|Cap. 24|

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Terminado a leva de beijos, abraços e cumprimentos que surgem de toda parte para nos receber. E após vários comentários sobre vestidos, joias e quão encantadoras estávamos Bianca e eu, sinto-me como que desesperada para respirar um pouco de ar. O enorme salão está lotado de pessoas da mais nobre importância, todos bem vestidos em seus caros trajes. Várias damas, de diferentes idades, me olham com curiosidade. Algumas parecem gostar do que enxergam, outras torcem o nariz em desdém.

Ao meu lado estão Bianca e Ingrid, que conversam animadamente com um grupo de mulheres, todas coradas e muito animadas bebendo seus espumantes. Não consigo me prender ao que dizem, a única coisa que adentra minha cabeça e pavoneia em meus pensamentos é o forte e incontrolável desejo de respirar aliviada e, preferencialmente, longe de tudo e todos.

Olho desesperada para todos os cantos na tentativa de encontrar algum espaço em que possa me esconder e acabo, para minha sorte e meu prazer, me deparando com uma enorme porta que dá acesso direto ao que deve ser o jardim. Parece uma espécie de sacada e está, por algum milagre, quase vazia. Silenciosamente, e sem dar satisfação às damas risonhas e faladoras do grupo, caminho em direção a "liberdade", fazendo uma breve parada para aceitar uma taça de vinho oferecida por um dos gentis empregados.

O clima ainda está fresco e o céu totalmente escuro, e poder estar na sacada visualizando o grandioso jardim é como refresco para o corpo e calmante para o cérebro. O espaço verde é bastante iluminado, com um caminho em pedras que leva à diversos banquinhos de metal espalhados. Há, por todos os lados, alguns casais que passeiam tranquilamente ou senhores fumando languidamente seus charutos importados.

Não sei quanto tempo fico absorta em cada detalhe, e só percebo o tempo quando ouço uma valsa se iniciando e as pessoas subindo os degraus da pequena escadaria para aproveitarem a dança. Deveria estar circulando pelo imenso salão, sendo educada, gentil e solícita aos futuros pretendentes, mas em vez disso estou aqui bebendo a minha terceira ou quarta taça de vinho e olhando a movimentação, agora mais paralisada, no jardim.

— Uma moeda de ouro por seus pensamentos, bela dama. — a calma voz de William me tira dos devaneios.

— Não valem tanto! — respondo em um riso fácil ao belo e gentil homem ao lado.

— Então, senhorita que só sabe dançar valsas, que tal deixar seus pensamentos para outra hora e me fazer par na que se inicia? — seu pedido é galante e agradável.

— Não deveria aconselhá-lo a tal pedido, senhor. Mas, em resposta, digo que será uma honra e um prazer. — apresento em satisfação e com um sincero sorriso nos lábios ao aceitar seu convite e juntos seguirmos para a pista de dança. William é um excelente dançarino, além de companhia muito agradável, daquelas que te fazem relaxar e rir dos maldosos, porém engraçados, comentários que faz das pessoas presentes.

— Olhe, Alexia, quem resolveu largar seus maus modos e puxar uma dama para dançar. — ele diz, e intuitivamente sei de quem fala, e somente isso basta par tirar qualquer deleitosa paz de espirito que carrega meu coração. Viro minha cabeça e confirmo meus pressentimentos, pois vejo Bianca e Mikhail valsando ao nosso lado. Os olhos de Mikhail estão fixos em nós, ao contrário dos de Bianca que se recusam de todas as maneiras a nos mirar. Posso sentir seus olhos vagando por todo salão e ver seus lábios se movendo em sussurros, como segredando algo ao seu par.

— Largou seus maus modos?! — me forço a voltar a atenção para meu parceiro.

— Mikhail nunca dança valsas!

— Nunca?... Mas...

— Sim, me foi grande a surpresa ao vê-lo dançar contigo esta tarde e agora novamente.

— Há sempre uma primeira vez para fazer coisas diferentes. — digo — Talvez ele esteja tentando ser agradável! — termino, e um silêncio mortal cai sobre nós, para rapidamente se alastrar em uma bela gargalhada.

— Posso saber o motivo de sempre haver tanta alegria por parte do casal? — é a sonora voz de Mikhail que nos segue, juntamente com Bianca, para um dos cantos do salão ao finalizar o pequeno concerto.

— Oh, meu amigo, estamos rindo de você! — exclama William com um pequeno riso travesso nos lábios.

— De mim?

— A nossa inocente Alexia acredita que suas atitudes de hoje, meu amigo, como comer doces ou valsar, são gestos de bondade.

— Mas talvez a senhorita Bandle tenha razão. — afirma.

— Ou talvez você esteja encantado por alguma dama e quer mostrar o quão gentil pode ser. —William provoca.

— Quem sabe.... Mas por hora prefiro beber uma boa dose de whisky e fumar um bom charuto. Me acompanha?! — Mikhail convida e, com o consentimento de William e após se despedir, os dois saem e me deixam sozinha com uma irritadiça Bianca que não pronuncia uma palavra durante todo tempo.

— Acontece algo, Bianca? –– pergunto mesmo sabendo que posso me arrepender.

— Ainda bem que aquele homem insuportavelmente implicante foi embora. Por Deus que ele esgota minha paciência!

— Quem? –– pergunto –– Príncipe Mikhail?

— Não, o Príncipe Mikhail é apenas um homem frio como pedra. Estou falando de William! — bufa.

— Mas ele é tão gentil e caloroso, não entendo seu motivo, Bianca. — digo alarmada.

— Gentil porque está apaixonado por você! Comigo ele é um chato que sempre arruma motivos para me embaraçar perante os outros.

— Apaixonado por mim? William? Creio que está enganada. Você parece mais com o tipo de mulher que ele se apaixonaria, toda bonita e angelical. Eu já sou um estilo mais selvagem... —digo rindo, o que ela, pela primeira vez, me acompanha. 


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