A carruagem sóbria invade os portões de uma casa delicada e luxuosa no coração nobre de Londres. As escadas em mármore branco e as portas pesadas dão boas vindas aos jovens que adentram em busca de esquecimento, calor fraterno e alegria doce proporcionada pela família e pelo vinho.
-- Alexia!-- a voz de Bianca nos recebe antes mesmo de seu belo e redondo corpo. Sua calma em cada passo se difere da agitação de seus olhos claros. -- Mikhail!-- ela continua em sua recepção afetuosa.
-- Bom dia, jovem mamãe!-- o sorriso de Alexia domina todos os seus poros, o encontro é calmante pra sua alma. -- Onde estão todos?-- pergunta entusiasmada
-- Estamos esperando aos jovens atrasados para o café! -- as palavras de William se fazem ouvir desde a antessala, pouco antes de seu corpo ser visível para o pequeno grupo formado na entrada. -- Vamos! Mamãe está esperando a todos para dar início as comemorações. E bem sabem como ela é com tais coisas! -- a voz de William é refrescante e seu sorriso nos diverte apesar das palavras de atenção.
-- Então não mais façamos a Viscondessa nos esperar!-- Alexia sussurra e sorri carismática em resposta.
Andamos a passos largos rumo ao espaço de desjejum. Os familiares presentes estão à mesa e nos esperam para dar início ao agradável dia e dedicada festança. Ingrid e o Visconde, o avô de Alexia, William, Bianca, a própria Alexia e eu. Todos reunidos em harmonia depois dos minutos de cumprimentos abafados e calorosos. A cena é bonita, tipica de uma família feliz, sua perfeição imposta ao mais alto grau de comportamento de uma sociedade londrina. A mesa grande, o tecido de linho branco, a prata bem polida, a cerâmica delicada das xícaras de café e o cristal reluzente das taças de água e suco. Tudo é perfeito, organizado e puro. Tudo é oposto aos sentimentos que proliferam como fungo em meu coração. Meu sorriso aos outros, minha conversa tranquila, minha paz de espírito superficial aos olhos de todos. Sim, meu coração se amarga ao entender os significados obscuros da carta de meu irmão, o medo da realidade segue tomando aquilo que jurei abandonar em nome do amor que tenho pela mulher que me olha discreta em seu brilho natural.
Deus, perdoe meus pecados! Deus salve minha família! Deus, em toda minha ousadia peço que proteja a vida da mulher que amo e permita que alguém em meu lugar massacre meu inimigo. Todos felizes, todos em uma realidade que minha alma não alcança. Sempre assim, sempre sozinho. Este era meu passado e minha existência até encontrar Alexia. Sempre no escuro, no frio e dolorido no mais profundo do meu ser até encontrar a luz nos olhos desta atrevida e doce mulher. Sempre covarde em nunca dar fim ao desespero de minha família. Deus, por favor, que meu pobre irmão me perdoe e que consiga erradicar o mau deste mundo!
-- O que acontece, Mikhail?-- a doce voz de Alexia me surpreende em questionamento. Seus olhos castanhos me fitam, procuram no mais fundo os significados que não ouso deixar fluir. Sua delicada existência, sua força e coragem, seu amor e sua dignidade mal sabem sobre o destino que egoistamente lancei a muito nas mãos de meu jovem irmão. Seus olhos que parecem me amar cada vez mais, seus lábios que creditam em resposta todo esse amor não sabem que me sinto o mais egoísta dos homens, o mais miserável dos seres. O negro de minha alma não some, não se apaga a chama escuro que cresceu violenta nos meus anos ao lado de meu pai. Quero amor, perdão e calmaria. Quero. Desejo-os. Imploro-os com força, ânsia e sofreguidão.
--Não acontece nada, minha adorada esposa!-- é o que ouso dizer fraco, falso e com abandono. Um sorriso mentiroso toma meus lábios, deixa o ambiente tranquilo e novamente agradável.
-- Mikhail, porque não me acompanha em um charuto?! Seria bom conversar algumas coisas contigo. -- a voz de William interrompe qualquer questionamento por parte de Alexia.
--Claro!...-- respondo positivamente ao pedido, um alivio imediato ao confronto eminente dos olhos castanhos e da boca corajosa de minha bela esposa.-- Peço licença a todos! -- minha despedida polida e simplificada resolve tudo em instantes antes de me juntar a William no corredor. Caminhamos até o final da casa, um destino mais calmo e comum à nossas conversas de juventude. Nosso lugar da verdade, palavras simples e conselhos honestos. O jardim do fundo da casa, o agradável canto esquecido por todos e apenas cuidado pelas obrigações do jardineiro. Aqui, neste lugar de passado e de sinceridade foi onde tomamos, William e eu, as rédeas de nossos destinos. Onde perguntamos um ao outro o que fazer e onde juramos a lealdade fraternal que não via em meus outros irmãos pela criação e distância.
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Sedução do Príncipe
Roman d'amourNos contos de fada o amor surge dos momentos mais incomuns, mas para a realidade daqueles que nunca podem escolher, o amor surgiu do memento mais trágico. Alexia é uma jovem ativa e que aproveita de toda sua liberdade rodeada por campos verdes...