|Cap. 19|

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É meu terceiro dia nesta casa, e o segundo que acordo sozinha e sem sinal dele a não ser o cheiro inconfundível impregnado na roupa de cama e no meu corpo. Me levanto disposta apesar da pequena dor de cabeça já que sou uma pessoa muito resistente ou cabeça dura, como o velho Conde costumava brincar. Coloco um vestido confortável de lã azul de mangas longas e desço para a sala de desjejum. Desde o longo corredor já posso escutar a alegre e inconfundível voz de Helena, bem como outra voz doce e ainda mais suave. Entro na grande sala e me deparo com duas belas mulheres, Helena e outra que ainda não conheço, sentadas à mesa juntamente com um Mikhail espirituoso e, ao que me parece, mais animado que de costume.

–– Alexia, minha cunhada preferida! –– exclama Helena, dando fim aos risos e conversas soltas. –– Vamos, venha tomar chá com a gente! –– diz apontando para uma cadeira ao lado de Mikhail e que, mesmo fora do que dita a etiqueta em se sentar ao lado de seu companheiro, aceito, me colocando em frente à desconhecida.

–– Acredito que sou sua única cunhada, Helena! –– digo rindo, numa acertada tentativa de me enturmar.

–– É a única, mas é a preferida! –– ri em resposta. –– Ah!... Alexia, gostaria de lhe apresentar uma grande amiga minha, Sra. Marilia Kiev. –– aponta para a mulher loira à minha frente. Os traços de Marília são de uma delicadeza espantosa, finos e gentis. Sua tez é clara, as bochechas são rosadas e redondas. Seu cabelo é da cor de um castanho avermelhado, seus olhos são perfeitas e grandes esmeraldas e sua voz é delicada como todo o conjunto de sua aparência.

–– Olá! –– ressoa gentil. –– Muito prazer em conhecê-la, Alexia. Helena falou grandes maravilhas sobre você!

–– Olá, Sra. Kiev! Tenho igual prazer em conhecê-la. –– digo com um sorriso.

–– Por favor, me chame Marília! –– diz, me fazendo acenar em consentimento.

–– Alexia, viemos aqui para saber como se encontrava após a noite de ontem e convidar vocês para um piquenique em minha casa, o que acha? –– Helena pergunta animada. –– Se estiver se sentindo bem, claro! Mas seria muito bom te ter lá. Aos dois!

–– Não sei se estou preparada para enfrentar muitas pessoas... –– aponto receosa.

–– É algo só entre nós, nada exagerado, Alexia! –– escuto Mikhail dizer calmamente.

–– Sim, só entre nós! Fazemos piqueniques há cada quinzena desde que voltamos para Rússia e principalmente por nunca saber quanto tempo meus mais belos irmãos vão permanecer fora de casa e caminhando pelo mundo quando saem. –– Helena afirma num risonho incentivo.

–– Muito bem, então! –– concordo.

–– Será ótimo, Alexia! Assim podemos fofocar sobre os homens da família. –– Helena diz com uma piscadela. –– Marília, você poderia levar a pequena Nathalia para que Alexia a conheça.

–– Sim, ela vai adorar! Ainda mais agora que o pai anda tão ocupado com o Parlamento e não lhe sobra muito tempo para passeios.

–– Alexia, você vai amar a pequena Naty! É um anjo loiro e risonho que não sossega um minuto. Bom que já vai se preparando para quando tiver seu pequeno Mikhail andando pela casa. –– A bela irmã diz com a maior naturalidade, sem perceber meu embaraço.

–– Helena, está envergonhando minha esposa! –– exclama Mikhail em tom sério.

–– Mas é algo normal para se comentar, ou você acha que sua esposa não vai ter um bebê em algum momento?!

–– Não é isso, só não acho que seja algo para falar tão cedo. Além de pertencer a nossa intimidade, irmã. –– ele diz.

–– Irmão, acha mesmo que depois da cena de ontem toda sociedade moscovita não está cochichando sobre a possível gravidez de sua esposa, principalmente com uma história de casamento tão rápida e suspeita? Além do mais, a criança será meu sobrinho ou sobrinha, e já estou mais que ansiosa para segurar um pequeno nos braços! –– Helena diz sem perceber o choque instalado em meu rosto.

–– Por favor, acho que Alexia não está preparada para essa conversa no momento. –– diz Marília ao perceber meu espanto.

–– Oh! Me desculpe, Alexia, não foi intensão te assustar! –– Helena exclama, o que aceno em aceitação já que não estou com devidas faculdades mentais para argumentar um único ponto.

–– Bem, já que terminamos esse assunto e resolvemos sobre o passeio, vou me retirar para o escritório e deixar que conversem seus assuntos com maior tranquilidade. –– diz Mikhail ao se levantar, impulsionando meu corpo, de forma inconsciente, a fazer o mesmo, ficando em pé ao seu lado. –– Sim, Alexia?! –– questiona curioso.

–– E-eu... –– Não tenho a mínima ideia do que dizer então o beijo. Não é um beijo demorado ou muito íntimo, é algo mais carinhoso e delicado, e posso sentir suas mãos em minha cintura, mas não na tentativa de me afastar, pelo contrário, sua posse é firme em meu corpo. –– Só queria te dar bom dia! –– sussurro retirando meus lábios dos seus e escorando minha cabeça em seu ombro. Não sei o que passa em sua cabeça ou na cabeça das mulheres sentadas silenciosamente à mesa. Não sei o que passa em minha própria cabeça, corpo ou alma.

–– Bom dia, Alexia! –– o escuto dizer ao tempo que suas mãos desprendem de minha cintura e o vejo se afastar pela porta. Me sinto um pouco perdida, desnorteada e com ganas de esconder minha cabeça no centro da Terra ao me sentar e ver as duas damas me observando atentamente.

–– Acho que nunca vi Mikhail assim em toda minha vida. –– Marília diz quebrando o gelo. –– Nem mesmo com Eleonora na nossa juventude.

–– Peço desculpas pela cena... Não quis constranger ninguém, meu corpo não obedeceu aos meus comandos. –– digo envergonhada.

–– Casais apaixonados fazem isso o tempo todo. –– comenta Marília com um sorriso simpatizante. E minha vontade é dizer que não estamos apaixonados, que sou apenas uma obrigação, um fardo, um algo que deu muito errado na vida de Mikhail. Que fui traída por ele, pelo meu avô e por mim pois não consigo mais controlar meus sentimentos.


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