As mentiras mal escondidas.

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Bessie

Pedi licença à Sra. Jackson para ir ao banheiro. Não estava me sentindo bem. Uma das piores coisas na gravidez é ficar enjoada de tudo, não só do que você come, como de tudo à sua volta, inclusive, das pessoas. Eu estava assim, não suportava mais olhar para a cara de Erick na sala de aula lançando olhares para Reagan. A minha Reagan. E ela correspondia. Eles não pareciam bem um com o outro e sinceramente, aquilo era o pior. Ver a mulher que eu amo olhando de volta pro cara que eu queria muito quebrar a cara. Só que eu não podia fazer nada, se eu estava naquela merda de situação foi porque me coloquei, porque preferi agir pelo impulso e dizer coisas horríveis para Reagan do que ser sincera e abrir o jogo do que estava realmente acontecendo. Porra, eu odiava concordar com Serena, mas estava começando a achar que ela tinha razão. Eu exagerei. E quando você sabe que fez merda e que está a ponto de perder o amor da sua vida porque não soube agir feito gente, você meio que quer correr atrás e fazer o possível para reparar o dano.

O problema é o meu orgulho. O meu problema sempre foi a porra do meu orgulho. Ir até lá, pedir desculpas, pedir por uma chance... Isso não é algo que Bessie Lotrov faria. Eu não corria atrás de ninguém, as pessoas eram quem corriam atrás de mim; porque me queriam, porque o sexo era bom, porque eu era a melhor no que fazia. Até Reagan foi esse tipo de pessoa, a que corria atrás e fazia questão da minha disponibilidade, do meu tempo, da minha atenção, do meu amor, mas isso havia mudado. Mark ainda era um perigo para Reagan, para mim, mas tinha aquela coisa dentro de mim me consumindo toda vez que eu olhava para Reagan: egoísmo. Pensar em mim, na minha felicidade se voltasse a ter ela em meus braços, nos meus desejos mais carnais quando fizéssemos amor. Por um instante eu pensei: foda-se essa merda, não vou perder a mulher que eu amo.

Mas aí eu saí correndo pelos corredores até o banheiro.

Vomitei dentro da privada, coloquei para fora até o que não lembrava de ter comido. Depois lavei o rosto, olhei para o meu reflexo no espelho e dei graças a Deus por ter esquecido o conselho de Nina. A porta do banheiro abriu, era Reagan, ela me seguiu e vou dizer, as palavras de Serena Redfield me vieram em mente de novo. Quando meus olhos pararam nos de Reagan, foi surreal, ela tinha aquele misto de preocupação e amor que me fizeram cambalear para o lado, precisei me segurar no balcão da pia para não cair. Seu olhar desceu para a minha barriga. Mark já sabia da minha gravidez, mas eu ainda usava roupas com o dobro do meu tamanho. O motivo? Sei lá, acho que não queria metade do colégio me encarando como se eu tivesse perdido uma vida incrível por ter engravidado ou que os cochichos corressem pelos corredores sobre quem era o pai. Detestava ser assunto de fofoca.

— Você está bem? — ela perguntou, ainda olhando para a minha barriga. A preocupação dela com uma criança que nem era sua me intrigava muito. Reagan tinha que odiar Kenna, era filha de Lucca e não dela. — Se não estiver, posso te levar para o hospital.

Ia responder que estava bem e que não precisava dela, mas eu estava tão sensível que a sua preocupação me deixou com os olhos cheios de lágrimas. De repente, um garoto apareceu na entrada da porta do banheiro feminino, ele ia passar direto, mas como viu Reagan parada na entrada da porta, parou e colocou a mão na cintura dela. Revirei os olhos diante da cena. Que merda era aquela? Mais um ficante que eu não estava sabendo?

— Vem cá, você não é um pouco bebê demais para ela não? — perguntei para o menino, cruzando os braços e me encostando no balcão da pia.

O garoto sorriu de um jeito que gelou a minha espinha. Tinha algo familiar naquele sorriso. E não era familiar de um jeito bom, era familiar de um jeito ruim, de um jeito que me fez descruzar os braços e encará-lo profundamente. Apesar de ter aparência de mais novo, ele era quase da mesma altura que Reagan. Cabelos negros. Olhos cinzas. Pareciam uma cópia um do outro. Tentei ignorar a parte do meu cérebro que dizia "você é o que você come", porque eu não queria acreditar que Reagan estivesse transando com outras pessoas.

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