Não te desejo mal, te desejo o que você merece.

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Reagan

— Nunca pensei em ter filhos — diz de repente, voltando a me encarar. Ela contorce um pouco a boca, não exatamente em um sorriso, mas em um sinal de chateação. — Eu nunca pensei em ser mãe. Como eu poderia ser mãe se eu não tive uma? É impossível, loucura eu diria.

A lembrança da conversa que Bessie e eu tivemos na praia ecoou na minha cabeça a noite inteira, virei tanto na cama que quase caí da mesma, encarei o teto e pensei em tudo o que estava sentindo: ódio, raiva e a vontade incontrolável de matar Lucca Devito com as minhas próprias mãos. Me senti mal por ter pensado o pior de Bessie quando ela me contou sobre a gravidez. Eu cogitei um descuido, a culpei por não ter usado preservativo, por não ter feito o uso do anticoncepcional, e a verdade é que Lucca Devito, o bom samaritano, o advogado que Bessie tanto vê como um herói, na verdade, é o vilão. Lucca confessou ter escondido o anticoncepcional e prometeu que no dia seguinte lhe compraria as pílulas, mas não cumpriu sua promessa.

Quando nos encontramos na lanchonete ontem, eu fui embora sem lhe dizer uma única palavra. Quis xingá-lo, até segurei a xícara de café quente nas mãos cogitando jogar o conteúdo na cara dele só para destruir o rosto que arranca tantos suspiros, para lhe tirar algo que ele nunca poderia recuperar de volta, nem mesmo se fizesse mil cirurgias plásticas depois. Mas o arrependimento que transparecia em seu rosto já era o suficiente, eu não precisava fazer nada para machucá-lo, porque ele mesmo remoía por dentro o peso do seu próprio erro. A culpa se tornou o seu maior inimigo.

Estou descendo do meu carro no estacionamento quando avisto Lucca Devito encostado no seu caríssimo automóvel preto, não conheço o modelo, mas é tão elegante quanto os de Bessie. Ele mantém uma certa distância de Bessie que está sentada no paralelepípedo com as mãos no rosto. Coloco a mochila nos ombros e vou até eles, passo pelo advogado cujo a mão segura meu braço quando me aproximo.

— Ela sabe o que te falei ontem sobre a gravidez, mas só isso.

— Tire a mão de mim — só peço, no meu tom de voz mais frio. Ele solta o meu braço e agacho-me no chão à frente da morena que seca as lágrimas assim que nota a minha presença. — Bessie, o que está fazendo? Levanta.

— Isso é demais pra mim, Reagan — choraminga, abaixando o rosto para que eu não a veja chorar. Levo uma mão ao seu queixo para obrigá-la a olhar para mim. Ignoro o seu semblante cansado e suas olheiras gigantes, secando suas lágrimas com meus polegares. — Eu não quero fazer isso...

— Não quer fazer o que? — pergunto cautelosa, mas ela não responde.

— Ir ao médico — Lucca interfere, cruzando os braços. — Ela se recusa a cuidar da gravidez.

A voz de Lucca me irrita muito, mas tento ignorá-lo, fazer de conta que ele não existe e que não está ali parado me fuzilando com o olhar repleto de ciúmes. Brigar com ele agora só vai piorar toda a situação. Com cuidado, ajudo Bessie a se levantar e a guio para dentro do carro do advogado, lhe garantindo que vai ficar tudo bem e que por mais que eu deteste concordar com Lucca, ele tem razão, ela precisa cuidar do bebê. Bessie está no banco de trás, estou colocando o cinto de segurança nela quando a sua mão toca a minha e seus olhos me pedem para não ir embora quando Meredith me chama para a aula. Entro no carro, sentando ao lado dela e fecho a porta do mesmo, o olhar de Lucca pesa sobre mim quando a mulher que amamos deita a cabeça em meu ombro e fecha os olhos.

Ele assente discretamente para mim, quase imperceptível, não sei decifrar se o seu agradecimento é sincero, mas não procuro verdade em seus olhos quando vejo o reflexo deles no retrovisor no teto do automóvel.

— Você deve estar me achando uma idiota por agir desse jeito — a voz de Bessie é tão baixa que se perde facilmente entre o som de música clássica que Lucca colocou minutos atrás. — Pode rir se quiser, talvez eu mereça depois de tudo o que te fiz.

Love AffairOnde histórias criam vida. Descubra agora