A maior parte da noite fui arrastada para a pista de dança por algum cavalheiro jovem ou velho, bonito ou feio. Todos pareciam me notar ou, como disse um jovem Barão que dançou comigo duas vezes, eles criaram coragem para se aproximar da dama de negro após ter dançado com William. E agora, depois de tantos convites e tantas danças, meu corpo está castigado pelos constantes pedidos e pelas várias taças de vinho que subitamente e magicamente aparecem em minhas mãos. Confesso que me sinto animada para com alguns parceiros de dança em possível enlace, e isso desmancha um pouco do peso que sobrecarrega meus ombros.
Mal me livro de todos os afáveis parceiros e já estou novamente na sacada buscando mais um pouco de ar e fugindo de algum senhor com idade suficiente para ser meu avô, mas que sempre quer comprometer uma jovem herdeira com uma terceira dança.
— Poderia me dar o prazer da próxima dança, senhorita Bandle? –– Mikhail soa em minhas costas, próximo o suficiente para esquentar todo meu corpo e arrepiar os pelos da minha nuca.
— Pr-príncipe Mikhail, seria uma grande honra dançar a próxima valsa se não estivesse tão lamentavelmente esgotada. — digo em desculpa.
— Então proponho um pequeno passeio pelo jardim e um pouco de ar fresco, o que acha? — diz estranhamente gentil.
— Seria maravilhoso! –– exclamo animada, e pouco depois descemos as escadas que levam ao bem iluminado jardim. — Mikhail, que tal irmos para aquele banco logo à frente? — aponto para um banquinho de aparência agradável e não muito distante.
— Gosto do som que tem sua voz ao pronunciar apenas meu nome.
— Me desculpe, eu...
—... é deliciosamente estrangeiro! –– termina com um sorriso.
— Por favor, senhor, já conversamos sobre a sua excessiva sinceridade. — digo desconsertada por suas palavras ousadas.
— Alexia, deixe que um pobre homem possa aproveitar os poucos prazeres de uma vida tão entediante.
— Não vejo como sua sinceridade se encaixa aí, senhor. — replico.
— Ah, minha doce Alexia, para pessoas que vivem em nosso mundo, cada palavra é como um pisar em ovos, principalmente com as damas que se ofendem ou se sentem comprometidas com um único olhar.
— E me acha uma camponesa sem educação ou modos que nunca se sente embaraçada? –– pergunto tentando manter o ar sério, mas logo rindo.
— Te acho elegante e comedida, Alexia. E consigo me sentir muito livre para falar contigo, mesmo coisas que considere embaraçosas, pois sei que não provocará um escândalo desmedido por algo tão pequeno.
— As vezes é tão livre para falar o que pensa que chega a ser rude. –– respondo num impulso. –– E mais, não gosto de escândalos, nem pretendo o comprometer com eles, mas me magoa quando formula comentamos maldosos sobre mim. — escolho ser aberta em toda minha sinceridade.
— Alexia... — ele sussurra incomodado.
— Por favor, agora que a coragem me toma, deixe-me continuar... -- apresento num suspiro firme antes de seguir -- Não que tenha algo contra críticas, me avô sempre diz que elas servem para construir e moldar o caráter de um bom ouvinte, mas não é algo grandioso ser criticada a todo momento. — termino enérgica o fitando, sem querer perceber que estamos nos afastando do caminho e seguindo para uns banquinhos ainda mais escondidos.
— Alexia, nunca foi a intensão te magoar, só estou um pouco perturbado com o que acontece comigo.
— Acontece com você? Algo ruim?... — indago preocupada e sem entender o real daquelas palavras.
— Sinto como se estivesse sendo enfeitiçado por você. Tenho uma vontade imensa em beijar seus lábios, desmanchar o bonito penteado de seu cabelo e poder descobrir se sua pele é tão sedosa como me parece neste momento. — diz rouco e, assim como eu, impulsivo.
