Quem vive, quem morre, quem conta sua história.

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Reagan

Não sei onde estou.

O que sei é que estou dentro de um carro em movimento, porque estava sentada de frente para a voz que passava informações sobre o caminho. Tem gente do meu lado esquerdo, volta e meia o meu ombro bate com o da pessoa, do lado direito também acontece a mesma coisa. Estou sendo transportada dentro de um furgão, mas eu estava no hospital... estava dormindo. Senti as algemas em meus pulsos, estavam machucando a minha pele, me incomodando para me ajeitar na cadeira.

Senti o cheiro de terra molhada, a chuva caía lá fora, as gotas batiam violentamente contra as janelas do automóvel. Dava para ouvir a brisa fria, as folhas nas árvores sendo levadas e levantei a cabeça para tentar enxergar além da faixa em meus olhos, vi por uma pequena fresta folhas verdes e secas voando pelo ar pela rajada de vento que as atingiam, o céu estava alaranjado como se estivesse se preparando para uma forte tempestade. A pessoa do meu lado esquerdo segurou os meus cabelos e me obrigou a olhar para frente, e a parar de tentar espiar por debaixo da faixa.

— Você podia ter colocado uma roupa melhor na garota — a pessoa à minha direita falou. Um homem. — Está frio demais para usar uma roupa como essa.

— Que diferença faria? — a voz de frente, a de uma mulher, disse. — Mark vai matar ela.

O frio na espinha correu por todo o meu corpo, o frio que eles tantos reclamavam ali dentro era um monte de nada comparado ao meu medo de ser morta. Mark tinha me sequestrado de dentro de um hospital, como ele conseguiu fazer isso? Ninguém nos viu ou ele precisou matar alguém para conseguir fazer uma coisa como essa? E por que eu não lembro de nada?

Bessie.

Ela é a primeira pessoa que me vem em mente. Ela vai se dar conta do meu desaparecimento e vai me salvar. Bessie vai conseguir fazer isso. O furgão parou de repente e mãos seguraram no meu braço com tanta força que resmunguei de dor, me guiaram por um longo caminho até o rangido de metal ser aberto. Não podia enxergar nada, mas senti como à minha volta tudo tinha escurecido, me jogaram no chão e as vozes que me trouxeram até aqui foram ficando cada vez mais distantes.

O rangido se fez presente de novo, dessa vez ecoando pelo ambiente. Eles foram embora.

Alguém se abaixou perto de mim, retirou as algemas e depois a faixa que cobria os meus olhos. Lá estava ele, Mark Sterling, com uma arma na mão e um palito de dente na boca. Apertei os meus olhos tantas vezes para tentar recuperar minha visão, mas eu estava vendo muito pouco, borrado. Me sentia diferente também, meio tonta, fraca.

— Te aplicaram um remedinho — ele falou.

Contive o grito com o medo de ser morta antes de ser salva por Bessie. Precisava distrair Mark, porque precisava ganhar tempo, precisava que Bessie descobrisse onde eu estava o quanto antes. Eu não queria morrer, tinha dezoito anos, estava noiva da mulher que amava. A vida era injusta demais.

Bessie

— Estão me dizendo que não fazem a menor ideia de onde Reagan está? Como uma paciente some sem ninguém se dar conta? — eu estava gritando com a recepcionista que não sabia qual desculpa me dar. Bati as mãos no balcão, foi quando Danon colocou a mão no meu ombro. — Eles não sabem de porra nenhuma!

— Chamei a polícia.

A polícia não ia tirar Reagan das mãos de Mark, eles não teriam uma pista sem mim, então entreguei meu celular cheio de mensagens de Mark para que a polícia tivesse por onde começar e saí do hospital, entrei no carro e segui para o Burn Ground. Mark não estava lá, não estava em lugar nenhum, comecei a chorar enquanto dirigia, as lágrimas embaçando minha visão da estrada, por muito pouco eu estava conseguindo desviar dos outros carros pelo caminho. Então eu lembrei da vez que Mark me pediu para encontrá-lo num depósito abandonado quando ele estava dando uma lição em um cara que tinha lhe roubado uma grana considerável para quase perder a vida. O maldito depósito.

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