Meu jeito de amar.

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BESSIE

Um dia eu li que o amor não é um sentimento para os covardes, porque amar requer coragem. Na realidade, a simplicidade de amar já é um ato de coragem. Amar é entrega, amar é dedicação. É colocar o seu coração na mão de outra pessoa para ela fazer o que quiser, como quiser. O amor não é um sentimento, é uma decisão. Então por que é que eu não consigo me lembrar de ter decidido amar Reagan?

Eu a amo.

Sim, eu a amo. Com tudo em mim, com tudo o que sou. A amo com todos os meus defeitos. Estou nas mãos delas, me entreguei nas mãos dela para que ela faça de mim o que quiser, mas ela não quis. Ela me dispensou, como quem dispensa uma carta em um baralho, e foi viver a própria vida.

— Eu te ligo, não se preocupe.

Mas ela não ligou.

Reagan prometeu que me ligaria depois de praticamente me expulsar de sua casa e, desde então, já se passaram sete dias desde que eu saí de lá escondida, me esgueirando pelos cantos como um rato de esgoto para não ser vista por seus tios enquanto o galã do time da escola tem todo o direito de levá-la e buscá-la na porta de casa todos os dias. Sei disso porque foi o que minhas fontes me contaram e, por minhas fontes, eu quero dizer Meredith Miller, que faz questão de me passar um relatório completo ao final de cada dia, dizendo que Reagan está cada vez mais insuportável.

Quase consigo achar graça do ódio gratuito da patricinha com o meu projeto de quase ex-namorada e eu disse quase, porque Meredith às vezes passa do ponto, mesmo sabendo que sua implicância com Reagan seja pura e simplesmente por ciúmes de Carter.

— Que cheiro de azedo é esse aqui? — Serena pergunta quando entra no meu quarto, fazendo uma inspeção minuciosa no local com o olhar — Dá pra sentir o fedor do corredor.

Seus olhos verdes analisam cada canto do cômodo com desaprovação.

— Eu estava malhando — digo simplesmente.

— Não malhou o suficiente então, pois além de fedida, você está gorda — se aproxima de mim em passos calculados e segura entre dois dedos um pedaço da minha barriga. — Bessie Lotrov com gordurinhas? Mark já está sabendo disso?

— Vá se catar, Serena!

Mostro o dedo do meio para minha melhor amiga e me levanto da cama, irritada.

Caminho para dentro do meu closet, com a loira em meu encalço, mas faço um voto de silêncio. Serena tenta puxar assunto comigo algumas vezes, mas ignoro em todas elas, apenas respondo sobre Zita quando ela pergunta. Minha empregada tirou duas semanas de férias para resolver problemas familiares do outro lado do país.

Em qualquer outro momento eu não me importaria, mas justo nessa semana foi um caos. Eu passei os últimos sete dias bebendo, comendo por delivery e trancada dentro do meu quarto, sem sequer abrir a cortina para circular algum ar. Mark ligou algumas vezes exigindo que eu voltasse ao trabalho, mas até ele sabe quando não se deve bater de frente com Bessie Lotrov, então apenas disse que me daria dois dias de folga e descontaria o restante do meu salário, mas que eu devo obrigatoriamente dar as caras na segunda-feira ou ele mesmo aparece para me buscar nem que seja arrastada pelos cabelos, em suas próprias palavras. Como se ele fosse louco! Pensando bem, ele realmente é.

— E Reagan? — Serena pergunta como quem pisa em ovos.

Sinto uma pontada forte em meu peito ao ouvir seu nome sendo pronunciado em voz alta e lágrimas tomam conta de meus olhos, mas eu resisto ao impulso de chorar na frente de outra pessoa de novo.

— Estamos bem — minto, forçando o meu melhor sorriso.

Mas Serena não se abala.

Não por acaso, somos melhores amigas. Serena me conhece. Ela sabe quem sou e como sou apenas de olhar para mim ou tocar em minhas mãos.

Love AffairOnde histórias criam vida. Descubra agora