|Cap. 33|

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Nas últimas horas da tarde o sol que havia durado todo o dia se esconde por trás de uma enorme nuvem negra, e uma forte chuva, que parece querer durar por toda noite, começa a cair furiosamente.

— Meninas, hora de trabalharmos na escolha do futuro marido. Vamos, disponham as duas na sala de leitura. –– o pequeno general que é a Viscondessa nos intima. –– Vamos! Vamos! se acomodem no tapete. –– continua ordenando. –– Liliana, peça para Vastor acender a lareira e me traga alguns cobertores e uma boa chávena de chá, por favor.

— Mas para que tudo isso, Ingrid? –– Bianca pergunta suavemente, como quem é acostumada com as loucuras da geniosa mulher.

— Já vai ver! Já vai ver! — ela responde impaciente com as perguntas, e não tarda muito para que os dois jovens cavalheiros, acompanhados pelo Visconde, desçam a escadaria. Bianca tem uma expressão assustada ao ver os homens da casa se sentarem visivelmente desconfortáveis nos sofás à volta.

— O que vem a ser isso, senhora minha esposa? –– pergunta o Visconde ao parecer não saber do que se trata a estranha reunião.

— Senhor meu marido, precisamos da ajuda de vocês sobre o destino das jovens damas da casa.

— O que quer dizer com isso, esposa?

— Recebi uma quantidade imensurável de pedidos para fazer a corte a estas duas jovens, e gostaria do conhecimento e opiniões sinceras de vocês, cavalheiros, para escolhermos os melhores partidos.

A expressão figurada no rosto do Visconde demonstra muito bem que ele compreende e, por seu sorriso cúmplice, apoia o jogo que a bela Viscondessa realiza. Olho para William e o vejo carrancudo, odiando estar ali. Seus olhos fitam avidamente uma Bianca tímida e parecem querer dizer algo que nunca surge. Desejo ardentemente olhar para o belo príncipe, mas ele malditamente resolve se sentar justo na poltrona que apoio minhas costas, e assim não posso o observar sem chamar sua atenção. Sinto seu calor e seu perfume ao estar tão próxima e quero me encostar nele e poder sentir a força do seu corpo, mas a única coisa que consigo é ser continuamente atormentada por essas duras necessidades.

— Bem, senhores, se já estão todos devidamente instalados, gostaria de começar com os pedidos que recebi para Alexia... –– diz Ingrid dando início a longa tortura.

Não sabia que havia feito tantos possíveis pretendentes em um único baile após Ingrid pegar um enorme maço contendo inúmeras cartas. Após a leitura de cada nome, a Viscondessa me pergunta o que acho do cavalheiro em questão e depois as recomendações dos homens presentes na sala. Lê-se vários nomes, muitos dos quais eu particularmente havia me interessado pela companhia, outros tantos eram velhos demais, falidos demais ou muito indignos da minha pessoa. Esses e outros milhares de defeitos refutados por William e seu pai, pois em nenhum momento escuto qualquer opinião pela voz de Mikhail.

— O próximo nome é do senhor Pedro Moskeihev. Não sabia que havia dançado com ele, Alexia. –– diz Ingrid me fitando nos olhos.

— Não dancei, apenas conversamos! –– respondo, e posso sentir a tensão que emana incontrolável do corpo de Mikhail. Creio que todos naquela sala o fazem, já que o fitam silenciosamente como esperando algum comentário. Não tenho coragem para o encarar, na verdade, não quero ver o tão costumeiro tom gelado de seus olhos ao falar desse homem.

— O que achou dele? –– Ingrid pergunta tentando voltar ao trabalho e dissipar a pesada tensão que paira e facilmente domina a ampla sala.

— Não tenho o que dizer, não tive a oportunidade de conversar devidamente. Apenas nos cumprimentamos! –– digo tentando manter minha voz altiva. Sinto o corpo de Mikhail se contrair e soltar um grande suspiro como se tomasse uma importante decisão, e logo após suas palavras ressoam firmes e fortes pelo espaço.

— Creio que esse cavalheiro não é nada digno da companhia da senhorita Bandle, muito menos de ter alguma melhor oportunidade. Esta manhã fiz formalmente o pedido de corte a Alexia, o que foi aceito. Mas agora, participando de tudo isso, o que gostaria era que aceitasse um noivado. –– Mikhail diz abruptamente.

— Meu Deus, Alexia! Porque não disse nada? –– A voz de Ingrid soa falsamente animada, o que me retorna as suas palavras anteriores sobre saber o caminho que estou trilhando, me deixando a amarga sensação de estar ainda mais perdida e ainda mais sozinha. Não tenho ideia de quem é o Sr. Sombrio, e estou com muito medo de tentar realmente descobrir.

— Então o belo príncipe se apaixonou? –– diz a risonha voz de William quebrando o silêncio instalado, deixando meu coração entalado na garganta e minha respiração travada em pulmões cheios. Não quero escutar esta resposta, principalmente por ter passado por isso anteriormente. Não quero escutar novamente o quão conveniente será o casamento para nós dois.

—E você, senhor William, também se apaixonou? –– Aproveito o pequeno momento de silêncio entre a primeira pergunta e o ataco com a desculpa de uma legítima defesa. Seus olhos, após os segundos de embaraço, correm em direção a Bianca que desta vez toma coragem para fitá-lo.

— Gostaria de um momento a sós com Bianca, se possível. –– ele diz em falsa tranquilidade.

— Claro, meu filho! –– Ingrid confirma se apressando em ajudar Bianca a se levantar e acompanhar William à sala ao lado. Depois de poucos minutos, e após o silêncio mortal que reina entre nós, o grito de alegria dado por Bianca pode ser ouvido por cada pedacinho da enorme casa, e a Viscondessa e seu marido saem apressadamente rumo ao local indicado, me deixando a sós com meu algoz. Tento me levantar, mas logo sou impedida por mãos fortes em meu ombro que me fazem encará-lo um pouco assustada.

— O que há? –– pergunto inquieta.

— William pediu Bianca em casamento. –– diz calmamente. –– Ele me contou hoje de manhã enquanto procurávamos por uma casa. Creio que foi aceito. — apenas diz, e não consigo lhe propor nenhum tipo de comentário. — Gostaria de lhe pedir em casamento também, assim teríamos uma grande festa de noivado, mas receio que não aceitará meu pedido hoje. –– sua voz é amarga e seus olhos ganham certa tristeza e algo mais, eles ganham muitas lembranças.

Empurro gentilmente suas mãos de meu ombro, me levanto do chão coberto por delicadas almofadas e me sento no braço da poltrona que ele ocupa. Sei que minha atitude é inapropriada a uma dama e posso ver a surpresa que tal ação ocupa em seus olhos. Coloco minha mão direita em seu rosto e o viro lentamente para mim, roubando toda sua atenção. — Seria uma honra poder ama-lo, Príncipe Mikhail, mas preciso que esteja aberto para me amar também. –– o surpreendo.

— Não sou um homem para ser amado, Alexia. Nunca fui! –– diz me fitando com olhos tristes e assombrados.

— Pois eu o amaria com toda minha força. –– não espero qualquer resposta, apenas libero as palavras, retiro calmamente minha mão de seu rosto e saio em direção a sala ao lado para parabenizar os noivos e, consequentemente, poder fugir momentaneamente para me recuperar. 


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