a ocupar este lugar ou carregar o exuberante título de Princesa.
–– Alexia, essa é a Baronesa viúva Natasha Bezucovik, uma velha amiga minha e de minha família. –– diz Mikhail.
–– Muito prazer, Sra. Bezucovik! –– digo em uma mesura.
–– Igualmente! –– ela responde com o mesmo cumprimento.
–– Me pareceu serem mesmo muito amigos quando entrei! –– digo com dissimulada doçura enquanto me sento à mesa do café, e a julgar pelo silêncio sepulcral ou o semblante de desconforto de Mikhail, a provocação teve os efeitos desejados. Nunca aceitarei um marido que me traia, enquanto eu, por ser mulher, tenha que manter o ar de delicadeza e benevolência. Não aceito o papel de carregar, sozinha, a moral da família nas costas. Isso é trabalho de ambos e farei questão de que o homem que me tomou como esposa o saiba. –– Gostariam de se juntar a mim para o café? –– pergunto inocente, como se nada houvesse acontecido.
–– Agradeço ao convite, princesa, mas estou de saída. Só passei para avisar ao príncipe Mikhail sobre a Opera que prometeu me acompanhar antes da sua viagem à Londres. –– sorri triunfante.
–– Uma Opera? Que ideia fantástica! Nunca fui em uma. –– digo entusiasmada.
–– Então esta será a sua primeira! –– ele diz em um sorriso. –– Tenho certeza que Natasha não se incomodará em ter mais uma companhia.
–– Cla-ro... claro que não! –– a voz da Baronesa parece falha, antes de, momentos mais tarde, se despedir apressadamente e me deixar voltar a sentir o gosto da comida que coloco na boca. Mikhail, após as despedidas, se senta tranquilamente à minha frente na mesa do café permanecendo em silêncio durante toda refeição, provavelmente meditando sobre a forma desequilibrada e nada elegante que agi.
–– Terminei o livro que me emprestou. –– tento quebrar um pouco do torturante silêncio.
–– Gostou? –– pergunta educado, o que me faz balançar a cabeça em gesto afirmativo. –– Fico feliz! Tenho muitos outros na biblioteca, esteja sempre à vontade para lê-los, pois ao contrário de muitos homens, fico feliz de ter uma esposa com bagagem intelectual para me acompanhar. –– diz –– E, Alexia, não é um empréstimo. Nunca foi! –– continua ao voltar sua atenção novamente para a comida. –– Esteja preparada para uma volta na cidade esta tarde. Vou acompanha-la às compras! –– acrescenta antes de se levantar e sair da sala ao terminar rapidamente seu café.
–– Muito bem, meu marido! –– retorno em implicância à suas maneiras antes dele conseguir alcançar a saída.
–– Alexia, já estou cansado de dizer para não usar essa boca esperta comigo. Não sei me conter quando faz isso! –– responde, fazendo meu rosto ficar vermelho e minhas bochechas arderem em absoluta vergonha. Devo confessar que Mikhail me afeta, faz meu corpo aquecer e meu coração disparar com cada palavra solta por seus lábios rosados e sua voz firme e sensual que me causa um tremor que alcança a alma. Talvez o destino tenha me preparado mais que apenas um marido confortável e um mundo simples. Talvez ele tenha me preparado grandes aventuras.
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Sedução do Príncipe
RomanceNos contos de fada o amor surge dos momentos mais incomuns, mas para a realidade daqueles que nunca podem escolher, o amor surgiu do memento mais trágico. Alexia é uma jovem ativa e que aproveita de toda sua liberdade rodeada por campos verdes...