É isso que você chama de amor?

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REAGAN

Abro o meu Instagram, desço pelo feed entediada por não ter com quem conversar. Carter e Meredith estão em um piquenique, ao menos é o que posso deduzir pela foto no parque que Meredith postou segundos atrás, segurando uma mão misteriosa que todos sabem a quem pertence. Erick está resolvendo alguns assuntos com seu pai e eu estou, em pleno final de semana, trancada em meu quarto tentando ignorar o mundo lá fora. Estar sozinha vem sendo o meu maior teste de sobrevivência, com tudo o que descobri sobre o meu pai e com a minha mãe fora da clínica de reabilitação, acho que estar viva ainda é um milagre. Respirar é uma tarefa que exige de mim mais do que posso oferecer, é sufocante, eu quero e desejo morrer sempre que Bessie me vem em mente, quando imagino ela com Lucca Devito ou Jessica Platte, quando a imagino sorri sem mim. Afinal, como ela consegue sorrir sem mim?

Eu lembro de todas as coisas que ela me disse quando estive na casa de Jessica, elas correm pela minha cabeça o tempo inteiro, principalmente quando vou dormir, me tirando o sono e causando os piores pesadelos. Queria que ela estivesse aqui porque sempre esteve, mas ela não está. Agora todas as nossas lembranças juntas são apenas isso; lembranças, memórias que serão apagadas com o tempo e pelo tempo.

Ainda descendo pelo feed, vejo uma foto de Bessie com Lucca Devito abraçados em um desses eventos que mais parecem fazer parte do mundo de Serena Redfield. Lucca está com a mão em volta da cintura de Bessie, com um daqueles seus sorrisos capazes de derreter qualquer mulher, mas que o motivo é por estar ao lado dela, da mulher que tanto ama e venera. A legenda da foto é o que me machuca, é o que me remete ao nosso passado conturbado.

"Amores vem e vão, mas você é para sempre. Jamais serei capaz de explicar o amor e a gratidão que sinto por você, mas passarei a vida tentando lhe devolver um pouco de tudo o que me dá. Eu te amo e sempre te amarei."

Tudo faz sentido.

Às lágrimas caem dos meus olhos e meu peito aperta quando meus olhos releem pela quinta vez a legenda. Das fotos que tiramos juntas, nenhuma foram postadas em seu perfil, vivi às escondidas, ganhando desculpas, justificativas sobre como não poderíamos ficar juntas, em como era complicado explicar o porquê. Ganhei sumiços, dias sem respostas e procuras, além de um coração partido, mas ela está bem, tem um relacionamento maravilhoso com um advogado milionário, a pessoa certa que pode entender o quão complicado é o seu trabalho. Alguém que cometeu um erro desprezível, mas que ganhou o seu perdão enquanto eu sou condenada por algo que não fiz.

E ele fica com as declarações.

Ontem à noite o meu celular tocou quando eu estava quase pegando no sono. O seu nome na tela do aparelho me fez sentar na cama instantemente, com o coração batendo a mil e a boca seca demais para pronunciar alguma palavra. Ficamos em silêncio por minutos ouvindo a respiração uma da outra, aproveitando a companhia uma da outra pela última vez. Era um adeus, eu sabia disso, sentia que ela estava escapando por entre os meus dedos e não tive forças para segurá-la.

Mas discutimos, mais uma vez, depois que John se tornou o assunto principal da nossa conversa.

— Você me enchia com todas aquelas cobranças. — ela disse, estarrecida.

— Em nosso relacionamento era eu quem fazia tudo. Fui eu quem deu em cima de você, eu que entrei na sua vida, eu que corri atrás depois dos seus sumiços, eu que fui paciente esperando você decidir o que queria e o que sentia, mas agora Bessie, não temos volta, não quando ao invés de você tentar fazer algo por mim, por nós, você recua e recusa.

Minutos depois a resposta dela foi um "sim", sem enrolação, sem tentativas para mudar de assunto. Entalado no fundo da garganta, mas a resposta foi "sim". Ele saiu, rouco, num sussurro quase sem voz. Eu peguei o cobertor, o frio invadia o quarto empurrando a janela semiaberta com a ventania brusca do meio da noite, me encolhi com a possibilidade do que sabia que viria em seguida. Peguei o porta-retratos na cabeceira da minha cama e fiquei perdida no dia em que tiramos aquela foto na praia, com suas mãos quentes e macias me abraçando por trás e a sua boca em meu pescoço fazendo mais do que depositar um simples beijo, foi uma mordida que me fez rir bem na hora que bati a foto.

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