Lewis H. High School

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Primeira página do diário de Kenna

Querido diário, tudo bem? Você não vai responder, é claro, porque é só um monte de páginas em branco, mas mamãe sempre me diz para ser educada com as pessoas. Você também não é uma pessoa? Eu sei, mas gente educada é assim mesmo, só é educada e ponto. Já que seremos amigos, deixe eu me apresentar para você, Sou Kenna, filha de Lucca Devito e Bessie Lotrov. Meus pais foram casados por muito pouco tempo e a minha mãe agora é casada com mamãe, Reagan Gray. Ela é a melhor mamãe do mundo, me dá lanches, me tira dos castigos que minha mãe coloca e não me dá bronca.

Você deve estar confuso, mas eu vou te explicar. A maioria das crianças tem um pai e uma mãe ou só um pai, ou só uma mãe, ou nenhum dos dois. E eu tenho sorte porque tenho duas mães e um pai. Vou ser mais clara com você, diário, para que não haja confusão no futuro: minhas mães são casadas e quando eu falar "mãe" vou estar me referindo a Bessie Lotrov, minha mãe biológica — eu não gosto muito dela, ela é muito séria comigo —, mas quando eu falar "mamãe" vou estar me referindo a Reagan Gray, a mulher que escolheu me amar por vontade própria. Surpreso? Eu também, imagina alguém escolher te amar quando nem a sua mãe biológica faz isso? Chocante né?

Preciso ir diário, minha mãe gritou meu nome, acho que ela vai me colocar de castigo porque eu coloquei chiclete na porta da geladeira.

Te vejo na próxima,

Kenna

Kenna voltou a escrever no seu diário dois meses depois

Querido diário, eu odeio a minha mãe biológica. A odeio com todas as minhas forças e acho que ela também me odeia porque não me toca e fica a tantos metros de distância de mim, como se não suportasse olhar para a minha cara. O que eu fiz para ela? Nasci? Você deve estar pensando "poxa, Kenna, não seja tão infantil. Sua mãe te ama, só não sabe demonstrar", mas eu posso te dizer, meu querido amigo, ela me odeia mesmo. Tenho que agradecer a mamãe Reagan por ter me dado você de presente de aniversário, pelo menos aqui posso expressar melhor os meus sentimentos sem que ninguém me julgue por odiar a minha mãe. Estou escrevendo isso porque estou com raiva — inclusive, já estou arrependida de ter dito que a odeio — porque ela me expulsou do escritório dela quando fui entregar uns biscoitos que ajudei mamãe a fazer.

"Você não deveria estar dormindo?" ela disse, tirando os olhos da papelada que estava lendo quando coloquei os biscoitos em cima da mesa. "Sua mãe está cozinhando uma hora dessas?"

Eram dez horas da noite e mamãe Reagan não cozinha — temos empregadas o suficiente para fazer isso por nós —, a não ser que esteja triste. Minha mãe ficou preocupada com isso e na mesma hora se levantou para ir até a cozinha. Ela nem tocou nos meus biscoitos. Parou na entrada do escritório, olhou para o prato e disse "Obrigada pelos biscoitos, Kenna."

Ia correr até ela e lhe dar um abraço, mas minha mãe segurou os meus ombros antes de que eu a tocasse, depois, como se despertasse do choque por ter tocado em mim depois de tanto tempo, ela levou as mãos a saia e as limpou. A última vez que minha mãe tinha me tocado foi quando eu caí propositalmente e ralei o joelho. Ela ficou desesperada, cuidou de mim e me levou para o hospital, era só um arranhãozinho, as enfermeiras acharam fofo a preocupação dela, mas eu dei uma bicuda na loira que estava olhando para minha mãe do mesmo jeito que mamãe olha para ela. Quando eu descobri que, se me machucasse, receberia o amor da minha mãe, comecei a me machucar propositalmente.

"Vá dormir, amanhã você vai para o colégio."

Eu sabia que ela não estava preocupada com isso, ou talvez até estivesse, porque sempre me dizia para focar nos estudos. Minha mãe só me queria longe e enquanto ela pudesse fazer isso, ela faria.

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