|Cap. 32|

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Fazem exatamente 11 dias que não vejo Mikhail. Fazem exatamente 11 dias desde a nossa primeira noite e o que pensei ser nossa resolução de problemas para uma vida melhor. Fazem 11 dias em que acreditei que as coisas mudariam e que poderíamos compartilhar momentos. E foi durante esses 11 dias que fui deixando aos poucos de acreditar que isso seria algo possível entre nós dois.

Desde a última manhã na casa de Helena sou, a todo instante, monitorada e controlada pelos homens ocultos de André que vigiam a casa. Que me vigiam. Fora as inestimáveis visitas rápidas de Helena que, também, não parece ter notícias de Mikhail, a única companhia que me resta é a sensação de me sentir o tempo todo sendo seguida e a estranha presença do jovem Gaspar que sempre aparece nos momentos mais solitários dos meus dias, e que mesmo sem emitir uma só palavra durante as horas que se seguem, me faz sentir menos abandonada.

Gaspar é um jovem moreno e alto, seus cabelos bem curtos e escuros agraciam a qualquer um com uma beleza estranhamente delicada em seus traços angulosos. Ele nunca sorri e sempre parece espreitar por algum acontecimento. Seu corpo magro nunca parece relaxar e suas poucas ações são rudimentares e nada elegantes, como se nunca tivesse frequentado qualquer área da sociedade ou passasse sua vida em meio a pessoas bárbaras. Mas tudo isso, todos os seus atributos, ao contrário de me causarem medo ou repulsa, me fazem sentir estranhamente encantada com sua beleza e ligeiramente perturbada e atraída com todo resto. Não posso reclamar, pois dentro dessa enorme e luxuosa prisão ele é uma companhia que silenciosamente me tira o frio de saber estar sozinha.

–– Sabe por onde anda Mikhail ou André? –– pergunto já cansada de esperar por algum comentário espontâneo de Gaspar que está em pé ao meu lado sob uma frondosa árvore que protege do sol o banco em que estou sentada. Seus olhos escuros vagueiam pelo jardim que adentra no inverno, seu corpo permanece rígido, e tenho a impressão de que, como sempre, não receberei qualquer resposta.

–– O Príncipe virá esta tarde, senhora, assim como seu irmão. Essa é a única informação que disponho. –– ele diz ainda olhando para o jardim sem cor e quase sem vida. Suas palavras são como choque que percorre toda minha espinha dorsal e me tomam em um parco entendimento inicial. Depois de tantos dias passados terei a oportunidade de confrontar aquele maldito homem que me abandonou em seu castelo de gelo. Depois de uma longa espera poderei chutar o traseiro daquele cretino lindo.

–– Tem ideia de que horas os cavalheiros pretendem vir?! –– pergunto tentando colocar o maior grau de indiferença em minha voz.

–– Para o jantar, senhora. –– ele me responde e, por suas feições apertadas, vejo que nada mais sairá de seus lábios.

–– Obrigada, Gaspar! –– digo ao me levantar para voltar para dentro da casa, me livrando do frio que repentinamente toma meu corpo até os ossos e por não aguentar mais de ansiedade para permanecer impassível na presença do jovem frio.


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