Ela é filha dele, é o que restou dele.

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JESSICA

Um final de semana na fazenda não é o que tinha em mente para relaxar, mas Skyla achou que me faria bem ficar em um ambiente calmo e sem estresse desde a minha última consulta com a terapeuta. Ainda tenho pesadelos durante as noites, crises de pânico onde me desespero com lembranças do meu passado, de quando eu estava na penitenciária e precisava lidar não só com os carcereiros e detentas querendo me prejudicar de alguma forma, mas com o fantasma de John que carrego em minhas costas. Ele está comigo o tempo inteiro e quando algo em minha vida dá errado, eu quase posso ouvir a sua voz ao meu pé do ouvido sussurrando o quanto eu sou uma tola e que isso é só o começo do inferno que me prometeu.

Anos atrás, eu me envolvia em brigas com outras detentas só pra conseguir sentir algo além do medo constante que me tirava o sono, a fome e a vontade de viver. Levar um soco, causar a ira nas pessoas era a minha distração preferida, porque era a minha única maneira de evitar ouvir a voz de John Wilson. Era a única maneira de me sentir viva, de sentir que escapei da minha quase morte, que consegui salvar a todos que amava, era o lembrete a ser fixo em minha mente: eu estava viva e John estava morto.

Não sou uma guerreira, porque guerreiros se vangloriam de suas vitórias e esquecem o passado, deixam para trás tudo aquilo que vivenciaram. Uma sobrevivente. É essa a palavra que mais me define, uma sobrevivente, porque venci o que queria me destruir, lutei com todas as minhas forças pelo que queria, mas ainda repriso tudo em minha mente. Eu não consigo esquecer. John está marcado em mim, em minha alma. Ele é a minha própria sombra.

Desço do automóvel e vou até a porta do passageiro para retirar Lynn. A pego em meus braços, está tão adorável na calça jeans e a camisa social branca que Dabria lhe deu de presente, as botas que compramos ontem quando decidimos que passaríamos o final de semana na fazenda completa seu visual dando o ar de uma pequena aventureira, uma pequena fazendeira. Dabria contorna o automóvel e coloca o chapéu de cowboy na cabeça de Lynn, ela sorri para aquela que lhe criou por todos esses anos em que estive fora, e faz isso com tanto amor e carinho que uma pontada de ciúmes atravessa o meu peito.

Dabria criou Lynn por cinco anos junto com Skyla, mas o apego que a minha filha criou com Dabria é quase maternal, é diferente da ligação que ela tem com a loira. Skyla é aquela tia que Lynn brinca e pede presentes e que a convence a levá-la para passear quando não tem permissão ou está de castigo, mas Dabria é aquela que basta falar ou pedir uma única vez e Lynn obedece sem questionar. É aquela que a minha filha corre para abraçar mesmo tendo a visto uma hora atrás, é para quem pede para arrumar o seu cabelo e quando está com fome e ela está por perto, é para quem pede algo para comer. Descobri recentemente que quando Lynn tem pesadelos e não consegue dormir à noite, ela só se acalma quando fala com Dabria e a mesma canta uma música para dormir, mas comigo de volta à sua vida, Dabria precisa vir até a nossa casa e deitar com a minha filha na cama para que ela possa esquecer o pesadelo e agarrar no sono. Lynn se sente segura, amada e protegida por quem a criou e às vezes me recuso a olhar ao meu redor e perceber que até a minha posição de mãe eu acabei perdendo por todos esses anos em que estive presa.

Perdi Eva e por muito pouco quase perco a minha filha.

Posso ouvir os relinchos dos cavalos que correm pela fazenda, Lynn aponta para os cavalos admirada por ver os grandes animais dos quais cresceu familiarizada. Ela se inclina em meu colo quando Dabria passa por nós, estendendo os braços para a morena que dá risada e a pega do meu colo para ir com ela até as cercas observar os animais. De onde estou não consigo ouvir a conversa das duas, apenas ouvir as risadas de Lynn e os barulhos de beijos que Dabria deposita na cabeça da minha filha, vez ou outra apontando com o dedo para os cavalos tentando mostrar a minha filha algo do qual ela está perdendo, como o pequeno filhote atrás da mãe.

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