|Cap. 35|

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Nossos corpos ainda estão cansados. Meu corpo ainda está tão sensível que o roçar da saia do vestido causa pequenos arrepios. Mikhail já está composto, é como se nada houvesse passado, apenas seus cabelos um pouco despenteados dão sinal de uma vida. De uma vida selvagem. Mas a cada minuto que o silêncio domina o ambiente ele parece recuperar seu ar distante e triste.

–– Por favor, Mikhail, não destrua o momento que tivemos. Não me olhe com esse seu distanciamento costumeiro.

–– Alexia... Não finja que nossa conversa anterior nunca existiu.

–– Por quê?! Por que não posso fingir que não vou ser forçada a ir embora, que somos um casal apaixonado?!

–– Alexia, eu...

–– Você o que, Mikhail?! Era uma criança risonha nos quadros abandonados da sala de pintura, foi um adolescente terrivelmente violentado por um mundo imundo, e agora, mesmo depois de adulto, paga por pecados que não são seus. Você não quer me proteger, quer me abondar! –– digo sufocada pela dor que vai lentamente invadindo meu corpo e tomando o lugar das boas sensações que pude ter nos minutos passados, quando me deixei iludir por uma outra possível realidade. Uma realidade feliz ao lado do homem que aceitei como esposo.

Ele está em silêncio, parado no meio de uma sala que carrega um ar impregnado de sofrimento e amargura destilados por ambos. Estou o ferindo propositalmente, é minha última carta para alguma reação sua, é meu grito de desespero para que ele me olhe e confie. Porém seus olhos são vagos, são pensamentos e lembranças. Sua dor é latente e me sufoca a cada respiração, seus olhos azuis expressam aquilo que nunca me será dito. É um aviso, agora percebo, de que sempre estarei sozinha ao seu lado. Ali não há espaço para o amor, não há espaço para o meu egoísta final feliz. Não há espaço para mim.

Não consigo me manter aqui, estou presa a vontade de confortá-lo e a necessidade de salvar os pequeninos pedaços de orgulho que ainda me restam, de amor próprio que preciso ter. Caminho para a porta, giro lenta e silenciosamente a chave. Destranco. Abro. Preciso ir.

–– Alexia! –– sua voz é fria, parece não conter remorso ou sentimentos.

–– Sim, Mikhail...–– digo ainda com a porta entreaberta.

–– Você parte na próxima madrugada.

–– Eles sabem, seus irmãos?

––Sim!

Não espero por mais explicações, meu corpo não aguentaria e minha alma já parece destruída. Corro pelo interminável corredor até chegar ao meu quarto, tranco as portas de acesso e me encaminho nervosamente para cama. Quero chorar de angustia e raiva, quero gritar toda minha loucura. Mas as lágrimas não caem e o grito não chega, há somente um vazio que vai me engolindo por completo, um aperto que toma meu coração. O que sinto é a dor dos traídos.


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