Sedução do Príncipe

|Cap. 28|

A noite é escura e levemente fria ao aportarmos. O cheiro tão conhecido por todos da sempre nebulosa Londres invade meu nariz com força total ao inclinar meu corpo para fora da cabine principal e, minutos depois, descer solenemente a rampa de acesso ao pier. Meus pés sentem pela primeira vez depois de incontáveis dias o caminho de madeira surrado pela passagem de tantos homens antes de mim. Meus olhos se perdem na vista de uma cidade que nunca dorme, deixando para trás o mar que me acompanhou os sonhos. Meu corpo selado apenas por um vestido simples se esbalda com o frescor noturno, se abrindo para receber a suave brisa fria e a leve garoa que inicia seus comandos costumeiros por uma Inglaterra que se dispõe tranquilamente em aceitar a tão comum chuva que desce para acalmar aos que nunca descansam e ao meu coração descompassado pela ansiedade fervente. Meu corpo, meu espírito e meu desejo saboreiam por completo estar de volta ao lar, ao berço materno, ao calor da família, a saudade que cresce latejante e me pega desprevenida numa noite tão comum aos olhos de outro, mas que brilha diamantada para minha alma necessitada.

–– Vamos, esposa, se apresse para entrar na carruagem antes que pegue um resfriado. –– escuto a voz grave de Mikhail ao meu lado, seus braços que tocam calmamente meus ombros e seus olhos que refletem o azul brilhoso dos mesmos sentimentos meus. É o verdadeiro sentimento de lar e família que parece nos consumir em cada segundo, em cada respiração e na viciante alegria em ser livre.

–– Estou tão ansiosa!... –– sussurro já dentro da luxuosa carruagem, deixando meu corpo absurdamente cansado da longa viagem relaxar despreocupadamente e se aconchegar nos braços do belo Príncipe ao meu lado. –– Sinto o corpo trêmulo, como se não aceitasse nenhum comando meu. –– afirmo lentamente enquanto respiro o aroma profundo, escuro, masculino e tão deliciosamente conhecido que emana da pele de Mikhail.

–– Logo poderá estar com amigos e familiares, doce esposa. Logo poderemos apreciar um bom jantar, com calorosas companhias e toda felicidade do mundo. –– afirma apaixonado. –– Meu amor, logo estaremos em nossa bela casa e terei o prazer de te ver carregar no ventre nossos belos filhos. Será logo, Alexia. Será no agora! –– ele diz com a voz carregada, deixando toda emoção das frases embargadas escondidas em olhos que se perdem propositalmente no interior luxuoso e escuro do transporte. Suas palavras bonitas e cheias de carinho, seu desejo de uma vida feliz e em paz me fazem crer que, neste conjunto harmonioso, eu possa me deixar ser igualmente levada para as imagens de nosso futuro. Nosso agora. Nossa vida.

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