Isso não foi um grito de socorro.

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Reagan

Me olho no espelho pela última vez.

A maquiagem pesada e chamativa é justamente do que preciso para chamar atenção. A saia e o top de renda não são as peças que costumo ver as meninas do Burn Ground usando, mas espero que sejam o suficiente para que eu consiga atingir o meu objetivo essa noite. Vou até o quarto dos meus tios para conferir se ainda estão dormindo e suspiro aliviada por saber que sim, a porta está entreaberta e posso ver os dois dormindo de conchinha, é um pouco estranho ver que por baixo de todo o jeito durão de ser da minha tia, no fundo ela é como todo mundo e adora dormir agarrada com quem ama. Desço as escadas e saio de casa vestida no sobretudo que Carter esqueceu na última noite que dormiu aqui, o clima de Eugene anda mais frio que nunca nas últimas semanas, não chove, mas tem batido recordes de temperaturas frias. Coloco as mãos no bolso do sobretudo na intenção de esquentá-las no tecido e funciona.

São longos minutos de caminhada até eu chegar no Burn Ground, o prostibulo onde Bessie trabalha. Não sei se ela está lá dentro dando o seu show como muitas das meninas costumam fazer, mas ouço os gritos eufóricos dos clientes da esquina de onde estou. Tem garotas em cada ponto, em frente ao Burn Ground, no fundo dele, do outro lado da rua, em outras esquinas, todas em seus respectivos pontos à procura de um cliente, de um carro que estacione e lhes ofereçam um valor para que elas possam entrar e fazer seu trabalho. Muitas delas são desconhecidas para mim, não me recordo de tê-las visto quando visitei o prostibulo com Bessie. O negócio de Mark deve ser muito maior do que eu imaginava.

Respiro fundo e retiro o sobretudo para dar início ao meu plano, me sinto nua apesar de estar vestida, mas não é só isso, me sinto vulgar e fácil, a saia está extremamente apertada em mim e dificulta o meu caminhado, minhas pernas estão espremidas na peça que agora esquenta e gruda em minha pele. Piso numa pedrinha na calçada e tropeço, quase derrubo o sobretudo na poça de lama no chão. Solto um palavrão que chama a atenção das minhas concorrentes, sinto o olhar pesado que cada uma lança na minha direção causar o calafrio que percorre a minha espinha e abraço a mim mesma na intenção de amenizar o vento frio que toca minha pele.

— É desse jeito que eu gosto, novinha e gostosa — fala o homem do carro que para ao meu lado. — Está pedindo quanto, vadia?

Cabelos grisalhos, provavelmente com idade para ser o meu pai, olhos negros, barrigudo, mas a julgar pela correte de ouro no pescoço, o Rolex reluzindo no pulso esquerdo e o modelo do seu carro, ele parece ter muita grana. Aproximo-me do automóvel, uma BMW X1 branca, ponderando tudo o que estou prestes a fazer com esse homem que olha para meus seios como se nunca tivesse visto nada parecido antes. É nojento e asqueroso, mas é o que preciso fazer pela minha mãe, não tenho outra alternativa para conseguir dinheiro que não seja essa. Pelo retrovisor no teto do carro, encaro meu reflexo com desgosto, pensando no quanto meus tios ou até mesmo a minha mãe ficariam magoados em me ver desse jeito.

— Digamos que preciso de uma quantia considerável.

Ele assente com a cabeça e aponta com o seu dedo indicador, com as mãos ainda no volante, para uma mulher morena à nossa frente, encostada no poste da esquina. Sigo o seu olhar e não demoro para entender o que ele pretende, mas me apavoro mesmo assim.

— Duzentos dólares se trepar com ela na minha frente e depois como as duas.

— Fala sério, você pode pagar bem mais que isso.

— É pegar ou largar.

Não preciso pensar, me afasto do automóvel dando tapinhas no teto do mesmo para que ele siga seu caminho. Bessie ganha uma fortuna com um único cliente e esse imbecil quer me pagar duzentos dólares por um ménage à trois? Não sou uma profissional do sexo, mas com certeza eu mereço mais do que duzentos dólares para ser fodida duas vezes. Espero no ponto por quase uma hora, o sono se manifesta aos poucos, estou bocejando quando um outro carro se aproxima de mim, uma caminhonete velha, o motorista é um homem muito mais novo do que o primeiro que eu tive o desprazer de conversar.

Love AffairOnde histórias criam vida. Descubra agora