BESSIE
Não sei o que fazer agora ou como agir. Reagan acabou de dizer que me ama, despejou em cima de mim todos os seus sentimentos e eu nem sequer sei o que fazer daqui pra frente. Sei que ela deve estar se sentindo uma idiota por ter se apaixonado por uma garota de programa, mas esse não é o tipo de coisa que a gente consiga controlar. Dentro de mim eu peço, quase imploro para Deus ou para qualquer força que move esse mundo para que seja verdade, para que eu finalmente tenha uma vida normal com alguém que me ame verdadeiramente, mas isso não é uma opção, não para Scarlett Moore, o nome que eu uso quando estou atendendo os meus clientes.
Olho para a garota à minha frente, que desvia o olhar do meu. Não consigo formular uma frase com sentido que seja, nada que faça ela se sentir melhor. Ainda estou perplexa por ela ter dito que me ama. No fundo, acho que não é justo com ela. Eu não mereço ser amada, não mereço que Reagan se envolva no meu mundo, porque sei que isso a destruiria completamente. Não é justo que Reagan me olhe desse jeito, com esperança, como se eu fosse uma pessoa incrível, como se eu fosse normal. A realidade é que eu sou quebrada. Suja, baixa. Sou tudo aquilo que uma pessoa não quer para a própria vida, mas mesmo assim, ela não me julga, não aponta o dedo. Pelo contrário, só tenta cuidar de mim e me dar todo o amor do mundo, fazer eu me sentir importante pela primeira vez na vida.
— Já vai para casa? — pergunto finalmente, quebrando o silêncio entre nós.
Reagan assente e eu retiro a mochila de suas costas, passando uma mão por sua cintura.
— Eu te levo.
Saímos do colégio e vamos até o meu carro. Abro a porta para ela, que entra e coloca o cinto de segurança. Quando entro também, seguro em sua mão e a beijo delicadamente. A confusão em seu rosto demonstra o quanto ela não entende os meus gestos. Pra falar a verdade, nem eu entendo, mas não consigo me controlar quando estou perto dela.
Na minha vida, eu fui obrigada a saber desde cedo que não posso me envolver com qualquer pessoa, mas com Reagan é tão diferente. Diferente até mesmo do que aconteceu com Nadia. Esse frio na minha barriga, esse nervosismo, isso não é normal. Ou é?
— Não acho que seja uma boa ideia — Reagan diz quando vê que eu passo direto pela rua da casa dos seus tios, pegando outro caminho. Minha mão ainda está na dela e eu entrelaço nossos dedos, ignorando seus apelos. — Bessie, me leva para a minha casa.
— Quero te mostrar uma coisa — digo simplesmente, sem tirar meus olhos da estrada.
O caminho para o Burn Ground, meu local de trabalho, não é longo, mas um pouco deserto. Não é de bom tom que um bar-prostíbulo seja no meio de uma cidade pacata, nas vistas de qualquer um. Apesar de Mark esconder muito bem tudo o que acontece lá dentro, a maioria das pessoas sabem e é por isso que procuram o local quando querem "se divertir".
Estaciono meu carro na minha vaga de sempre, reservada só para mim. O nome "Scarlett Moore" está pintado numa placa bonita para sinalizar que a vaga tem dona. São os privilégios de ser a maior estrela da casa. Reagan analisa o lugar ao redor e fixa seus olhos na enorme placa em neon escrita "Burn Ground".
— É o que eu estou pensando? — ela pergunta e eu assinto. — Bessie...
— É aqui que eu trabalho — respondo.
Desligo o carro e retiro o meu cinto de segurança, descendo do veículo em seguida. Reagan continua sentada dentro dele, ponderando se deve descer ou não. Seu olhar transmite todo o medo do que pode vir a encontrar lá dentro, mas o brilho de curiosidade no fundo dele me faz perceber que ela quer isso mais do que qualquer outra coisa.
— Desce — eu digo quando abro a porta para ela.
Reagan ainda hesita por um minuto, mas retira o cinto e desce. Seguro sua mão com delicadeza e adentro o meu local de trabalho junto com ela. Para a nossa sorte, Mark não está, mas ele dificilmente para aqui durante o dia. O bar está funcionando normalmente, como todos os dias. Os olhos da minha garota vasculham tudo ao redor, a curiosidade exalando por todos os seus poros. Algumas meninas estão ensaiando suas coreografias no palco e eu reviro os olhos quando Reagan se demora no olhar para elas. Resmungo baixo e puxo sua mão, atraindo sua atenção para mim novamente. Sigo com ela pelo enorme corredor de quartos, indo até o final do mesmo e parando em frente à enorme porta branca de madeira maciça que há ali. O letreiro com o nome "Scarlett Moore" é dourado e chamativo, deixando claro que a dona do quarto é a maior estrela da casa.
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Love Affair
RomantikEla quase a atropelou. Se aquilo fosse o destino lhe dizendo que, para conhecer o amor da sua vida, Reagan Gray precisava ver a morte passar diante dos seus olhos, talvez ela já tivesse tentado fazer isso antes. Ela não era uma suicida e nem nada do...