Reagan
Tem sido os piores dias da minha vida desde que eu e Bessie terminamos o que nunca teve início. Há horas em que eu consigo me distrair, mas é fácil fazer isso quando tenho alguém por perto para conversar sobre qualquer coisa, os finais de semanas são os dois piores dias porque exigem mais de mim do que posso oferecer. Carter namora, então tenho evitado deixá-la preocupada para que ela possa aproveitar mais tempo com Meredith. Danon e Hierly são o que me resta se eu quiser sair do fundo do poço, mas tenho dado preferência a ficar trancada em meu quarto com a poltrona de frente para a janela observando a rotina de pessoas que nem conheço. Descobri recentemente que a vizinha da frente trai o marido com o vizinho ao lado, quando o marido sai para o trabalho, o vizinho o cumprimenta e meia hora depois se mete na casa dele. Ontem eu pude ver os dois transando, não tive muita escolha porque esqueceram a janela aberta, mas pararam com o que estavam fazendo quando se deram conta disso. Eles não me viram, porque me afundei na poltrona para me esconder, mas a preocupação estava estampada no rosto dos dois.
Achei que a pior parte em esquecer Bessie seria na hora de dormir, porque pensaria nela e nos momentos que tivemos juntas, mas estava enganada. Dormir é fácil, principalmente depois que criei uma regra para isso: ficar acordada o máximo que consigo até não conseguir mais. A pior parte é acordar, abrir os olhos e ver que nada do que aconteceu foi um pesadelo, e sim, a realidade. É nessa hora que eu tento afastar para longe de mim tudo o que tenha ligação com Bessie, viro de um lado para o outro na cama, olho para cima pedindo e implorando por intervenção divina, mas a dor só vai embora quando eu levanto e tento me distrair. É um ciclo vicioso do qual as pessoas à minha volta acabam sendo como bonecos até que eu enjoe deles também e volte para o meu quarto.
Ficar sozinha, às vezes, é confortável. E isso só acontece quando eu quero sentir a minha dor, porque sentir faz parte do processo. Evitar pensar no que aconteceu é como pegar a dor e guardá-la na gaveta, é dizer para ela "agora não, você já está aqui e vai doer a qualquer momento, então me dá essa folga". É enganar a si mesma, é achar que fingir que não dói e que não sente, uma hora vai deixar de doer e de sentir, mas isso não vai acontecer. A dor está lá esperando você acordar todas as manhãs só para te rasgar o peito e dizer "voltei."
Tem horas que me olho no espelho, encaro o meu próprio reflexo e repito que mereço mais, que amores vem e vão e que quando eu menos esperar vai surgir outra pessoa que vai revirar o meu mundo e me fazer acreditar no amor de novo. Só que eu não quero outra pessoa e também não quero a Bessie, não depois das conversas que tivemos, dos segredos revelados e da dor que ela me causou. Eu a amo, mas a quero tão longe de mim que questiono se o meu amor é realmente verdadeiro, se estou sendo sincera comigo mesma ou se esse desejo é só a minha mágoa falando mais alto.
Algumas pessoas tem sorte no amor, elas encontram a pessoa certa e vivem o relacionamento dos sonhos, casam, tem filhos e apesar dos problemas, permanecem unidas. Existem pessoas que se apaixonam e ensinam o que é amor. Existem aquelas que se apaixonam e nunca são correspondidas. Existe aquelas que não se apaixonam e veem os outros apaixonados e existem pessoas como eu, as que se apaixonam e em determinado momento sempre dá errado. É como se o amor tivesse prazo de validade, não porque deixo de amar, mas porque as pessoas parecem sempre cansarem de mim. O engraçado é que começo a pensar que o problema sou eu, mas é só até pensar mais um pouco e entender que não, porque também existem pessoas que amam e se assustam, assim como existem pessoas que não sabem amar e nem valorizar quem está ali por elas. A minha intensidade não é problema, o problema é quem não sabe mergulhar e prefere só molhar os pés, é quem estende a mão prometendo coisas que não pode cumprir, mas mesmo assim promete só pelo prazer de preencher o seu deposito emocional iludindo o outro.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Love Affair
RomanceEla quase a atropelou. Se aquilo fosse o destino lhe dizendo que, para conhecer o amor da sua vida, Reagan Gray precisava ver a morte passar diante dos seus olhos, talvez ela já tivesse tentado fazer isso antes. Ela não era uma suicida e nem nada do...