|Cap. 22|

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O dia está claro quando saímos da casa dos irmãos de Mikhail após um delicioso café da manhã. Estamos na carruagem a caminho do Palácio e, durante esse meio tempo, posso observar o quanto Mikhail parece distante.

–– A Condessa Elizar Bolkonskaia nos convidou para um baile beneficente que acontece esta noite, gostaria de ir? –– me pergunta com um ar ligeiramente desinteressado depois de vários minutos em mórbido silêncio.

–– Você não parece muito interessado em minha resposta. –– enfrento.

–– Não me venha com provocações, Alexia! –– diz em seu costumeiro tom rouco e ameaçador.

–– Não tenho outra escolha, não é?! –– digo aceitando a única resposta esperada para aquela pergunta.

–– Não, não tem! É uma de suas obrigações como esposa me acompanhar em eventos tão entediantes e dividir tal sofrimento. –– termina com um pequeno sorriso. –– Alguns vestidos que encomendamos já devem ter chegado. –– supõe.

–– É algo temático ou específico?

–– B&W! O mesmo de sempre. Nós da alta sociedade não parecemos ter muito de criatividade. –– ele debocha.

Quando chegamos em casa, pelo aparente estado de ânimo de Mikhail, torço para não ser obrigada a vê-lo mais durante o restante do dia. De forma ríspida desço da carruagem sem valorar sua ajuda e subo a enorme escadaria sem esperar pelo belo e terminantemente odioso príncipe russo. Caminho pelos enormes cômodos até chegar ao meu quarto a procura de alguns afazeres, o que me parece impossível cumprir já que ao contrário do campo onde sempre montava um belo cavalo, nadava no rio, treinava arco e flecha, brincava com os meninos menores ou ia caçar com meu avô, aqui tudo é vigiado, controlado e medido.

Mas para matar o tempo após comer e descansar, vasculho o restante da infindável casa. Em um dos corredores superiores há uma sala absurdamente negligenciada, muito contrária ao resto da impecável organização do Palácio e que me deixa abertamente curiosa. É uma luxuosa sala de música e, anexo a ela, uma pequenina e, também, abandonada sala de pintura. A maioria das pinturas estão encobertas por lençóis amarelados pelo tempo, e outros, os não cobertos, mostram momentos em família. Uma típica família russa. Há aqui um quadro que me chama a atenção, ele não tem moldura e em suas cores desgastadas pela força destruidora do tempo, posso ver o retrato de uma bela criança que tem por volta de dez anos e sorri para o autor. Não é difícil identificar a pele muito clara, os olhos azuis muito expressivos e seu lindo e encaracolado cabelo negro, mas é difícil acreditar que essa criança da foto, com esse sorriso livre, fresco e verdadeiro seja o mesmo homem que devo chamar de marido. Me parece inacreditável que um menino tão lindo e tão feliz tenha se tornado um homem que carrega sofrimento e escuridão na alma.

As sensações tomam meu corpo, uma tristeza e um sentimento de perda invadem desastrosamente um pedaço da minha alma, o pequeno pedaço que não queria entregar a ele, que jurei não entregar ao Sr. Sombrio. Com passos incertos saio rapidamente do quarto, não me sinto mais no direito de olhar suas lembranças, não me sinto no direito de vasculhar memorias do seu passado naquele recinto tão inapropriado, escondido, abafado e nunca entregue espontaneamente.


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