|Cap. 30|

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Acordo espontaneamente, mesmo que meu corpo reclame e a minha coragem desapareça sob qualquer vontade de me levantar. Então fico assim: imóvel, com apenas os olhos que se forçam para abrir e perceber a luminosidade do quarto. Olho para a janela que ainda se encontra fechada e, lentamente, vou circundando todo o ambiente com meus olhos ainda cansados pela pouca noite de sono. A lareira arde vigorosamente em um dos cantos enquanto Mikhail se apoia em pensamentos e escritas na escrivaninha do lado oposto. Ele não parece perceber que estou acordada, então continuo a observá-lo no maior silêncio.

A luz da lareira banha seu corpo em um dourado claro e tentador, com suas costas amplas e braços fortes totalmente nus. Seu cabelo despenteado lhe confere um ar sensual e as emoções que me tomam são fortes ao relembrar os acontecimentos passados. Meu corpo protesta ainda mais, me fazendo tomar consciência dos lugares agora sensíveis. Minha memória se afunda em beijos devastadores, sensuais, excitantes e doloridos. Do calor escaldante que transcende ao corpo e se acumula no baixo-ventre para uma explosão colossal. Um cair no precipício. Meu corpo ainda se lembra. Minha memória ainda se lembra. O cheiro de suor e perfume ainda me marcam. O cheiro de Mikhail me faz querer entrar em combustão outra vez. Seus olhos azuis tomavam os meus enquanto me completava, sua força me prendia e me arrastava para um outro mundo durante a noite. Minha primeira noite. Minha primeira vez. As cobertas incomodam meu corpo que agora se excita pelas lembranças, mas me recuso a mexer e quebrar todo o delicioso encanto desta cena.

–– Alexia! –– escuto a voz clara de Helena me chamando do outro lado da porta, assim tirando meu belo príncipe de seus devaneios. Mikhail se levanta, e sem olhar para a cama, caminha lento e silencioso.

–– Minha esposa está dormindo, irmã. –– diz ao abrir a porta, e posso escutar um belo gritinho assustado de Helena.

–– Oh!... Me desculpe, não queria... E-eu não sabia que estava aqui! –– diz Helena finalmente se recuperando do pequeno susto. –– Mandarei que lhes tragam o desjejum, assim poderão descansar por mais tempo.

–– Não há necessidade, Helena. Já estou acordada! –– digo forçando meu corpo a se levantar da cama e puxando as cobertas até o pescoço para encobrir toda minha nudez. Mikhail me olha firmemente, seus olhos como oceano escuro não parecem se agradar.

–– Tem certeza? Você não está muito dolorida para descer agora?! –– diz, fazendo meu rosto arder em chamas e minha alma se desprender lentamente, me deixando na esperança de que o chão se abra para me engolir por tamanha vergonha. Posso imaginar Helena, aqueles olhinhos espertos como os da Viscondessa, e a cada segundo me sinto mais mortificada ao ponto de mentir descaradamente.

–– Estou muito bem, marido. Tive uma ótima noite de sono, não se preocupe! –– respondo enquanto traço desenhos imaginários no lençol branco. Sinto os olhos dele sobre mim, assim como seu sorriso zombador, mas me recuso a encará-lo nesta mentira.

–– Muito bem! –– ele diz, e voltando sua atenção para Helena que ainda espera na porta, conclui:–– Por favor, irmã, mande algum dos empregados nos preparar um banho. Logo mais vamos descer. –– Escuto uma suave confirmação de Helena e depois o vejo fechar a porta e caminhar para a cama me encarando. –– Tem certeza sobre descer, Alexia? Ontem foi sua primeira vez e não sei se consegui ser tão gentil como pretendia. –– ele diz ainda me vistoriando com seus olhos intensos e sem se preocupar por estar com o torço nu, muito menos por eu estar num estado ainda mais infame. Há um certo riso em seus lábios, algo de sensual e predador que, ao mesmo tempo que acende uma chama abrasadora e faz com que um calor ainda mais forte, uma necessidade latente domine meu corpo, também me faz desejar correr e me esconder como uma presa fácil.

–– Acho que um banho me deixará revigorada –– afirmo em resposta, e ao me levantar ainda agarrada ao lençol, sinto meu corpo fraquejar e cair. Mas no lugar do chão encontro os braços fortes de Mikhail que me tomam pelas pernas e me levanta.

–– O que faz? –– pergunto inquieta ao empurrá-lo com as mãos para que me deposite novamente no chão.

–– Te levando para o revigorante banho! –– exclama espirituoso ao me presentear com seu sorriso mais lindo, no qual, sem conseguir me conter, retribuo.

–– Sou muito pesada, vou acabar te machucando. –– tento argumentar enquanto ele dá largas passadas pelo cômodo rumo à porta.

–– Não me importo, gosto de mimar minha adorável e pesada esposa!

–– Oh!... Não sou tão pesada assim! –– choro em fingido desagrado, o que o faz dar uma deliciosa e contagiante gargalhada, me deixando perceber que é assim que o quero para toda vida.


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