Assim é a vida, amor.

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Reagan

Oito meses depois

O casamento é o momento que toda mulher — ou quase todas — sonham desde criança. Eu sonhava em encontrar o príncipe encantado montado em um cavalo branco ou o mocinho que seria capaz de fazer qualquer coisa por mim, quem sabe até chamar a atenção do garoto mais popular do colégio e casar com ele, assim como acontecia nos filmes. Mas, quando vim morar com o meu tio Danon em Eugene, a minha vida mudou, as certezas que eu tinha sobre a vida foram questionadas por um belo par de olhos verdes-esmeraldas. Não me apaixonei pelo príncipe encantado, mas por uma garota de programa, e diferente do que acontecia nos contos de fadas, ela não morava em um castelo, tinha sido moradora de rua durante boa parte da sua vida. Não tive clichês na minha história de amor, ao invés de uma bruxa má tentando separar nós duas, o vilão da nossa história de amor era o chefe do prostíbulo onde ela trabalhava. Como eu disse: nada de clichês.

Fiquei em coma por mais de quatro meses e perdi uma boa parte das vidas das pessoas que amo, perdi o rompimento do relacionamento da minha melhor amiga com a minha outra melhor amiga. Fui interrompida de conhecer melhor o meu irmão por ter sofrido um acidente, perdi o divórcio dos meus tios, perdi meses ao lado da mulher que amo quando decidi dar uma nova oportunidade para nós duas e perdi o nascimento da filha dela, da nossa filha. Também perdi o casamento de Bessie com Lucca Devito, mas acho que essa foi a única parte boa em ter passado tanto tempo em coma, porque mesmo sabendo o motivo pelo qual a mulher que eu amo ter unido a vida dela a de outra pessoa, eu não teria suportado lidar com isso. Fui sequestrada por Mark Sterling um dia depois de ter acordado do coma, pensei que fosse morrer até ser salva por Bessie e ela levar um tiro no meu lugar, então pensei que ela tinha morrido, fiquei triste, quis morrer e quando menos esperei, ela apareceu no hospital com os cabelos cheios de terra e manchas de sangue pelo corpo me pedindo desculpas por ter fingido a própria morte para que eu não a seguisse e fosse com ela à procura do Mark.

A minha primeira reação foi de choque, a segunda foi uma enxurrada de xingamentos que até hoje não me arrependo de ter dito. Ela me beijou, eu a desculpei, e ela me contou todos os detalhes do que tinha acontecido e me disse que em breve a polícia iria recolher o meu depoimento. Bessie me pediu para mentir em relação a Lucca Devito para sustentar para as autoridades a versão da história na qual ele tirou a vida de Mark em legitima defesa. Não estava em discussão o motivo ou o porquê, eu segui o roteiro exatamente como ela me pediu e a polícia não fez nenhum questionamento a respeito. A vida é mesmo fácil para quem tem dinheiro e poder, Lucca Devito, por sorte, sempre teve as duas coisas e usou isso da melhor maneira possível para dar um fim na vida do homem que estava disposto a matar a mãe da sua filha. Mark, que antes de morrer, tinha confessado boa parte dos crimes que havia cometido na gravação do celular de Bessie, foi declarado culpado pela morte de James Condor. A polícia também descobriu que, dos homens que ajudaram Mark a me sequestrar, um deles era enfermeiro e trabalhava no hospital onde eu estava internada.

A história contada para a polícia foi a de Mark Sterling ter uma obsessão doentia por Bessie Lotrov, a garota de programa de quem ele mais lucrava dos seus clientes e que, por ter aceitado o pedido de casamento do advogado, isso despertou a fúria de Mark, fazendo-o ameaçar a vida de todos aqueles que ela amava, inclusive a minha, a ex-namorada. Para que a polícia não desconfiasse com a entrada dos papéis do divórcio, Bessie precisou contar uma meia verdade: ela ia casar sem amor, por despeito depois de ter sido rejeitada por mim que já estava em um relacionamento com Erick Palmer, e claro, porque desejava a sua liberdade do prostibulo, ela não queria mais ser garota de programa e achou que casando, Mark não iria impedi-la, afinal, ela estaria casando com um dos homens mais poderosos do país, mas quando Mark descobriu a verdadeira intenção do casamento, ficou possesso. Nossa versão da história foi digna de um livro de suspense com uma baita dose de romance, por isso comecei a escrever a respeito e publiquei no meu blog. Para a polícia, cada capitulo que eu postava era inspirado em tudo o que tinha vivenciado, mas para mim, era baseado em fatos reais e descobri uma nova paixão fazendo isso; a escrita. Eu não fazia a menor ideia se iria chegar onde tanto queria, mas depois de tantas pessoas começarem a ler Love Affair — título que dei a minha história de amor com Bessie —, tantas visualizações, eu ia mergulhar fundo nisso assim que terminasse a faculdade de medicina. Até então eu já tinha escrito alguns rascunhos, vez ou outra ia para a frente do meu notebook salvar uma ideia que me vinha no momento mais aleatório possível e fiz uma pastinha destinada ao que, mais para frente, seria um livro.

Love AffairOnde histórias criam vida. Descubra agora