Tragédia anunciada.

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BESSIE

Não consigo dormir. A ansiedade e a tristeza marcada pelo dia que se iniciou poucas horas atrás, quando o meu relógio de cabeceira marcou meia noite, não me deixam relaxar. Por isso, fico me remexendo de um lado para o outro na cama, pensando a todo o momento na tragédia anunciada que é a minha vida desde o dia em que nasci. Abandonada pela própria mãe na porta de uma igreja nas primeiras horas de vida e sem nenhuma pista de quem é o meu pai biológico, fui criada por Anthony Lotrov, um padre gentil e amoroso, mas que infelizmente morreu quando eu ainda era muito, muito pequena, me obrigando a morar nas ruas até o dia que encontrei Mark e comecei a trabalhar com ele. Além disso, a única pessoa que eu amei tanto ao ponto de assumir um relacionamento, foi morta a tiros na porta da minha casa. Eu realmente não sei o que mais falta me acontecer de ruim.

Eu sou um erro. Um grande e inconveniente erro. Talvez o meu maior erro seja continuar viva, porque em algumas horas sinto que nem disso sou merecedora. Não serei hipócrita de dizer que não me sobrou nada de bom, porque ainda tenho pessoas que amo, como Reagan, Serena, Zita e Lucca. Os quatro gostam de mim e se preocupam, mas parece que minha vida possui um buraco negro que suga tudo de bom que eu conquisto e atualmente o meu maior medo é que esse buraco negro acabe sugando eles também, porque eu não faço a menor ideia de como posso fechá-lo.

O dia de hoje é só a confirmação dessa tragédia anunciada que eu chamo de vida.

Fecho os meus olhos por um instante, respirando fundo algumas vezes para tentar relaxar. Quase consigo cochilar, mas o som do despertador preenche todo o meu quarto, anunciando que meu tempo se esgotou. Contrariada, coloco minhas cobertas para o lado e me levanto para começar a me preparar. Meus movimentos são todos mecânicos: levantar da cama, ir ao banheiro, tomar meu banho, fazer minha higiene, vestir uma roupa, descer para tomar meu café da manhã. Nada tem graça nesse dia. Acho que até o universo sabe quando você vai ter um dia de merda e faz todo o possível para te jogar ainda mais pra baixo, porque não há outra explicação para essa bolha de tristeza que se apoderou da minha vida na última semana.

É sempre assim, o meu subconsciente me lembra e sou obrigada a concordar. Dezessete anos que eu passo por essa mesma data e a dor nunca diminui, pelo contrário, ela só faz aumentar. Algumas pessoas falam muito daquele clichê de que o tempo cicatriza tudo, mas no meu caso, a minha ferida está sempre aberta e quanto mais o tempo passa, maior e mais sangrenta ela fica.

Pego o meu celular para checar as mensagens que tenho. Lucca enviou uma mais cedo, o que não é nenhuma surpresa. Ele é sempre atencioso e cuidadoso comigo.

Lucca: Bom dia, princesa. Sinto muito pelo dia de hoje. Sei que normalmente você gosta de ficar sozinha e não quero ser inconveniente de invadir o seu espaço, por isso, estarei aqui esperando a hora que você quiser me procurar. Estou enviando o meu motorista para a sua casa nesse momento. Não recuse, Srta. Lotrov, não quero você dirigindo pela cidade sozinha em um dia como esse. Pense nisso como um cuidado, uma gentileza de alguém que te ama muito e se preocupa com o seu bem estar. Vejo você mais tarde? Podemos jantar juntos essa noite, se você estiver melhor. Qualquer problema, não hesite em me ligar. Te amo!

Aperto para responder a mensagem de Lucca, dizendo que não preciso e não quero que seu motorista venha me buscar, mas Zita entra na sala com certo receio, me fazendo largar o celular. Seu olhar é doce e repleto de compaixão, algo que eu não mereço.

— O motorista do Sr. Devito está aí fora te esperando, filha — sua voz é cautelosa. — Devo pedir que ele aguarde?

— Não será preciso — respondo já me levantando. — Estou indo. Se precisar de alguma coisa, me liga, tudo bem?

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