Em anexo.

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Reagan

A vida costuma ser, mais precisamente, constantes momentos de infelicidade. Quem é feliz o tempo inteiro? Deve ser por essa razão que momentos de felicidade são tão almejados, todos a querem, mas é tão passageiro que não costumamos nos dar conta de quando acaba. Ela te atinge de repente, preenche o seu eu interior e depois se vai, deixando o vazio que sempre esteve ali. A partir daí surge os sonhos e desejos, sem eles a maioria de nós viveria sem rumo, cúmplices da solidão e do descontentamento, acompanhados pela barreira entre o que somos e o que poderíamos ser.

Quando pequena, sonhava em ter uma família igual à que via na TV em comerciais ou filmes, queria ter alguém que me levasse para a escola e que me buscasse por medo de me deixar a mercê do perigo de voltar para casa sozinha, mas nunca tive. A minha mãe só comparecia à escola quando era chamada depois de duas ou três vezes e quando ia, estava sempre drogada.

Acordo com o baque de porta de carro sendo fechada. Levanto da cama assustada, caminhando até a janela aberta do meu quarto quando ouço cochichos abaixo de mim.

— Quando vai falar para ele? — ouço a voz masculina perguntar, mas não consigo ver a quem pertence, porque estão na varanda de casa.

— Zack, não insista, está bem? — reconheço a voz de Hierly alterada e aborrecida. — Danon não sabe de nada e prefiro que continue sem saber. É melhor dessa maneira e você não tem do que reclamar. Estou te pagando bem ou não estou?

Há quase um minuto de silêncio que se propaga entre eles dois. Tento me inclinar sobre a janela a fim de espreitar a conversa, conferir quem é o homem misterioso com quem a Hierly tem segredos que nem mesmo Danon, seu marido, conhece. Zack caminha para o seu automóvel colocando um bolo de dinheiro dentro do bolso da calça antes de entrar na caminhonete e sair cantando pneu. Hierly pragueja baixinho e só então me dou conta de que Zack é o mesmo homem com quem a vi da primeira vez cochichando na rua.

Mas qual é o segredo entre os dois para que Hierly o pague tão bem?

Cogito a possibilidade de traição, talvez ela tenha traído o meu tio um tempo atrás e agora Zack a chantageia para que ele não conte toda a verdade para o marido dela e destrua um casamento de anos. Ou existe algo maior, um segredo que Hierly teme que seja descoberto por medo de que ninguém a perdoe. Me recuso a acreditar que envolva algum crime, alguma coisa que seja capaz de fazê-la ficar atrás das grades. Não, Hierly não é assim.

Batidas na porta do quarto me despertam dos meus devaneios enquanto termino de me vestir. Hierly adentra no cômodo segurando o telefone com uma mão e com a outra, tampando o mesmo para que nenhum ruído seja escutado por quem está do outro lado da linha. Termino de amarrar o cadarço do meu ankle boot, tirando o pé da cadeira para colocá-lo no chão.

— A sua mãe está na linha — ela diz, me entregando o telefone e me deixando a sós no quarto.

Sinto um frio no estômago ao aproximar o telefone da minha orelha, automaticamente, o canto dos meus olhos enchem de lágrimas pela saudade, pela distância e por saber que, se mamãe está me ligando é porque precisa de ajuda, ou melhor, de dinheiro. Giro-me na cadeira giratória da minha mesinha de estudos, tentando afastar o nervosismo para manter o controle no meu tom de voz. Não quero chorar e preocupá-la com os meus problemas.

— Filha, meu amor, como você está? — ouvir a sua voz é motivo para que as lágrimas caiam sobre meu rosto. — Estou com tanta saudades... Desculpe a minha ausência, mas a mamãe tem estado muito ocupada.

Drogada, corrijo mentalmente.

Mamãe começa com suas desculpas esfarrapadas de que esteve ocupada tentando conseguir um emprego, em arrumar um local adequado para morar e em como a maioria das pessoas a olha diferente depois de saberem do seu histórico com drogas. Conheço-a bem o bastante para saber quando ela está falando a verdade e quando é só conversa para que eu me comova e a ajude no que ela precisa, essa é Elizabeth Gray.

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