Um pedaço meu.

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Bessie

Eu estava no quarto de Reagan, no hospital, sentada na poltrona lendo "O pequeno príncipe" quando comecei a sentir contrações. Foi quando olhei para o chão e me dei conta de que a minha bolsa tinha estourado e eu nem tinha reparado nisso. Levantei, olhei para a minha barriga, pousei a mão ali em cima pedindo para Kenna que ela continuasse ali dentro porque eu não queria fazer isso sem Reagan do meu lado e a dor aliviou um pouco, achei que tinha ido embora, estava quase voltando a sentar na poltrona quando senti outra contração mais forte. Andei pelo quarto feito uma idosa de oitenta anos, a passos de tartaruga e abri a porta, a Dra. Dillard foi a primeira médica que vi na minha frente, ela estava acompanhada pela filha e foi Nádia quem me viu antes de eu pedir por ajuda.

Elas me colocaram numa cadeira de rodas, a Dra. Dillard me pedia para controlar a respiração, mas francamente, como eu ia controlar a droga da respiração com um bebê querendo sair do meio das minhas pernas? Comecei a entrar em pânico e a dizer que não ia conseguir, que era melhor Kenna continuar lá dentro porque eu não ia ajudar ela a vir ao mundo. Eu não era uma mãe tão ruim assim, considerando que o mundo é um lugar perigoso e cheio de maldades, eu estava querendo o melhor para a minha filha, ali dentro ela estava protegida e em segurança, eu podia protegê-la dentro de mim.

Na verdade, eu era uma péssima mãe. O que eu não queria era que ela saísse, queria evitar a dor que eu ia sentir nos próximos minutos.

— Vou ligar para Lucca — Nádia falou, tentando me tranquilizar.

Segurei o seu braço quando ela tirou o telefone do bolso e a encarei, queria ter olhado para Reagan, mas não consegui, já estava sendo arrastada pelos corredores. Queria Reagan segurando a minha mão, me pedindo para respirar junto com ela, me pedindo para colocar força, mas o amor da minha vida estava em coma no mesmo hospital onde eu ia dar à luz.

— Nina — eu disse, mas achei que minha voz não soou alta o bastante, então gritei quando ela parou no meio do corredor. — Ligue para Serena Redfield!

Fui levada para a ala materna, me colocaram dentro de um quarto, em cima de uma cama e uma médica logo veio me ver. Ela disse que eu estava quase lá, não entendi o que ela quis dizer até que saísse do quarto e uma enfermeira me dissesse que eu precisava dilatar mais um pouco.

— O que eu preciso fazer para tirarem essa coisa de dentro de mim? Virar uma vaca? — minha impaciência andava de mãos dadas com o mau humor. — Ô, porra!

Foram os piores cinquenta minutos da minha vida até Serena chegar e segurar a minha mão, depois que ouvi o choro de Kenna comecei a chorar. Eu tinha me tornado mãe, agora era oficial, a minha filha tinha vindo ao mundo e estava ali nos meus braços. Tão branquinha que o rosto era salpicado de uma tonalidade vermelha nas bochechas, os olhos bem clarinhos, mas difícil de distinguir a tonalidade de verde deles, aquilo era meu. Diferente da cabeça cheia de cabelinhos loiros, Kenna tinha uma coisa minha. Fiquei olhando a minha filha nos meus braços, encarei-a por tanto tempo que comecei a achar ela parecida com Reagan, talvez o formato do nariz, da boca ou a cor de pele. Era coisa da minha cabeça, era só o meu desejo de encontrar em Kenna alguma coisa que me fizesse quebrar o muro entre nós duas. Não consegui. Peguei os meus tijolinhos e comecei a levantar o muro, não importava quantos anos se passassem, Kenna nunca foi uma escolha minha e agora, o seu rosto, o seu choro e a sua voz seriam a lembrança disso.

Quando Lucca Devito chegou depois, pegou Kenna em seus braços, estava emocionado demais para falar, então só ficou ali sentado com ela na poltrona. Vi quando ele segurou a mãozinha de Kenna com os dois dedos, Serena segurou a minha, acho que ela percebeu que eu estava segurando as lágrimas diante da cena que estava na minha frente. Não queria chorar porque Lucca estava feliz, queria chorar porque eu sabia que nunca teria esse tipo de vínculo que ele tinha com a nossa filha.

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