|Cap. 18|

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A casa está iluminada, é desde a pequena descida da vila próxima que podemos, Guez e eu, ver as nuances de luz e sombra formadas por uma casa em festa. Nada de muito exuberante, barulhos insuportáveis de conversas fiadas entre damas e cavalheiros bem vestidos com suas bebidas em mãos, mas uma casa quente e visivelmente alegre por seus empregados que perambulam de todos os lados. Ao nos aproximarmos ainda mais até o portal de entrada da casa, podemos desfrutar da visão de um André tão bonito como o pecado em seu cabelo molhado e penteado para trás e suas roupas, mesmo que simples, limpas e novas. Mas, devo confessar, toda essa visão gostosa e aconchegante não diminui o frio em minha espinha, as borboletas agressivas que se debatem em meu estômago.

Ao vasculhar o resto do enorme cômodo, vejo Mikhail. Ele, como sempre, impecável em seus trajes negros e de cortes finos, seu rosto que parece estar ainda mais magro, seus modos elegantes e sua beleza austera e que me deixa sem fala e sem reação quando o percebo nos olhando com aqueles sombrios, destemidos e resolutos olhos de...surpresa!

Choque parece tomá-lo ao, pelo que acredito, se deparar com a jovem ao meu lado. O reconhecimento é óbvio e instantâneo. A dor transpassada em seus traços fortes, a pupila que se dilata até tomar todo e qualquer azul existente naqueles olhos que vão se deixando estar irritados, descontrolados e selvagens. Seu corpo tenso avança quase um passo quando escuto o sussurro de Guez ao meu lado

–– Não posso...Me desculpe, mas não posso! –– A vejo fugir quando me viro em sua direção. Seus passos apressados se confirmam em uma corrida pela vida, sua velocidade assume o tamanho de seu desespero, de seu medo e logo já não a vejo mais em nenhum lugar.

–– Não! Você não irá atrás dela, Mikhail. –– escuto a voz potente, dura, raivosa e terminantemente mortal de André que, quando me viro para encará-lo, vejo atravessado no caminho de Mikhail que se parece como louco.

–– Eu preciso...Ela está viva, irmão. Eleonora....ela está viva! –– ele sussurra em desespero.

–– Sim, e você não irá atrás dela. –– André soa ainda mais duro.

–– Não aceitarei que me impeça. Tenho todo o direito a respostas. Vo-você, meu irmão, mais que qualquer outro sabe pelo que passei durante todos esses anos, do peso que carreguei em meus ombros, dos fantasmas que guardei em minha alma. E ela..., a mulher que acreditei não ter conseguido salvar, está viva.

–– Sim, tem razão, mas ela não o quer agora. Ela está com medo, apavorada em te ver, Mikhail. Fique aqui, espere até que ela possa, por vontade própria, ir até você.

–– Não!... –– Mikhail ruge.

–– Por favor, Mikhail... deixe que ela escolha voltar para você. Por favor... –– sussurro angustiada, presa entre os sentimentos de tristeza e ciúme por não ter recebido, em nenhum segundo, suas atenções, e preocupada com o que ele possa forçar sobre o frágil espirito de Guez.

–– Escute sua mulher, irmão. Você veio por ela, e ela precisa de você. Se acalme, respire, olhe para sua bela esposa e tire a magoa que posso perceber nestes olhinhos brilhosos. Ela quer a você, então vá até ela.

–– Muito bem... –– Mikhail respira fundo em aceitação. –– Vá conversar com Eleonora, mas a deixe ciente de que a procurarei cedo ou tarde e exigirei respostas. –– afirma implacável.

–– Ela irá lhe entregar aquilo que sentir confiança e vontade, Mikhail. Não aceitarei que a force, e nem que a violência de seus olhos a alcance. Agora, antes que acabe cometendo uma besteira, suba com sua esposa para o quarto reservado e deixe seu coração ser curado de verdade e para sempre. –– André diz, saindo pela entrada antes iluminada e alegre, mas que depois de tão pouco tempo é opaca, silenciosa e me assusta.

–– Sinto muito, Alexia. Não queria te magoar, só fui pego de surpresa e... –– Mikhail diz me encarando.

–– Eu entendo, Mikhail. Eleonora, ou melhor, Guez, foi seu primeiro amor, sua amiga e seu desespero ao pensar que não conseguiu salvá-la, mas você agora é meu marido, minha alma e meu presente. Aquela jovem pertence ao passado, assim como o nome que ela não mais usa. Nós somos o agora, o futuro, e eu exijo que me ame e se entregue. –– digo corajosa e obstinada a dar meus sentimentos e tomar todos os dele.

–– Senti tanto a sua falta, Alexia. Senti tanto a sua falta, meu amor. –– ele sussurra mais calmo e com um sorriso perfeito que lentamente se forma em seu belo rosto. –– É tão maravilhoso escutar essas palavras determinadas. É maravilhoso não precisar ter medo de sua recusa, de seu ódio e de seu desprezo. Te amo, Alexia. Te amo com minha vida, e juro pelos céus que nunca mais serei o cretino de antes por te abandonar, ou tão covarde por não lhe expressar meu amor. –– ele diz se aproximando com cada palavra, até ter seu corpo colado ao meu, sua respiração pesada e seus lábios cheios próximos, e assim, sem perguntas, me beijar profundamente e apagar toda dor e medo com sua boca que toma insaciável, que vasculha, com uma língua exigente, os recantos suaves da minha, aumentando uma vontade que me arde por mais. Pelo íntimo. Por Mikhail.

–– Vamos!... –– ele diz ao se afastar lentamente e romper o beijo.

–– Co-omo?! –– digo ainda desnorteada e fraca pelo desejo.

–– Preciso de um momento a sós contigo, esposa, ou farei coisas por demais indecentes aos olhos dos empregados. –– ele diz com um sorriso travesso e de dentes perfeitos, enquanto me puxa delicadamente e me guia às escadas.


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