Minha respiração está, com toda essa informação bombardeada, acelerada. Meu corpo não responde aos meus comandos e minha razão grita desesperada me mandando afastar. Mas não importa a razão, o escândalo e os problemas que posso vir a ter, neste momento o que me chama são seus olhos tempestuosos se aproximando e sua boca carnuda e rosada mais visível. Estamos muito próximos, posso sentir sua pesada respiração em meus cabelos, suas mãos que tomam as minhas e sua ânsia em cada pulsar do coração.
— Príncipe Korcwovski? –– uma voz ressoa próxima e sinto o corpo de Mikhail ficar tenso, enrijecer ferozmente ao escutar o chamado, levando para bem longe o calor abrasador enquanto ele se afasta bruscamente. Na fraca luz, seus olhos parecem sombrios, sem vida e mais assustadores que alguma vez pude ver. E agora que ele se vira em direção ao estanho que vem ao nosso encontro, um homem que aparenta ser de meia idade, alto e magro, sei que nossa ligação se esgotou ao zero.
— Pedro Moskeihev. –– a voz de Mikhail me faz gelar o corpo, como se um sentimento de grande perigo o invadisse. O tal homem parece perceber o mesmo, já que em um impulso inicial de proteção dá um passo para trás, mas logo se recompõe elegante.
— Quanto tempo não nos vemos. A última vez foi em Petersburgo? — pergunta com certa ironia e perversidade estampadas em seu timbre forte.
— Creio que sim. –– o tom da voz de Mikhail soa duro e seco.
— Mas quem é a bela dama que te acompanha? Peço perdão por meus terríveis modos, senhorita. –– diz me encarando –– Sou Pedro Moskeihev, um velho conhecido do príncipe, e me coloco a seu total dispor. –– termina com uma suave inclinação de cabeça.
— Alexia Bandle. –– digo apenas, pois a maneira como ele fala sobre sua relação com Mikhail não me parece em nada agradável, mas sim muito medonha.
— Uma parente do Conde de Shrewsbury? Que agradável surpresa! — seus olhos brilham cobiçosos.
— Conhece meu avô? –– questiono curiosa.
— Tivemos nossos encontros, mas não chega a ser uma amizade. –– ele responde veladamente, e novamente a ruim sensação atravessa meu corpo. Olho discretamente para Mikhail ao tentar buscar alguma resposta que toda aquela estranha e receosa cena me provoca, mas o que posso perceber em toda sua profundeza azul é uma ainda maior tensão que pulsa viva e desastrosa entre nós.
— Já está na hora de partirmos, Alexia. –– meu acompanhante finalmente rompe o silêncio.
— Mas vão tão cedo? A senhorita nem pode me conceder o prazer de uma dança ou uma conversa. –– diz o homem num sorriso malicioso, e neste segundo uma mão, a de Mikhail, segura fortemente um de meus pulsos.
— Mikhail...–– sussurro um pouco assustada com a força que ele emprega e que machuca minha pele.
— Adeus, senhor Moskeihev! –– digo rapidamente e sem poder esperar resposta antes de ser puxada pelo caminho de volta ao salão principal por um Mikhail muito agressivo e que parece estar fora de si.
As pessoas a nossa volta nos olham espantadas, cedendo silenciosamente o espaço necessário para nossa saída. Ao chegarmos à carruagem, sinto ainda a forte pressão que sua mão toma sobre meu pulso. Dói terrivelmente, então tento, com toda força, puxa-la de seu agarre, o que rapidamente e devido à falta de êxito, acabo desistindo. Seu corpo ainda está tenso, então sei que neste momento sou mais que invisível para seus turvos olhos. Ele não me olha uma única vez, e isso me relaxa um pouco. Tenho medo do que posso vir a encontrar ali, principalmente com a aberta iluminação da entrada que banha seus traços belos e pálidos, seus olhos desfocados e de pupilas dilatadas ao extremo.
— O carro está pronto, senhor. –– diz o cocheiro, e uns segundos mais tarde me sinto como empurrada para dentro da luxuosa carruagem.
Partimos.
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Sedução do Príncipe
RomanceNos contos de fada o amor surge dos momentos mais incomuns, mas para a realidade daqueles que nunca podem escolher, o amor surgiu do memento mais trágico. Alexia é uma jovem ativa e que aproveita de toda sua liberdade rodeada por campos verdes...