|Cap. 24|

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Nossas montarias galopam apressadas, o som áspero das patas batendo no chão de pedra, os solavancos ganhados em cada curva ágil e em cada busca por um caminho tão fechado, nos levam para um chalé afastado de toda movimentação cotidiana. E depois de intermináveis minutos de angustia, ansiedade e um ódio que consome as barreiras da alma e leva o homem ao estado mais sublime da falta de razão e grande selvageria, me sinto esgotada pelo medo, mas necessitada de cravar minha espada no coração daquele que ousou provocar dor e obrigar àqueles que amo mascararem seus verdadeiros sentimentos em prol do controle e da salvação de tantos mais.

Minha égua malhada, uma criatura veloz e altamente sensitiva, me guia durante todo o tempo para o caminho tomado pelos homens de André. Meus olhos, treinados pela caça, se deparam com uma pequena casa escura e fria, uma cerca viva que agracia o ambiente com todo seu verde vivo e suas trepadeiras logo no início desta madrugada, um caminho de pedra polida e para um ser que corre desesperado e furtivo pela noite em seu vestido longo e negro, seus cabelos emaranhados pelo vento e pela pressa.

–– Não deixem que ela escape, homens! –– André diz contido, raivoso e firme, e posso sentir o mau destilando de seus poros mesmo na parca iluminação da lua que é a única fonte que nos banha.

Olho para Mikhail e ele parece ainda mais esgotado, a visão do ser feminino que corre em busca da salvação, mesmo tendo compactuado com um demônio, parece desmoroná-lo. Seus olhos assumem um brilho forte e doloroso, suas feições embaralhadas pela pouca luz, me deixam confusa sobre tudo. Os homens de André firmam seus cavalos para a perseguição e provável destruição daquela que tomou para si, mesmo que pelo azar do destino, o ódio acumulado pelo homem que procuramos. E é não podendo suportar ver escapar de nossas mãos a única oportunidade de conseguir informações, principalmente vendo a casa vazia e escura, abandonada, assim como a dama desconfigurada pela noite que grita por ajuda, que num impulso desmedido jogo minha montaria para um galope certeiro e de um segundo para o outro, num gesto tão costumeiro, retiro de minha bota esquerda a adaga amolada que sempre carrego para proteção, mirando sem muita dificuldade e acertando a coxa da mulher misteriosa que ao correr cada vez mais, buscava involuntariamente seu fim nas mãos de homens valorosos e, mesmo assim, inescrupulosos.

A dama cai num pequeno grito abafado de surpresa, horror e dor. Seus joelhos batem no chão duro e se magoam pelo impacto, seu corpo cai desesperançado ao saber da aproximação dos homens, seus olhos parecem verter lágrimas grossas em minha pouca distância, e seus lábios se distendem em busca de um socorro que nunca mais chegará.

–– Não a machuquem! –– André diz segundos depois que seus homens e eu nos agrupamos envolta da presa abominável, mas indefesa.

–– Oh!... André! Por favor, me ajude! Eu... –– a voz feminina destoa apertada, mas inconfundível, fazendo meu corpo convulsionar em espanto e perder sua força de sustento, me levando quase ao chão se não fosse pelas mãos poderosas do homem que me agarra pela cintura e me mantem firme.

–– Se acalme, Alexia! –– Mikhail sussurra.

–– Ela...ela é a baronesa Natasha! –– balbucio quase incompreensível pelo choque e dolorida por mais uma traição.

–– Não me admira agora todas as dificuldades que tivemos com a retirada de sua esposa de Moscou, irmão. Tínhamos uma maldita traidora entre nós! –– André afirma calmo enquanto desce de seu cavalo, se ajoelha frente a traidora e, com seus dedos, busca para a luz o rosto apertado em raiva e rancor da mulher que antes foi considerada amiga.

–– Por que fez isso, Natasha? –– pergunto em desespero.

–– Maldita tolinha! –– a Baronesa cospe as palavras enquanto, mesmo com seu belo rosto, destoa desprezo e maldade. –– A culpa é do seu belo marido, que mesmo com todo tempo que gastei ao seu lado, não se importou um só segundo comigo e nem pensou duas vezes antes de se casar com uma maldita inglesinha de sangue sujo dos bretões.

Sedução do PríncipeOnde histórias criam vida. Descubra agora