Sedução do Príncipe

|Cap. 26|

–– Estamos partindo dentro de algumas horas, irmão. –– escuto a voz de Mikhail viva e forte, como se cada pequeno pedaço de palavra representasse a liberdade tão sonhada e a oportunidade de respirar o ar da vida tão próximo.

–– Eu entendo, irmão! Fique tranquilo, está tudo absolutamente organizado para sua partida e, principalmente, para todo o desfecho que essa nossa história deve tomar. –– André responde firme, seus lábios expressando as palavras tão necessárias aos meus ouvidos, mas seus olhos são turvos e cansados pelo que vem passando, aliás, todos nós, durante as duas últimas semanas que se seguiram desde a cena na praia. Seus olhos perderam o brilho matreiro, seus lábios não despontam em nenhum momento qualquer sinal de alegria. Seus traços ainda tão belos me parecem desesperados, sufocados e me imploram silenciosamente a necessidade de um fim real para todo este tormento.

–– E o que pretendem fazer de agora em diante? –– pergunto curiosa ao me levantar da confortável poltrona de couro caramelo e seguir pelo espaço atapetado do escritório particular de André até a mesa de cerejeira que se dispõe entre os dois homens.

–– Guez tem se recuperado com rapidez e, apensar de não querer se comunicar com ninguém, creio que já está pronta para voltar ao trabalho ativo. Precisamos embarcar no Sereia para nossa próxima viagem e levar nossa última oferta aos povos do Oriente.

–– Vo-vocês pretendem concluir o acordo de venda de Mullan? –– pergunto um tanto chocada com a contínua ideia. –– Mas tudo isso já acabou! Prendemos Pedro e sua confissão será o fim para todos aqueles que se propuseram a aceitar uma sociedade tão suja.

–– Não é tão fácil assim, Alexia. Temos uma possível confissão de Pedro e algumas outras provas concretas para incriminar por uma eternidade todos aqueles cretinos, mas a justiça demanda tempo e não podemos correr o risco de deixar que homens como esses fujam de sua condenação e permaneçam no mundo. –– Mikhail responde em voz baixa, segurando a raiva contida em sua alma enquanto aperta seus punhos como se assim pudesse esmagar o mundo e levar todos os seus pecadores ao inferno.

–– Sim, cunhada, meu irmão tem toda razão. Precisamos ser cautelosos em nossas ações. Olha, sei que se preocupa com a jovem Mullan, todos nós o fazemos, mas é necessário que as coisas continuem assim. Temos tudo preparado, não vamos abandoná-la numa terra desconhecida para sofrer. Ela será enviada a um dos nossos parceiros e será protegida até que tudo esteja acabado para sempre.

–– Não sei o que fazer, me parece muito difícil abandonar vocês com todos esses problemas enquanto sigo para uma vida calma, feliz e confortável. Não quero deixar Guez sem uma amiga por perto, principalmente agora, nem Mullan, você ou seus homens. Não quero me sentir egoísta por ser feliz enquanto ainda carregam nas costas o peso de acabar com tudo isso, o sofrimento de acabar com tudo isso. –– digo em lágrimas, deixando a verdade sair dos meus lábios numa mistura de coragem para ajudá-los e, na mesma medida, medo por ter que permanecer aqui e sentir os restos putrefatos que irão gritar e se debater quando perceberem que a condenação de suas almas está próxima como a própria respiração. Me sinto egoísta, e uma parte tão profunda de mim o deseja ser no mais amplo. Me sinto necessitada da minha família, meus amigos e da proteção calma de Mikhail. Me sinto desejosa de seus abraços, de seu cuidado, de seus olhos que carregam a cor de um dia de verão e do sorriso sem medo que desejo tanto saborear.

–– Alexia, por favor, não diga algo assim! –– André se adianta alguns passos e segura firmemente minhas mãos entre as suas. Seus olhos são gentis e calmos, sua boca tenta um sorriso bondoso. –– Vocês dois já passaram por muitas coisas, está na hora de voltar para casa, de criarem um lar e buscarem a felicidade. Não se preocupe com Guez ou comigo, nosso mundo é esse, nossas vidas estão neste mar tão grande que corta todos os cantos. Não se preocupe com uma vida que já nos pertence, que agarramos corajosamente e com ela respiramos. Encontre a felicidade, ensine meu amado irmão o significado de um sorriso e da paz, assim eu ficarei ainda mais tranquilo e, também, me sentirei feliz. –– termina desprendendo suas mãos das minhas e se afastando para a grande porta negra do escritório. –– Agora, por favor, se apressem em arrumar suas coisas e zarparem! Principalmente você, minha querida cunhadinha, se apresse em deixar estes aposentos antes que meu irmão, com toda pressa que vejo nestes belíssimos olhos azuis, queira a minha morte. –– André ri despreocupado, e este é o primeiro e o último instante que o vejo tão puro e tão realmente feliz desde nosso pequeno jantar em Moscou. Meu coração parte em pedaços ínfimos ao presenciar seu sorriso matreiro, pois mesmo me sentindo feliz e contagiada pelo espirito jovem de André, ainda encontro em meu coração o medo de saber quanto tempo ele ainda pode durar. 

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