Coincidências.

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REAGAN

Sem olhar para nenhum lado, começo a fuzilá-la com o olhar. Ela não dá o braço a torcer e ergue sua sobrancelha perfeitamente delineada em um gesto de superioridade, esperando que eu desista e a deixe ir embora. Um coro de cochichos nos interrompe, fazendo-nos perceber que não estamos a sós. Uma senhora se aproxima de mim, aparentemente preocupada, checando se está tudo bem e se eu não me machuquei na queda.

— Você está bem, querida? — sua voz é suave e cautelosa, como se temesse me assustar mais do que já estou assustada.

— Ao menos alguém se importa em perguntar como estou — resmungo para a mulher que quase me atropelou. Ela revira os olhos e joga para trás seus longos cabelos negros.

— Escuta garota, qual é a sua? — solta as palavras no ar — Quer que eu me ajoelhe ao seus pés e peça desculpas?

— Não, mas fique à vontade — rebato com um sorriso debochado.

Ela cerra o maxilar, irritada, e confesso que pelo olhar que estava me lançando, fico feliz por não ter nenhuma possibilidade dela ser um ser de outro mundo com visão de calor, caso contrário, eu não estaria mais aqui pra contar história.

— Estou bem senhora, muito obrigada pela sua preocupação — falo, pegando a minha mochila e a garrafa de água do chão. Coloco a mochila nos ombros e paro na frente da idiota homicida — E você, talvez seja melhor voltar para a autoescola, pode acabar matando alguém se continuar dirigindo desse jeito.

Ela começa a rir, me deixando louca de vontade de dar um soco na cara dela e fazê-la voltar para casa sem nenhum desses dentes perfeitamente brancos que ela tem.

— Deixo você em casa, entra no carro — diz em um tom de voz autoritário.

— Não ouse usar esse tom de voz comigo, quem você está pensando que é?

— Entra logo na droga do carro — sua voz agora é mais firme.

Mas não me movo um centímetro sequer.

Quando percebe que não vou fazer o que ela pede, a mulher me segura pelo braço, abre a porta do carro e me joga dentro do mesmo. De lá de dentro, posso ouvir a senhora que estava preocupada comigo perguntando se nos conhecemos. Estou prestes a dizer que não e implorar por ajuda, visto que ela tinha trancado a porta, só que a garota é mais rápida que eu, entra no carro e grita:

— Somos amigas.

Caio na gargalhada e ela me encara com um olhar gélido que me faz tremer.

— Até parece que eu iria querer ser amiga de alguém como você.

— Azar o seu, não sabe o que está perdendo — rebate.

Reviro os olhos e ela liga o carro. Não demora muito para que comece a chover. O céu está escuro e a chuva bate cada vez mais forte na janela do automóvel. Não percebo o quanto estou tremendo de frio até que vejo um casaco preto bem na minha frente, tampando o meu campo de visão.

— Toma — fala de novo naquele tom de voz autoritário.

Ela é sempre assim tão mandona? Isso já está começando a me irritar. Tomo o casaco de suas mãos e o visto por cima da blusa de manga comprida que estou usando. Não tenho como recusar, não estou acostumada com o clima frio do Oregon.

— Hm... O que é isso? — pergunto ao pegar um cartão com o nome de um lugar que não consigo ler, porque ela logo tira de minhas mãos. Tudo o que minha mente consegue captar do cartão é a foto de uma mulher nua de costas.

— Que tal um "Obrigada pelo casaco, Bessie"?

Não sei porque, mas esse nome não me é estranho. Enfio minhas mãos nos bolsos de seu casaco e fixo meus olhos na estrada.

Love AffairOnde histórias criam vida. Descubra agora