|Cap. 12|

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Finalmente chegamos a tão esperada residência dos Alame situada nos arredores de Londres, uma magnífica mansão com um enorme jardim frontal. Há muitas carruagens luxuosas, algumas com pompa exagerada e outras com austeridade e bom gosto muito parecidos com a que estou. É muito comum neste tipo de festa, da rica e nobre sociedade, cada família querer se mostrar mais que a outra, o que considero, internamente, uma grande futilidade e gasto desnecessários.

Sei que é nossa vez de descer quando o carro consegue seu lugar privilegiado rente as escadarias da entrada principal da bela casa. Olho para o movimento à minha frente e posso ver William delicadamente tentar acordar Bianca de seu profundo sono. Os toques de seus dedos sobre o ombro da bela adormecida parecem leves e impregnados de infinita gentileza. Evito terminantemente olhar para o homem ao meu lado, principalmente agora que já não está perdido no mundo da leitura. E mesmo que a vontade de observá-lo cresça de maneira a me espantar, o medo da reprimenda sempre tão fácil em lábios tão bonitos me mantem firme na decisão inicial.

O condutor abre a porta, as primeiras pessoas a descer são William e Bianca, e logo mais o meu acompanhante sombrio. Estou sozinha neste interior fechado, mesmo que por estes poucos segundos. Posso sentir o ar mais leve do campo me invadir as narinas e esticar meus pulmões. Meu corpo inseguro e minha alma medrosa parecem me prender ao banco macio do carro, me deixando com uma falsa sensação de impossibilidade de luta, de batalha. Uma primeira batalha na busca por um casamento. Minha cabeça pesa e sinto em meu pescoço a força das correntes que seguram uma enorme placa escrito: vende-se! Sei que não posso mais demorar, há outros carros à espera e Bianca está com cara de poucos amigos, mas o pânico parece crescer tão despreocupado nesta minha alma necessitada que é quase impossível me obrigar a abandonar o único recinto que parece me trazer um pouco de segurança e paz dentro das incertezas que o lado de fora oferece.

— Está tudo bem, Alexia? — escuto a sonora voz de Mikhail. Engulo seco e nada respondo, não consigo. Sei que ele ainda me olha como quem espera uma resposta, então forçosamente faço gesto afirmativo com a cabeça, adquirindo a força roubada do orgulho e me levantando finalmente para sair rumo a selva que me espera.

Para minha surpresa, sinto a quente palma de sua mão se encontrar à minha em um auxílio cortês na dificultosa descida do carro. Enquanto me apoio firmemente em seu tato, sinto uma leve pressão, como se seus dedos apertassem delicadamente os meus, me causando certo estremecimento e, estranhamente, um sentimento de segurança. É um provável delírio, pois a sensação é por demais delicada e, mesmo com um pequeno susto, muito prazerosa. Procuro seus olhos para tentar entender se realmente aconteceu ou se foi somente um jogo construído por minha mente que carrega os mais insondáveis desejos, mas seus olhos se encontram ocupados nos dois acompanhantes sempre à nossa frente.

Caminhamos para os jardins rumo a parte central de toda aquela movimentação, e devo dizer que a casa em si não perde nada em opulência ou elegância para a dos Bingley. Tudo se põe mais que encantador em todos os seus detalhes, seus cuidados e o bom gosto dos donos que se apresentam em cada pedaço do grande espaço. E é antes de adentrarmos aos jardins internos, depois de novamente buscar ar e forças para encarar o que a sorte me prepara, que escuto a fina voz de Bianca superexcitada pelas festividades.

— Príncipe Mikhail, gostaria de ser meu acompanhante? — a pergunta é descarada, direta demais para os costumes tão rígidos de homens e mulheres londrinos. Mas sem esperar algum tipo de resposta meus olhos se abrem de espanto quando braços brancos e mãos extremamente delicadas envolvem o antebraço do sombrio homem ao meu lado. Ele, por sua vez, não parece se importar com o ato ousado da jovem, e seu rosto tão sério, indiferente e frio me causa certo desconforto. Olho para William a procura de alguma indicação, mas ele apenas sorri de maneira tranquila e vem ao meu lado, seu braço silenciosamente envolvendo o meu, me deixando apenas sentir o calor da aproximação de seu corpo. Sua companhia é agradável e reconfortante, então fico feliz em estar ao seu lado para confrontar minha primeira festa da sociedade e, acredito mais, sei que poderia facilmente o considerar como um pretendente se ele estivesse disposto ao casamento.

Sedução do PríncipeOnde histórias criam vida. Descubra agora