|Cap. 8|

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Descer as escadas que levam ao andar inferior da enorme casa é a coisa mais difícil que faço nesta bela manhã. Não só por estar machucada com a queimadura provocada pelo café, mas porque estou com medo de enfrentar ao belo príncipe novamente. Porém, como sou uma maldita mulher de palavra, não posso me dar ao luxo de fugir para algum cômodo da casa e me esconder por tempo indeterminado. E mesmo se pudesse, a certeza que tenho ao recordar a intensidade daqueles olhos azuis é a de que este homem não está acostumado com desobediência, desordem ou o não cumprimento restrito de suas vontades. Há uma espécie de nó em meu estômago, uma ansiedade latente para o encontro com o belo Sr. Misterioso e a nova humilhação que está por vir e que devo encarar com dignidade.

Entro na sala de desjejum, e para minha surpresa e devastada sorte vislumbro Ingrid, seu filho, uma jovem dama que chamam Bianca e Sr. Sombrio sentados e conversando animadamente. Em verdade, observando bem, o homem que atiça meus pensamentos nada fala, apenas parece escrutinar aos outros em toda sua distanciada superioridade. Escuto meu nome e já imagino que estão rindo de mim, aquele maldito calado provavelmente já contou sobre o vergonhoso acidente para todos. Sinto arder minhas bochechas enquanto volto meus olhos, esses traidores baratos, na direção deste homem. Ele me olha, me descobre enquanto caminho a passos lentos para o espaço em que estão reunidos, me firma com uma força que avassala, derruba e esmaga qualquer torpe vontade. Seus olhos são duros, frios. Seu ser é calado, sombrio.

— Alexia! — escuto Ingrid me chamar ao também me perceber próxima a mesa. Seus olhos me interrogam silenciosos e toda feição de seu delicado rosto parece entregue a milhares de pensamentos perante meu estado de espirito visivelmente inquieto e minha insensata resposta ao chamado indelicado do azul profundo dos olhos sombrios do maldoso príncipe.

— Está tudo bem, querida? Está com bochechas tão vermelhas. — questiona, fazendo com que me torne ainda mais corada pela vergonha.

— Estou sim, obrigada! — tento soar o mais natural possível.

— Bom... E como passou a noite?

— Dormi maravilhosamente bem, Viscondessa! — digo segundos antes de me dar conta das palavras, me lembrando do delicioso cheiro dos lençóis e fazendo meu corpo reagir de maneira espontânea a lembrança que tão repentinamente surge.

— Estou muito contente que tenha descansado, principalmente por se ver forçada a dormir em um quarto tão espartano como o de Mikhail e estando sem seus objetos pessoais. Em seu lugar teria me sentido altamente desconfortável.

— Sou uma mulher de necessidades simples, e uma cama é uma boa cama para quem está cansado. — respondo com um sorriso nos lábios ao lembrar do que meu avô sempre fala — Mas a noite de sono me recuperou, e confesso que estou ansiosa para fazer as prometidas compras. — tento finalizar com um de meus empolgantes sorrisos para parecer verdadeiramente ansiosa, e torcer para que a bela senhora aceite a drástica mudança de assunto, pois não conseguirei suportar com algum traço de dignidade ao questionamento duro desta senhorinha esperta ou aos olhos curiosos dos presentes.

Olho de relance para o Sr. Sombrio e ele parece tentar esconder um pequeno sorriso. Seus lábios firmes se dobram em vontade e seus olhos parecem se acender ainda mais pela necessidade, me dando uma leve sensação de calor que dolorosamente invade os recantos do meu mais íntimo.

— Oh, querida Alexia, me esqueci completamente! Ontem estava um pouco alterada pelo excesso de champanhe e acabei me esquecendo que não poderei te acompanhar nas compras. Todos nós fomos convidados para a festa do chá dos Alame, uma grande festa ao ar livre na casa de campo dos meus amigos e anfitriões. Todos, principalmente os dois jovens cavalheiros aqui presente. — diz encarando aos dois distintos homens à mesa.

— Mas mamãe... não sou pretendente a noivo, nem quero ser tão cedo! — choraminga William de forma engraçada e jovial com seu famoso cabelo loiro-avermelhado como sol.

— Sem mais, meu jovem! Quero os dois de acompanhantes das senhoritas Alexia e Bianca.

Olhar Bianca é encarar uma jovem loira, com aparência de um anjo, e que certamente sabe ser uma verdadeira dama em trajes sociais. Pensar nisso me faz ter a sensação do longo nó no estômago cada vez mais apertado, pois será meu primeiro baile e estarei pela primeira vez mostrando à sociedade a placa de "Precisa-se de noivo: urgente!". Estampar esse desespero ao lado de uma beldade como a jovem e delicada Bianca me deixa um pouco doente, e ter apenas trajes tão simples me envergonha ainda mais.

— Ingrid, com todo respeito, mas creio não poder ir para a festa. --  Confesso corajosa.

— Como assim, Alexia? Porque não?

— Não tenho trajes adequados para sair de casa. A vida no campo é um pouco mais simples, por isso precisava desesperadamente das compras. —— entrego sem rodeios.

— Creio que William e eu poderíamos lhe acompanhar ao centro para que veja algumas lojas e compre o necessário até que Ingrid e a senhorita possam fazer as devidas compras. — escuto a voz sombria e firme do Príncipe Korcwovski, o que me toma desprevenida.

— Penso não ser neces...— tento logo intervir sem sucesso.

— Que ideia fantástica, Mikhail! Posso fazer umas anotações básicas que vão precisar, as lojas certas para ir... Oh, Alexia, não acha muita gentileza deste adorável príncipe russo? — profere a Viscondessa com olhos matreiros e um sorriso indulgente — Bianca, porque não os acompanha e compra algo novo para você? Tenho certeza que um dos cavalheiros ficaria encantado em lhe presentear com algo que complete ainda mais sua beleza.

— Que alegria, Ingrid! Estava mesmo pensando em comprar um novo vestido para a festa desta manhã. — Bianca diz em sua voz aveludada, a delicadeza fluindo por todos os poros.

— Então meninas, me dê uns minutinhos para que possa fazer as anotações necessárias. 


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