–– Mikhail?!...–– ela sussurra ainda deitada, sua voz representa a rouquidão deliciosa da sonolência que ainda a toma. –– Volte para cama, ainda é cedo. -- diz antes de um charmoso espreguiçar.
–– Nada disso, Senhora Korcwovski! –– meu sorriso sai sem esforço. –– Se bem sabe, hoje é a comemoração de 35 anos de casamento do Visconde e Viscondessa. -- digo calmo, esperando sua tomada de consciência perante o fato.
-- Meu Deus! Como consegui esquecer de algo assim?! Temos que nos arrumar e ir. Minha nossa, como o tempo passa! -- ela afirma em engraçado desespero, seu corpo tomando vida e se inquietando desperto a procura de todas as coisas do mundo para fazer. -- Se apresse, marido! Não quero me atrasar para o grande café da manhã. -- vejo seus olhos brilhantes, seu sorriso contagiante e suas bochechas rosadas pelo esforço de procurar em curto espaço de tempo se arrumar em detalhes. Minha mulher, minha amada Alexia, ainda continua com suas teimosias, com sua necessidade e vontade de fazer tudo por conta e do seu jeito.
-- Talvez eu queira continuar aqui. Te olhando semi-despida assim, não me apetece sair deste quarto. -- sussurro brincalhão, fazendo troça de seu olhar reclamão e, ao mesmo tempo, envergonhado.
-- Não há essa de ficarmos aqui, senhor! Faz tão pouco tempo que cheguei, que as horas não parecem suficientes para matar toda saudade.
-- E são muitas horas, pelo que tenho visto durante todos esses dias...
-- Não me diga isso, ainda não pude visitar todos os conhecidos e nem voltar para casa de campo de vovô. Sei que já estamos em Londres faz pouco mais de dois meses, mas todos os nossos conhecidos escolhem logo agora para suas viagens. Por Deus, não deveríamos ter retornado durante a temporada de debutantes.
-- Se arrepende de ter voltado?! Gostaria de ainda estar no Caribe aproveitando do sol quente, do mar salgado e da distância deste seu esposo?!-- pergunto em brincadeira, mesmo que em minha alma as feridas do passado ainda não tenham se fechado de todo e os novos sonhos que me tomam sobre os últimos acontecimentos ainda me carreguem noites a fio para reviver cada pesadelo. Reviver incansavelmente o medo latejante de perder meu grande amor, a dor de encontrar cara-a-cara minha maior culpa, o sofrimento de presenciar a inválida vida daquele que carrega meu sangue e o ódio infinito do monstro que destruiu a maioria dessas vidas.
-- Uma moeda de ouro por seus segredos. -- sua voz doce me tira de pensamentos tão dilacerantes, me fazendo sorrir deliciado enquanto ela se aproxima. Seu corpo em curvas abraça ao suave vestido azul rapidamente colocado, sua pele bronzeada o realça e me aquece em mais íntimo desejo e seus olhos, amendoados e líquidos, acariciam meu coração e me reapresentam a felicidade contínua.
-- Nada que valha preço tão alto. Estavam apenas pensando na vida de meus irmãos, me lembrando até do nosso dever mais que urgente em lhes enviar uma carta. -- conto uma meia verdade como forma de ainda manter, por mais indigno, minha promessa de nunca mais mentir. Ainda não estou preparado para lhe entregar tudo, principalmente quando o tudo é apenas mais sofrimento e preocupação. Prefiro entregar meu amor, meu mais puro amor. Prefiro roçar seu corpo com o meu em longínquo prazer, sem deixar que o passado nos carregue e nos afete.
-- Como tenho saudades de André e Guez! Tantas coisas se passaram... Mas agora precisamos olhar para frente. -- ela continua em um delicado sorriso ao se aconchegar em meu colo. -- Temos tanta vida ao nosso redor. Bianca e William esperam um bebê, os Bingley comemoram 35 anos de casamento no dia de hoje, meu avô está saudável e tranquilo, Helena partiu para sua própria aventura e nós estamos finalmente em casa. Há tanta vida, meu amor, tanto futuro!...
-- Te amo, Princesa Korcwovski! -- digo antes de tomar seus lábios em um beijo suave, me deixando esquecer dos problemas passados que não se cansam de invadir minha mente, e impondo em seu lugar a esperança solta pelas palavras boas, pela vida que ruge da boca da mulher que proclamo como minha.
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Sedução do Príncipe
RomansaNos contos de fada o amor surge dos momentos mais incomuns, mas para a realidade daqueles que nunca podem escolher, o amor surgiu do memento mais trágico. Alexia é uma jovem ativa e que aproveita de toda sua liberdade rodeada por campos verdes...