Jogo de poder.

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BESSIE

Da janela do quarto de hóspedes, observo momentaneamente a arrumação que começa a ganhar vida na parte de fora da casa. Lâmpadas pendentes foram colocadas em diversos pontos estratégicos pelo jardim, para criar um ambiente aconchegante. Pequenas mesas redondas estão dispostas harmonicamente pelo local, garantindo que os convidados fiquem à uma distância considerável uns dos outros, sem precisarem se esbarrar ou pedir licença para passar. A louça está sendo distribuída pelos funcionários nesse exato momento: três pratos de diferentes tamanhos ao centro, dois garfos e o guardanapo à esquerda, duas facas e uma colher à direita, talheres de sobremesa na parte de cima, na horizontal, e três taças de cristal na parte superior direita, uma para vinho tinto, uma para vinho branco e a outra para água. Sei disso tudo graças às inúmeras aulas de etiqueta que recebi desde que comecei a me relacionar com Lucca, alguns anos atrás, para me adequar ao seu padrão de vida.

Não gosto desses eventos. São sempre tediosos e desagradáveis, mas não posso ser ingrata de recusar um pedido especial de quem sempre me estendeu a mão. Alysson Devito gosta de oferecer jantares para seus inúmeros amigos, é o seu passatempo favorito desde que seu marido morreu e seu único filho se mudou para a cidade, deixando-a sozinha em sua casa na colina, mas hoje o centro das atenções sou eu. O jantar que Alysson está oferecendo é para mim, para me apresentar à sua classe social como sua futura nora, a mãe dos seus netos.

Meu estômago se embrulha só de pensar nessa possibilidade.

O gelo sobe por minha pele, fazendo eu me arrepiar dos pés à cabeça, e fecho as janelas do quarto, numa tentativa falha de bloquear o frio que toma conta do meu corpo.

Saio do quarto para pegar alguma coisa para comer na cozinha e desço a enorme escadaria em estilo vitoriano que me leva até a sala de estar. Alysson está sentada em seu confortável sofá, folheando uma revista qualquer, enquanto um de seus muitos empregados lhe serve uma xícara de chá. Faço menção de dar meia volta e voltar para o meu quarto, mas a mulher nota a minha presença antes que eu consiga escapar.

— Minha querida, que bom que você acordou! — diz com sua voz enérgica, deixando a revista de lado. — Venha, sente-se comigo e coma alguma coisa. Rápido, Peter, corra até a cozinha e busque um lanche reforçado para a minha nora querida.

O jovem rapaz assente e retira-se para o outro cômodo, provavelmente para atender ao pedido de sua patroa. Antes de sair, ele direciona um olhar nada discreto para o meu corpo, fazendo-me corar.

Nunca senti vergonha do meu corpo antes, tampouco me culpo por ser desejada pela maioria dos homens e algumas mulheres, mas agora me sinto constrangida por provocar isso em um dos empregados da família Devito. Não é justo com Lucca e nem com sua mãe, que sempre me acolheu de forma tão carinhosa.

— Acho melhor eu trocar de roupa primeiro, Sra. Devito — jogo os meus cabelos para a frente, para cobrir um pouco do decote em meus seios.

Estou usando apenas um short curto e uma blusa confortável, que eu coloquei para tirar um cochilo enquanto minha anfitriã estava cuidando dos últimos detalhes da festa.

Alysson faz um gesto negativo com a cabeça e balança as mãos elegantemente em minha direção, achando graça da minha falta de jeito.

— Querida, não se preocupe com isso, essa casa é tão sua quanto minha. Você tem todo o direito de se sentir à vontade aqui parar usar o que quiser sem ser censurada por isso — fala docemente e eu assinto. — E, por favor, pare de me chamar de senhora. Me sinto vinte anos mais velha quando você faz isso.

Sorrio para a mulher à minha frente.

— Desculpe-me, Alysson, é um pouco difícil para mim às vezes — falo sincera e ela assente. — Por que não me conta quem vem para esse jantar enquanto tomamos um chá da tarde juntas?

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