|Cap. 13|

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Acordo com suaves batidas na porta, meus olhos se abrem com dificuldade e o meu eu, ele não quer aceitar a necessidade de se despertar. Sinto meu corpo mole, exausto de tanto dormir e cansado demais para acordar. As batidas na porta, apesar de suaves, são insistentes, o que acaba me forçando ao despertar completo. Meus pés ainda calçados tocam o chão e, lentamente, já saída do torpor do sono, me guio rumo ao incessante barulho.

Empurro a porta com certo esforço e deixo a luz de fora adentrar um pouco em meus aposentos escurecidos pela noite e sem o calor advindos de uma boa lareira. Forço as vistas para a minha frente e reconheço a figura alta e magra disposta de forma ereta. Ela me olha com certa sofreguidão, seus olhos me parecem cansados e um tanto atormentados, as olheiras afundam e escurecem um belo rosto, o cabelo bem curto ainda dá um charme delicado e incrivelmente bonito para algo tão doente.

–– Guez... –– sussurro me dando conta logo após sobre o erro que cometi. –– Me desculpe, Eleon...

–– Não, por favor! –– ela diz suplicante em uma voz rouca e tão frágil como nunca. –– Eleonora não existe mais, ela pertence a um passado que eu não quero mais guardar na memória.

–– Eu não sei tudo o que você passou, mas isso não pode ser motivo para esquecer. Isso faz parte de você, te deixou mais forte, te deu a oportunidade de conhecer pessoas que arriscaram suas vidas para te ter aqui, como André e Mikhail fizeram. Te manter segura! –– digo abrindo mais a porta e caminhando para o centro do quarto, mesmo que contrariada, permitindo que ela entre e se ponha mais cômoda. Em meu coração, a magoa, o rancor, a raiva e a inveja parecem duelar por espaço.

–– Eu entendo como você se sente, está com raiva por eu ter enganado Mikhail. Sabe, ele foi a primeira pessoa a tentar me ajudar quando o mundo havia desmoronado, quando perdi as esperanças de liberdade e já não me importava em ser abusada por um doente sádico. Eu estava quebrada quando Mikhail estendeu suas mãos para mim, mas é meu antigo nome e as experiências ruins que dilaceram minha alma é o que pretendo abandonar, não as pessoas boas e as oportunidades de vida que apareceram depois. Mas, Alexia, não pense que vim aqui para me desculpar por ter mentido, eu o fiz por motivos maiores, mas ainda me sinto na obrigação de acalmar seu coração.

–– Não há nada para acalmar... –– tento soar dura e terminar aquela conversa que me atormenta em suas palavras escuras. Posso ver a dor nos olhos dela e sei que não tenho direito de repreendê-la, mas o sentimento de traição para com Mikhail me cega ligeiramente os olhos e o espírito.

–– Alexia!... –– ela me interrompe antes que a mande embora dos meus aposentos com alguma resposta fria. –– Eu não amo Mikhail e sei que hoje ele também não me ama. Ele não está vindo por mim, mas por você. Este sempre foi o plano! Afastar Pedro do seu caminho e preparar uma armadilha para finalmente pendê-lo junto com todos aqueles que fizeram parte de seus crimes doentios.

–– Você ainda irá contar para ele? –– pergunto desconexa, sem fixar direito a informação dada.

–– Não há mais o que esconder, principalmente no meu estado. –– ela termina com um sorriso triste ao apontar com as mãos para sua barriga. Seus olhos brilhosos só me forçam ainda mais a tirar o restante da venda que me cega perante os sofrimentos desta mulher. Eu, Alexia, que nunca sofri qualquer tipo de abuso e aproveitei da melhor e mais amorosa criação do mundo não tenho direito de atirar qualquer pedra.

–– Me desculpe! –– digo triste e arrependida.

–– Preciso ir! –– ela apenas diz após uma afirmação de cabeça, se encaminhando para a saída.

–– Guez... –– sussurro testando minha própria voz naquele quarto semi-iluminado, e em segundos posso ver seus olhos grandes e ainda mais brilhantes me encarando docemente. –– O que você pretende fazer agora? –– pergunto sem saber o porquê, apenas deixando que meus lábios forcem o que meu consciente não diz.

–– Não sei!... –– ela sussurra em resposta com sua voz baixa, como se não passasse de um respirar mais forte, antes de sair definitivamente do quarto e me deixar no escuro.


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