Reagan
Às vezes, a gente fecha os olhos e espera esquecer tudo, a gente pede e implora para que a realidade seja diferente. Eu desejo todas as manhãs esquecer a Bessie e tudo o que ela significa para mim, em turbilhões de emoções, eu me perco tentando encontrar um motivo para seguir adiante. Mas ela vem, me olha, me pede, me diz não, não só com a boca, mas com os olhos. E eu cedo, cedo porque não sei negar, não sei dizer não e ignorar o fato de que a amo. E eu tento seguir em frente, luto contra mim mesma, mas é uma batalha difícil de ser ganha.
Se passaram três dias desde a morte de James, é estranho e ainda tenho pesadelos todas as noites com o que aconteceu. Se eu fechar os olhos, consigo lembrar de cada detalhe, ainda posso sentir o seu sangue espirrar em meu rosto e o cheiro dele me remeter ao cheiro de ferro, era forte, tão forte que impregnou o local em poucos segundos. Passei horas debaixo do chuveiro para tirar o sangue do meu corpo, para apagar os rastros do que acontecera e que nunca mais iria sair da minha memória. Chorei a noite inteira na cama, mas não era só pelo que aconteceu na Lewis H. High School, a morte de James me abalou profundamente, mas tinha algo além disso. Eu também não conseguia aceitar o fato da minha mãe ter me abandonado por dinheiro.
— Reagan? — Danon grita meu nome.
Rapidamente termino de vestir a calça e calço o all star. Me olho no espelho, o reflexo mostra uma garota totalmente diferente da que morava em San Diego, não há mais nada dela em mim assim como não há mais nada da Reagan deixada pela Bessie. Minha mudança está evidente não só nas minhas roupas, como na minha personalidade. Sou outra pessoa ainda que continue a mesma.
O decote em V na minha blusa de manga longa é chamativo o suficiente para despertar o interesse de Erick. Não o vejo a menos de vinte e quatro horas e me sinto oca. Pego o celular para lhe mandar uma mensagem dizendo que estou com saudades e ele responde quase na mesma hora dizendo que estava pensando em mim.
— Já estou descendo! — grito de volta para o meu tio.
No espelho, dou uma última checada no meu look, dando uma voltinha em frente ao espelho para conferir se tudo está no seu devido lugar e retoco minha maquiagem: sombra nos olhos, lápis de olho, blush e batom vermelho. Não exagerei na maquiagem, mas estou me sentindo mais velha do que realmente sou e não é por ser o meu aniversário. Dezoito anos... é o meu primeiro aniversário longe da mamãe.
Saio do quarto terminando de ajeitar meu tênis, ora me apoiando na parede, ora descendo as escadas. Danon me espera na porta com um enorme sorriso no rosto. Está bonito, seus cabelos grisalhos estão jogados para o lado, o suéter marrom lhe dá uma aparência mais séria que o habitual e aperta seus braços de forma que deixa seus músculos evidentes na peça.
— Então hoje você deixa de ser a minha menina e passa a ser uma mulher? — pergunta triste.
Levanto a cabeça para olhá-lo sem deixar de abraça-lo.
— Sempre serei sua menina, Danon. — respondo e ele segura meu rosto com as duas mãos, beija minha testa e continuo: — Claro que com a diferença de que estou ficando um pouco mais velha hoje.
— Sei que aprendeu a dirigir a um tempo, mas toda vez que sai de carro fico preocupado — ele diz quando passamos pela porta, abro a porta do meu carro e entro no mesmo. Danon dá a volta para poder entrar. — Antes de girar a chave, deixa eu colocar o cinto de segurança só por precaução.
Ligo o carro e dou a partida, rindo da sua provocação sobre eu ser terrível no volante. A rua está tranquila, tirando alguns carros que passam com o som alto de músicas eletrônicas. Danon se distrai lendo o jornal da cidade que estava sobre o painel do automóvel e ligo o som do carro, deixando tocar baixinho a música que toca na rádio.
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Love Affair
Roman d'amourEla quase a atropelou. Se aquilo fosse o destino lhe dizendo que, para conhecer o amor da sua vida, Reagan Gray precisava ver a morte passar diante dos seus olhos, talvez ela já tivesse tentado fazer isso antes. Ela não era uma suicida e nem nada do...