BESSIE
Há momentos na vida em que precisamos virar as páginas, mudar o disco, mas para cada página virada, existe uma história diferente por trás dela. Caminhos são longos, jornadas são necessárias, mas nenhuma dor é merecida. E, infelizmente, tudo o que eu acumulei ao longo da minha vida foi dor. Dor pelo abandono de uma mãe que não me quis, pela morte do padre que me criou, pelo desespero de viver nas ruas por mais de dez anos, pela fome e frio que passei, pelo estupro que sofri, pelo assassinato de uma namorada e pelas muitas aventuras que poderiam ter sido mais profundas se eu me permitisse me jogar de cabeça ao invés de temer por mais uma dor.
É tão idiota e clichê quando dizem que a dor faz parte do aprendizado, porque subestimam a gente. Acham que nós só conseguimos melhorar como pessoa se passarmos por alguma dor. Não concordo com isso. Eu pedi ajuda aos céus, ao sol, à lua, às estrelas ou para qualquer força existente nesse mundo, mas tudo o que obtive como resposta foi solidão. E mesmo assim, não importa o quão dolorida seja a sua história, as pessoas sempre vão achar uma maneira de te julgar e apontar o dedo na sua cara. Nunca estendendo uma mão, nunca perguntando se você está bem, mas sempre te subestimando e reduzindo você às escolhas que você teve que tomar para sobreviver.
Eu não escolhi ser prostituta por vontade própria. Depois que fui abusada por John Wilson, tentei encontrar um emprego, algo provisório, mas que fosse o suficiente para que eu pudesse comprar comida e tomar um banho no final do dia, porque comer qualquer coisa das ruas me enojava. Tudo à minha volta me dava ânsia de vômito, porque era como se tudo tivesse sido tocado por ele. O reflexo no espelho sempre foi o meu maior inimigo. Por muito tempo, não conseguia olhar para dentro de mim sabendo que eu não era mais a mesma. Sentia nojo de mim, como se John Wilson estivesse em minha pele, correndo em minhas veias. E é assim que eu me sinto até hoje: marcada pelo homem que destruiu a minha vida.
Encontrei Mark, meu patrão, em uma noite qualquer. O vi convidando algumas garotas de programa numa esquina, prometendo-lhes muito dinheiro e conforto. Não foi a alternativa mais fácil que me apareceu, mas foi a única que me restou, porque ninguém na cidade queria contratar como funcionária uma moradora de rua que mal conseguia escrever o próprio nome numa folha de papel. Em um primeiro momento, Mark não queria me contratar, disse que não trabalhava com garotas virgens, não importava o quão belas fossem, e que eu deveria procurar uma agência de modelos, mas depois que lhe contei minha história, ele mudou de ideia. Sua única condição era que eu mudasse o meu nome, não deveria revelar para nenhum dos meus clientes, nunca, mas acabei falhando nisso também.
Apesar de tudo, não costumo reclamar da vida que tenho. Trabalhando com Mark eu consegui dinheiro suficiente para estudar e cuidar de mim mesma. Alguns anos depois conheci Lucca, Serena e Bree, que me ajudaram em tudo o que eu precisava. Graças à eles três, hoje tenho uma quantia expressiva no banco, uma casa própria, dois carros e mais alguns bens, que vão me garantir um bom futuro quando eu finalmente conseguir sair desse trabalho de merda.
Outra coisa que falam muito para mim é: por que você não sai dessa vida se já tem o suficiente? As pessoas realmente acham que é fácil assim, que ser garota de programa é como ir à um parque de diversões, que você pode entrar e sair a hora que quiser, sem medo de voltar, mas no meu trabalho, no meu caso em específico, não é bem assim que as coisas funcionam. Mark não estava brincando quando me disse que eu era bonita o suficiente para me tornar sua mina de ouro e hoje sou considerada sua maior fonte de renda. É por isso que eu tenho o privilégio de só atender clientes pré-selecionados e é por isso também que não preciso trabalhar no bar todos os dias. Meu patrão exige de mim apenas um show por mês e é nesse único dia que ele ganha mais dinheiro do que em todos os outros dias com as outras meninas do local. No início Mark tentou me passar a perna, me oferecendo apenas 30% de tudo o que eu ganhava, mas ele melhor do que ninguém sabe que é mais vantajoso para os negócios que eu esteja sempre satisfeita e, por isso, aumentou a minha comissão para 50%. Somando com tudo o que ganho por fora com Lucca e Serena, digamos que eu tenha dinheiro o suficiente para sustentar três gerações inteiras de uma família com muitos filhos.
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Love Affair
RomanceEla quase a atropelou. Se aquilo fosse o destino lhe dizendo que, para conhecer o amor da sua vida, Reagan Gray precisava ver a morte passar diante dos seus olhos, talvez ela já tivesse tentado fazer isso antes. Ela não era uma suicida e nem nada do...