Sedução do Príncipe

|Cap. 23|

–– Os cavalos estão preparados e já há alguns homens meus esperando do lado de fora, prontos para qualquer possível problema. –– André soa calmo, uma frieza que toma seus olhos sempre tão alegres e que eleva seu belo e harmonioso rosto à um estado de indiferença e, por vezes, crueldade em seu mais lapidado ser.

Há exatamente sete homens do lado de fora da casa, sete homens valentes e dispostos a arriscar, se assim for necessário, a própria vida para salvar Guez e, se nossas crenças estiverem corretas, colocar fim ao império de horror e desumanidade de Pedro. Caminho por entre todos os homens corajosos, busco com os olhos voltados para o céu a ajuda divina necessária para enfrentar o inimigo tão conhecido e tão sorrateiro. Forço meu corpo a se manter sempre firme, sempre atento, mesmo que por dentro me sinta gelada e assustada. Seguro a pequena arma de fogo presa em minha cintura, agarro com força em busca de segurança o cabo de madeira ricamente moldurado em prata fina.

–– Está pronta, meu amor? –– A voz de Mikhail me tira dos devaneios aos quais me pego fervorosa nestes últimos minutos antes do início de nossa caçada. Me viro ao seu encontro, busco em seus olhos todo sentimento, e descubro em seu corpo coberto pelas roupas negras, a dureza de um espirito que aprendeu a não se deixar cair durante as adversidades.

–– Estou pronta para uma futura felicidade, esposo, mesmo que para isso eu tenha que enfrentar o mundo.

–– Enfrentar o mundo é sempre perigoso, principalmente com um prêmio de valor tão alto. — sua voz sai em um sussurro leve, quase assustado, enquanto seus dedos buscam com delicadeza o contorno do meu rosto.

–– Sairei vitoriosa! –– afirmo com vontade e determinação. –– Não aceitarei nada menos que isso. –– determino impetuosa ao fitá-lo, segurando dentro do peito a dor e o medo que se jogam loucos pelas bordas do meu coração, uma vontade egoísta e humana de abandonar esta luta que diretamente não me pertence e, com toda agilidade, nos levar, Mikhail e eu, para os confins do Universo e nos fazer seguros por toda eternidade.

–– Não poderia esperar nada menos de uma Korcwovski. –– ele diz carinhoso enquanto ainda afaga minhas bochechas.

–– E uma Bandle! –– afirmo com um riso audacioso, no que ele me acompanha em uma doce gargalhada.

–– Peguem suas armas e montem seus cavalos. Sairemos agora! –– André surge com sua voz grossa e potente, fazendo todos os presentes se locomoverem fervilhados, deixando, em questão de segundos e com tão objetivas palavras, nosso sangue esquentar para o tão próximo combate. –– E Alexia... –– André chama ao me fitar longamente por sobre seu corcel castanho e bravo. –– Fique sempre próxima! –– termina ao atiçar seu enorme cavalo de encontro ao restante do grupo que já está mais que organizado e esperando ansiosamente.

–– Estarei ao seu lado, cunhado! –– grito em resposta, e mesmo que para ele as palavras sejam incompreensíveis, é para mim um grito de perseverança e igualdade nesta luta.

–– Hoje será o dia em que finalmente encaminharemos o pecador ao inferno, senhores. Que todos os nossos tormentos terminem e que o sacrifício de Magnólia seja o último! –– André grita para seus homens essas palavras tão codificadas e significativas.

–– Pela última Magnólia! –– todos exprimem com força e determinação, um som que eleva meu espirito e causa ao meu corpo um arrepio profundo.

–– Pela última Magnólia e pela primeira Guez. Pelo último sofrimento e pela primeira felicidade honesta de uma pobre garota amaldiçoada pelo mundo, um pobre menino de olhos azuis e sem infância e por um irmão que, mesmo fingindo estar bem, continua perdendo tudo em nome de uma oportunidade para os outros. –– sussurro minhas preces enquanto coloco minha montaria a galope.

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