|Cap. 24|

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Era para me sentir apavorada neste momento, depois de sair de casa e chegar desacompanhada à festa, mas não posso dar o prazer de minha humilhação para nenhum dos presentes. Então, com toda leveza e graça que se estendem em algum lugar dentro de mim, provável fruto do meu orgulho e vontade, desço calmamente pela enorme escada até o salão movimentado e em festa.

Uso um dos vestidos que Mikhail e eu escolhemos quando saíamos às compras, é um vestido branco com transparências, leve e acetinado, como um desses delicados penhoares, mas não tão revelador. O vestido tem manga comprida e esvoaçante, com ombros e parte do colo à mostra, o que combina perfeitamente com meu coque baixo e ausência de joias, muito diferente das damas presentes que carregam seus exuberantes e brilhosos diamantes.

O peso do olhar de todos me sobrecarrega, homens e mulheres em toda sua curiosidade me fitam profundamente. Alguns parecem saber quem sou, outros não fazem ideia. O fato é que sou o centro das atenções e não consigo pensar o que fazer e nem para onde fugir já que não tenho familiaridade com ninguém.

–– Alexia?! –– escuto a voz de André ao meu lado e no mesmo instante o sangue do meu corpo parece voltar a circular normalmente. Sua voz gera um alívio que invade minha alma de maneira admirável.

–– André! –– exclamo –– e... –– aponto com os olhos para um homem enorme ao seu lado.

–– Alexia, este homem com cara de bobo ao meu lado é um grande amigo das "terras altas", o Sr. Aasen –– diz risonho.

–– Muito prazer em conhecê-lo, senhor. –– cumprimento um pouco intimidada pelo olhar predador do enorme loiro.

–– Não tanto quanto eu, encantadora Alexia! –– diz o homem em um sotaque distinto.

–– Alexia, não se preocupe com esse bruto, é que ele não consegue controlar a língua ao estar com belas mulheres. Força do hábito! –– diz André com um belo sorriso.

–– Tentarei ser compreensiva com tal "força de hábito" –– digo rindo. –– Mas, por favor, onde está Helena? –– pergunto curiosa por não achar a pequena mulher em lugar algum.

–– Ela não veio, não gosta das tentativas da Condessa em lhe arrumar velhos nojentos para pretendente. –– André responde zombeteiro, ampliando ainda mais o sorriso. –– E Mikhail, porque não está contigo?

–– Ele me mandou vir, mas não nos encontramos desde cedo. Nem sei se ele está aqui... –– digo simplesmente.

–– Meu irmão precisa de um bom chute no traseiro por lhe causar toda essa situação. Onde já se viu abandonar uma bela e jovem esposa para ser abocanhada por harpias?! –– esbraveja.

–– Não seja exagerado, André! –– digo rindo –– Sou eu quem vai dar um bom e doloroso chute no traseiro do meu marido idiota! –– adianto, e André e seu amigo caem na gargalhada ao escutarem minha frase nervosa, e por não conseguir me conter muito mais os acompanho.

–– A moça parece bem selvagem se comparada às mulheres daqui. É uma pena já ter marido! –– o bonito loiro ao meu lado acrescenta.

–– Mas você mal me conhece, senhor. Posso ser uma das jovens enfadonhas... –– digo ainda rindo.

–– Para uma mulher que ameaça chutar traseiros?! Duvido que seja no mínimo enfadonha.

–– Vamos parar com esses galanteios para com a mulher do meu irmão, Viking! –– diz André tranquilo, porém carregando em seu rosto um velado ar de seriedade.

–– Não seja estraga prazeres, Jack! –– exclama o loiro em descaso.

–– Jack?! Viking?! Que tipo de apelidos são esses? –– pergunto curiosa.

–– Nada importante, Valquíria! Só apelidos de guerra entre velhos amigos. –– termina o loiro em seu forte sotaque e um riso frouxo em seu bonito rosto.

–– E eu sou uma valquíria?! Isso me parece aqueles nomes de pirata, isso sim! –– digo com um sorriso traquinas.

–– Não seja boba, Alexia, é só uma brincadeira nossa. Mas de fato gostei bastante deste seu "nome de guerra". –– diz André em seu tom mais que galanteador.

–– Me parecem bastante animados ao lado de minha encantadora esposa, senhores. –– escuto a voz de Mikhail ao meu lado, bem como sua mão possessiva que rapidamente toma minha cintura.

–– Não sei se tem direitos em ter ciúmes, irmão, já que foi você quem a abandonou para as cobras como se nem ligasse.

–– Não me provoque, André. Aqui não é o lugar! –– sussurra Mikhail em seu tom frio, e sinto o clima pesar entre os dois.

–– Sr. Aasen, agora ficaria honrada em aceitar dançar contigo. –– digo a primeira coisa que vem à minha cabeça e sem demora me solto do aperto de Mikhail que olha confuso.

–– Onde pensa que vai?! –– ele diz firme. –– Uma esposa deve ficar ao lado do marido. Você não irá dançar com esse homem! –– diz apontando seus olhos enjeitados ao loiro. Sinto a força de seu olhar nebuloso e sua voz, mesmo contida, raivosa.

–– Não vim com você e nem lhe devo satisfações. Sou sua esposa, não sua escrava! Agora, se me der licença... –– respondo enérgica e saio da pequena roda de braços dados com o tal Viking. Posso sentir os olhos azuis me devorarem pelas costas.

–– Agora seu marido tem ainda mais motivos para querer me matar, minha bela e destemida Valquíria. –– diz rindo –– Se fosse minha mulher já a teria levado para um dos quartos vagos e mostrado quem manda na situação. –– diz ardoroso, e não sei se tento respirar calmamente para não deixar que meu rosto fique ainda mais vermelho ou se mantenho os passos de dança coordenados. Este homem de boca suja me toma totalmente desprevenida. –– Fica encantadora quando envergonhada, me faz ainda mais desejoso!

–– Não me leve a mal, senhor, mas não conseguiria "mostrar quem manda" nem daqui mil anos! –– sussurro com um sorriso audacioso.

–– Valente assim, não duvido que seria você a me dominar, Valquíria! –– termina assim como a dança, deixando nossos corpos se separem e me fazendo sentir os arrepios provocados por sua boca vulgar, além dos vários pares de olhos curiosos que me secam descaradamente em um tão comum julgamento. –– Foi um enorme prazer dançar contigo, Princesa Korcwovski. Espero que tal honra se repita. –– diz com uma inclinação e logo se afasta de maneira comedida e respeitosa, demonstrando, num estranho passe de mágica, seus bons modos, o que certamente alivia o tom maldoso nos olhares ardilosos e fofoqueiros que me cercam.


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