|Cap. 14|

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Os dias passam lentos e quentes, o sol tropical invade as janelas abertas e clareia o ambiente admiravelmente. O calor envolve os corpos morenos e deixa um véu de suor nas frontes jovens das mulheres que trabalham na casa. Meu corpo reage aos encantos do sol, ao verde forte e caloroso das plantas no jardim, a necessidade de uma boa caminhada e ao vigor de tal exercício. Me levanto da cadeira de descanso próxima à janela do quarto, deixo o lugar confortável com pretensão de descer e obter um bom desjejum com Hanna antes de sair.

Já se passaram uns tantos dias desde a minha conversa com Guez, e tantos dias que obtive pela última vez informações com André sobre Mikhail. André me parece sempre ocupado, seu corpo mais magro e suas grandes olheiras me apontam para uma vida de muito trabalho e pouco descanso. Suas brincadeiras ainda permanecem dando leveza ao espirito de todos os mortais que o rodeiam e seu sorriso maroto ainda me diverte quando vejo as belas moças se derreterem, mas seus olhos parecem não encontrar mais o brilho puro e verdadeiro de antes.

Agora, deixando esses pensamentos de lado, tento seguir tranquilamente, após descer a escada, para a ampla cozinha nos fundos da casa. O lugar é muito bem arejado e limpo, tendo a jovem e pequena Hanna habilidades admiráveis nos cuidados de uma casa. Me sento num dos bancos da grande mesa no centro do espaçoso ambiente enquanto uma das empregadas dispõe sobre ela algumas massas e uma bela xícara de chá inglês. Hanna, que está ao meu lado, segue continuamente descascando infinitas coisas para o preparo dos alimentos.

–– É muita coisa para um almoço, Hanna. Haverá um batalhão por aqui? –– pergunto em tom de costumeira brincadeira.

–– O Capitão ordenou que preparasse alguns pratos mais exóticos para o jantar, parece que chega gente nova hoje.

–– Saberia dizer quem? O Capitão comentou algo? –– pergunto aflita na esperança de alguma resposta que acalme meus anseios em relação a Mikhail, ao meu belo Sr. Sombrio.

–– Alguns amigos, foi o que ele disse. –– Hanna responde inocente, e sinto minha alma murchar um pouco mais. Há tanto tempo anseio sua voz, seu toque, suas palavras e seu beijo. Quero poder olhar naquele sombrio mar azul e declarar meu amor, dizer em plenos pulmões que ele me pertence e que nada e ninguém me separará do homem que amo, do homem que deixei meu coração se apaixonar.

–– Alexia, que maravilha te achar por aqui! –– posso escutar a sonora voz de André às minhas costas. Me viro e encaro um belo homem sem camisa e com a pele ainda mais dourada, com o cabelo molhado do banho e a barba feita despretensiosamente, deixando que seu legado de bela-espécime se afirme sobre nós mortais.

–– Deseja algo, Capitão? –– uso o costumeiro apelido dado a ele desde nossa chegada.

–– Gostaria que acompanhasse Guez em uma visita especial.

–– Visita especial? –– pergunto curiosa e, ao mesmo tempo, percebendo que ele ainda usa o nome masculino adotado por Eleonora, assim como eu, mesmo que todos os trabalhadores da casa já soubessem a verdade sobre sua identidade e sua gravidez.

–– Sim, prometi aquela magricela que ela poderia visitar uma amiga em particular, mas devido as suas condições, não quero que ande por aí sozinha e nem que passe qualquer tipo de tormento emocional.

–– E porque não a acompanha? –– pergunto direta.

–– Tenho muito o que preparar para a visita de meu irmão na noite de hoje, e acredito que você deva ficar muito aflita se permanecer parada após esta notícia. –– ele diz em um riso astuto de quem está se divertindo imensamente.

–– Meu marido... ele... este jantar é para ele, sim?! –– pergunto um tanto descomposta para logo o ver assentindo com a cabeça de longos cabelos molhados que descem para seu musculoso peito. –– Mas porque ela iria se atormentar? –– pergunto forçando minha cabeça para a tarefa do dia no lugar de me desesperar com as perspectivas da noite.

–– Apenas a acompanhe hoje. Você saberá mais do assunto quando presenciar o acontecimento. –– ele responde simples. –– Mas, Alexia, desde já eu estou confiando Guez aos seus cuidados durante essa visita. Por favor, deixe de lado qualquer raiva ou sentimento negativo que possa ter para com ela e me ajude. –– André calmamente me intima com sua voz potente e seu corpo alto, dando a minha mente a visão de algum tipo de retaliação severa para com aqueles que machucarem deliberadamente seu tesouro, sua menina encantada. Agora sei o que era toda aquela cumplicidade e todo aquele cuidado. O sentimento fraterno era muito mais posse, desejo e uma qualidade de amor tão, ou mais, distorcida quanto a de Mikhail.


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