|Cap. 1|

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Faz tantos dias que viajo por águas infinitas e desconhecidas que a pouca noção que me resta sobre a passagem do tempo é simplesmente o processo de anoitecer e amanhecer que vem carregando os chatos dias à bordo do Sereia Escarlate, o navio de pirataria usado por André (mais conhecido pelos marinheiros como o famigerado Capitão Jack).

Gaspar tem me acompanhado durante todas as manhãs para o convés, um chá ou qualquer necessidade por mais mesquinha e supérflua que posso desejar. São ordens de André, que de maneira impiedosa, obriga, todos os dias, o jovem e bonito rapaz a ser como minha dama de companhia. As vezes vejo o desejo brilhar naqueles enormes olhos quando os marinheiros estão fazendo algum trabalho pesado no navio ou se reunindo para novas, efetivas e misteriosas ordens no quarto em que André divide com ele, já que ocupo o outro quarto restante e o resto da tripulação se acomoda pelo convés ou qualquer outra parte da embarcação. Confesso que fico curiosa sobre o que tanto conversam aqueles homens, ou sobre o motivo escondido por trás do sorriso largo que fica estampado no rosto do Capitão do navio ao dispensar o pobre menino Gaspar dos trabalhos e dos segredos.

Agora, neste exato momento, apenas sei que o céu está do mais lindo azul e suas nuvens do mais fofo e puro algodão branco, que o sol está em seu auge de brilho e força e o ar úmido e salgado, mas isso não significa muito, apenas que estamos em mares tropicais, como disse um marujo um dia desses ou algumas horas atrás.

Me deito no chão do tombadilho, é agradável sentir o ar refrescar meu corpo e poder escutar o barulho de alguns trabalhadores na parte principal que limpam e lustram a madeira, algumas armas e outros importantes utensílios. Do tombadilho posso ver alguns jovens e robustos homens que carregam baldes, esponjas e esfregões, seguidos sempre por uma voz potente e vibrante que os dá ordens e mais ordens. Sigo em direção a potente voz e vejo André, que como os outros, deixa seu torso à mostra, estando apenas com uma calça de couro surrada. Seu corpo também está moreno pelo sol e musculoso pelo excesso de trabalho árduo, tudo muito bem embalado por uma fina camada de suor que envolve cada pedaço bronzeado de pele quente. Seus traços faciais são duros e suas palavras cruas e objetivas.

-- Não se parece em nada com o homem brincalhão que conheci...

-- O que diz, Alexia? -- pergunta Gaspar sentado um pouco mais confortavelmente ao meu lado. Conforme os dias passaram nos aproximamos um pouco mais, e ele, que antes era apenas um menino bonito e silencioso, foi se deixando ser mais tranquilo e caloroso. Talvez seja o mar, a familiaridade com cada pequeno detalhe do navio que é a sua casa desde quando muito jovem ou as ordens duras de seu belo Capitão Jack.

-- É que esse não é o homem que conheço. André sempre foi tão brincalhão e gentil, como uma pessoa realmente feliz e despreocupada.

-- Aquele é André Korcwovski, este é nosso Capitão Jack. Um homem duro e cheio com muitas marcas, um homem a quem devo a vida e o respeito. -- ele diz, colocando seu corpo mais rígido enquanto olha fixamente para um André que retribui com o mais forte e hipnotizante olhar. Neste segundo é como se os dois conversassem silenciosamente, se reconhecessem e, como algo ainda mais forte e desconhecido, se completassem em marcas, segredos e passado.


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